Investidor que lucrou com bolha de ações de Eike diz que venda na alta 'é natural'

Roberto Lombardi nega irregularidades e defende investigação da CVM sobre movimentações atípicas

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Rio de Janeiro

Um dos investidores que venderam ações durante a bolha das empresas de Eike Batista, Roberto Lombardi de Barros diz que a decisão de se desfazer de suas ações em um momento de alta é natural para investidores de risco e que não houve irregularidade em suas operações.

Em entrevista à Folha, ele defendeu que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) investigue a valorização atípica das ações durante o mês de outubro. "Não acredito que possa ter sido só um efeito manada", afirmou.

A bolha envolveu ações da MMX e da OSX, duas das três empresas que permanecem sob o controle de Eike. Cotadas a menos de R$ 2 no início do mês, as ações da MMX chegaram a bater R$ 36 no dia 13 de outubro e fecharam o último pregão daquele mês a R$ 11,43.

A OSX foi levada junto, passando da casa dos R$ 4,60 no início do mês para um pico de R$ 21 também no dia 13. Na sexta-feira (30), os papéis da companhia fecharam o pregão cotados a R$ 12,10. O aumento das negociações gerou reclamação da Abradin (Associação Brasileira de Investidores) e abertura de processo na CVM.

Lombardi se desfez de 114 mil ações da empresa de construção naval OSX em meio à explosão nas cotações. Depois, com os preços mais baixos, comprou 264 mil ações da mesma empresa. As duas operações foram informadas pela empresa à CVM, por representarem fatias relevantes do capital.

Ele diz que aproveitou a alta para se desfazer dos papéis, em um movimento natural para investidores em Bolsa. "Comecei a vender no segundo ou terceiro dia de alta, era uma oportunidade de diminuir um pouco a posição. E acabei vendendo praticamente tudo", afirma.

O investidor afirma que não se beneficiou de nenhuma prática não equitativa, como uso de informação privilegiada. "Sou totalmente contra qualquer formação artificial de preços, informação privilegiada. Isso é crime", afirma.

A opção por ações do grupo X, diz, é parte de estratégia de apostar em papéis depreciados para lucrar em eventuais altas. "É normal uma pessoa com meu perfil operacional ter ações mais conservadoras e ao mesmo tempo direcionar parte do patrimônio em ações de muito maior risco."

Lombardi conta que comprou ações de todas as empresas após a derrocada, na esperança de que alguma se recuperasse e lhe desse lucro. Ganhou algum dinheiro com a ex-MPX, que virou Eneva, um dos projetos mais bem sucedidos de Eike, e com a LLX, que virou Prumo, dona do Porto do Açu.

Chegou a fazer parte de um grupo de investidores que questionou o fechamento de capital da Prumo, acusando a empresa de oferecer preços incompatíveis pelas ações dos minoritários.

​Ele afirmou não saber explicar o que provocou a alta das ações em outubro, mas avalia que o aumento expressivo nas negociações indica alguma irregularidade e tem que ser investigado pela CVM. A OSX, por exemplo, começou o mês movimentando cerca de R$ 3.000 por dia. No dia 14, foram R$ 33,4 milhões. ​

Procurada pela CVM na época, a empresa disse não ver razão para a alta atípica. Já a MMX havia divulgado fato relevante sobre a tentativa de retomar uma mina em Cuiabá poucos dias antes do início da bolha. Segundo a empresa, o projeto poderia viabilizar sua recuperação.

Ainda assim, o mercado não vê motivos para a corrida pelos papéis. A adesão de pequenos investidores empolgados com uma eventual volta de Eike aos negócios também não explicaria a valorização, diante dos grandes volumes movimentados.

Eike já foi condenado tanto pela CVM e quanto pela Justiça por manipulação de mercado. Ele também foi condenado por pagamento de propina ao governo Sérgio Cabral, no Rio e, na semana passada, teve acordo de delação premiada homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

O presidente da Abradin, Aurélio Valporto, diz acreditar em práticas não equitativas que lesaram pequenos investidores durante a bolha de outubro. "Esse golpe mina, mais uma vez, a credibilidade do mercado e custará muito mais para a economia do que o prejuízo de todos os investidores", disse à Folha.

A CVM diz que não comenta casos específicos e que “acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo o mercado de valores mobiliários, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário”. Questionada sobre as apurações das ações das empresas X, apenas confirmou a abertura do processo. ​

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