Descrição de chapéu indústria

'Efeito sanfona' na pandemia frustra planejamento das empresas na retomada

Após mergulho com Covid-19, atividade volta a nível pré-crise, mas dados preliminares já mostram nova retração

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São Paulo

Os resultados dos setores de comércio e serviços em janeiro e fevereiro completaram um ano de pandemia na economia surpreendendo positivamente a maior parte dos economistas. As expectativas para os meses seguintes, no entanto, são de nova piora, reflexo do agravamento da crise sanitária, provocando um "efeito-sanfona" capaz de frear a retomada.

Essa dinâmica de retomada econômica seguida por novos períodos de fechamento e queda na atividade tem dificultado o planejamento das empresas, que operam em compasso de espera.

Dado o nível atual de incertezas, as projeções do mercado para o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre têm variado entre uma queda de 0,5% e um crescimento da mesma magnitude.

Nesta quinta (15), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que o setor de serviços cresceu 3,7% em fevereiro, mais que o dobro do projetado pelo mercado. Com isso, o setor voltou ao nível pré-crise, que já havia sido alcançado pelo comércio e pela indústria em setembro do ano passado.

A recuperação, no entanto, é desigual, e já se espera nova retração. A projeção da XP, por exemplo, é de queda de 4,2% no resultado dos serviços em março.

Rodolfo Margato, economista da XP, afirma que enquanto os serviços prestados às empresas estão se recuperando em ritmo moderado, aqueles prestados às famílias continuam a sofrer com medidas de isolamento social, inflação e menor renda disponível.

Para ele, esses segmentos devem se recuperar de forma consistente apenas após avanços adicionais na campanha de imunização contra a Covid-19.

Tantas incertezas tornam inviáveis planos de médio a longo prazo, segundo economista Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP. As dificuldades, que já existiam no ano passado, estão mais graves neste ano.

“Previsibilidade é algo que daria um norte aos empresários, mas agora você tem que considerar vacinação, câmbio, questões políticas, Orçamento da União e se vai ou não romper o teto de gastos”, afirma.

Nos restaurantes, o vaivém de restrições aumenta os riscos para a formação de estoques e a programação de compras, diz o economista.

Para Dietze, da FecomercioSP, os resultados positivos apurados pelo IBGE em fevereiro levaram a uma sensação equivocada de que o pior já passou para os setores de comércio e serviços.

A equipe da Genial Investimentos, do economista José Márcio Camargo, afirma que praticamente todos os indicares antecedentes de março mostram redução na atividade do setor de serviços, devido ao agravamento da pandemia, como já apontam dados sobre voos domésticos e as sondagens do setor realizadas pela FGV (Fundação Getulio Vargas).

Indicador antecedente da instituição também mostra recuo da atividade em março, mês em que houve fechamento de estabelecimentos comerciais em várias cidades do país. Dados de cartão da Getnet, por exemplo, apontaram queda nas vendas em março, de 3,4% no varejo ampliado e de 4,6% no restrito. Em serviços, o declínio foi de 32,3%.

A falta de previsibilidade também prejudica a indústria, único setor que fechou o bimestre com ligeira queda. O presidente do Simpi (Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias), Joseph Couri, afirma que fazer qualquer planejamento está impossível.

“Ninguém sabe até quando a pandemia vai, se a vacinação vai crescer, se vai dar conta das variantes”, diz.

Além disso, o dirigente vê com preocupação a quebra das cadeias de insumos e um volume grande de falências.

Segundo pesquisa Datafolha encomendada pelo sindicato, 44% das micro e pequenas indústrias de São Paulo relataram ter perdido fornecedores durante a pandemia por falência ou recuperação judicial. Outros 60% disseram ter pedido clientes pelo mesmo motivo.

Em fevereiro, o IBGE registrou retração na atividade industrial em 10 dos 15 locais pesquisados. O resultado negativo foi puxado por São Paulo. O presidente do Simpi diz que, desde então, a situação piorou.

As expectativas dos empresários em relação aos próximos meses também caíram em março. De 46% que esperavam melhora em fevereiro, o percentual ficou em 23% no mês seguinte. Quase a metade dos entrevistados (47%) avalia que a situação econômica ainda vai piorar, enquanto para outros 74% o ritmo de vacinação ainda é muito lento.

O próprio governo afirma que a recuperação iniciada no ano passado foi interrompida, como mostram dados preliminares de consumo e produção, mas avalia que o impacto econômico em 2021 será menor que o verificado nesse mesmo período do ano passado, quando a pandemia chegou ao país.

Nesta quinta (15), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mostrou dados sobre queda no consumo de energia, nos licenciamentos de veículos, nas vendas no cartão de débito e na confiança de empresários e consumidores, destacando que o impacto da nova onda da Covid-19 na economia é menor do que o verificado em março e abril do ano passado.

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