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Efeito PlayStation desafia montadoras com falta de chips

Demanda por games na pandemia absorve oferta de semicondutores e afeta indústria automotiva, que agora pensa em formar estoque

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Financial Times

As montadoras de carros alemãs estão pensando em formar estoques de semicondutores para evitar uma repetição das faltas de chips que causaram a paralisação das linhas de montagem de centenas de milhares de veículos em todo o mundo.

A medida poderá provocar uma reformulação da cadeia de suprimentos “just-in-time” da indústria, finamente sintonizada, que é usada há décadas e conta com entregas diárias para preservar o caixa. O sistema também permite guerras de ofertas de última hora entre fabricantes de peças.

Os dirigentes da Daimler, fabricante da Mercedes-Benz, e da Porsche, fabricante dos Volkswagen, disseram ao Financial Times que suas empresas estão avaliando mudanças para evitar novos gargalos.
“Temos de pensar em aumentar os estoques”, disse Oliver Blume, da Porsche. “Mas estoque custa caro, por isso é nossa última opção.”

Ola Källenius, da Daimler, disse: “Se fizer sentido no futuro entrarmos em níveis maiores de estoque de segurança, é algo que poderemos avaliar”.

Ele acrescentou que a companhia se beneficiaria de um “sistema melhor de aviso antecipado” de problemas mais à frente em sua cadeia.

A crise foi provocada pela súbita retomada das vendas globais de carros perto do fim do ano, o que levou a uma insuficiência de componentes cruciais.

Os fabricantes de chips, que já enfrentavam demandas crescentes graças ao boom conduzido pelo lockdown em consoles de jogos (o lançamento do PlayStation 5 e do Xbox Series X acentuou a alta na procura), laptops e televisores, precisam de um prazo antecipado de vários meses para aumentar a produção.

Ford estima redução da produção no primeiro trimestre devido o corte gerado pela falta de semicondutores - Rebecca Cook - 17.set.20 / Reuters


Nas últimas semanas, montadoras como Volks, GM, Nissan e Honda foram obrigadas a parar as fábricas ou desacelerar a produção enquanto fabricantes de peças se esforçavam para garantir suprimentos terceirizados.

A Ford estimou que poderá perder até um quinto da produção no primeiro trimestre, pois foi obrigada a cortar a produção de sua caminhonete mais vendida, a F-150.A Subaru também cortou suas vendas de veículos em 4,7% para o ano fiscal que termina em março, dizendo que a falta de chips a obrigará a produzir 48 mil veículos a menos no Japão e nos EUA.

Mais de 670 mil carros deixarão de ser produzidos no primeiro trimestre em consequência da escassez, segundo pesquisa do provedor de dados IHS Markit.A indústria está preparada para semanas de disrupções enquanto os fornecedores correm para preencher a lacuna.Källenius, da Daimler, disse que os gargalos foram “basicamente um problema do primeiro trimestre”, mas relatórios da IHS sugerem que as restrições de suprimentos durarão até o segundo semestre.

A IHS descobriu que as carências afetam principalmente as entregas de microcontroladores, chips minúsculos usados para tudo nos carros modernos, de sensores de estacionamento a airbags e sistemas de entretenimento.Cerca de 70% deles são feitos por uma única companhia —a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC).

No mês passado, o ministro da Economia da Alemanha, Peter Altmaier, escreveu para sua homóloga taiwanesa, Wang Mei-hua, pedindo que ela interviesse em nome dos fabricantes de carros.
Outros países, incluindo o Japão e os EUA, também fizeram lobby em Taipé para ajudar a reduzir a carência. Autoridades e executivos desses países discutiram a questão em uma mesa-redonda bilateral sobre cadeias de suprimentos na sexta-feira (5).

Altmaier também prometeu investir mais em fabricantes de chips nacionais para evitar novas crises.
No entanto, Reinhard Ploss, presidente-executivo da alemã Infineon, uma das maiores fabricantes de semicondutores do mundo, disse que, embora a indústria “precise repensar” as cadeias de suprimentos de automóveis, há um limite ao tempo que os chips podem ficar armazenados em um estoque.

Os semicondutores “têm data de validade, e em certo ponto não podemos continuar a usá-los por considerações de qualidade”, disse Ploss.

O presidente-executivo da Volvo Cars, Hakan Samuelsson, disse na quinta (4) que o grupo sueco garantiu o suprimento de chips para as próximas quatro semanas, mas que é “muito difícil” prever o que acontecerá depois, porque eles estão enterrados na cadeia de suprimentos.

Ele afirmou que o grupo, que até agora evitou a escassez, não pretendia mudar o modo como terceiriza semicondutores, apesar de contar com um único fornecedor.

“Ter fornecedores duplos pode não ser a estratégia certa, talvez seja melhor ter um bom fornecedor do que três não tão bons”, disse Samuelsson.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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