Descrição de chapéu Financial Times

Escassez de motoristas nos EUA faz Uber e Lyft oferecer milhões em estímulo

Aplicativos de viagens compartilhadas usam bônus e pagamentos extras para atender à recuperação da demanda

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Dave Lee
São Franscisco | Financial Times

Amber, que vive em Erie, na Pensilvânia, e está "geralmente adiantada" para compromissos, se deu uma hora para percorrer 8 quilômetros até o local onde tomaria a vacina contra Covid-19, com hora marcada.
"O que eu não previ", disse ela mais tarde, "foi a total falta de motoristas, tanto na Uber como na Lyft. Tentei durante uma hora inteira, sem sorte."

Tais experiências se tornaram comuns nos Estados Unidos, admitem as empresas de transporte por aplicativo, criando um problema importante enquanto ambas tentam armar uma recuperação pós-pandemia.

Os motoristas estão demorando para retornar às plataformas por vários motivos, segundo observadores, incluindo a chegada recente da ajuda em dinheiro do governo e preocupações constantes sobre saúde e segurança. Muitos ex-motoristas de aplicativo também devem ter arranjado novos empregos nos 12 meses desde que a demanda despencou por causa dos lockdowns.

Escritório da Uber em Queens, Nova York - Brendan McDermid - 2.fev.2017/Reuters/File Photo

Agora, diante da falta de oferta para suprir a volta dos passageiros, as companhias estão recorrendo a "jogar dinheiro" nos motoristas. A Uber anunciou na quarta-feira (7) que gastará US$ 250 milhões no que descreveu como um pacote de "estímulo" único para aumentar os incentivos para seus motoristas nos Estados Unidos.

Enquanto isso, a Lyft vem cobrindo os custos de aluguéis de carros, oferecendo bônus de até US$ 800 para ex-motoristas voltarem ao app e dando um pagamento extra quando a corrida para apanhar um passageiro leva mais de 9 minutos.

"Isso realmente me lembrou dos primeiros tempos da Uber e da Lyft, quando elas jogavam dinheiro para todo lado", disse Harry Campbell, diretor do blog Rideshare Guy, para trabalhadores na economia gig (tendência na economia que trabalha com modelos flexíveis de trabalho), dizendo que os bônus estão em níveis que não eram vistos "há anos".

Segundo dados da Apptopia, o número de motoristas baseados nos EUA que se conectaram ao Uber diariamente no primeiro trimestre deste ano foi cerca de 40% menor que os do mesmo período de 2020, com a Lyft sofrendo dificuldades semelhantes.

Os problemas ocorrem quando os gastos começam a voltar, tendo despencado há pouco mais de um ano com a chegada do coronavírus. Pesquisadores da Edison Trends comentaram: "Na semana de 29 de março de 2021, a Uber tinha recuperado 53% do terreno perdido na grande queda da primavera de 2020. A Lyft tinha recuperado 51%".

O desequilíbrio fez os usuários, acostumados a ver os carros chegarem em poucos minutos, terem de aguentar esperas muito maiores. A escassez grave foi relatada em Las Vegas, Cleveland, Boston, Chicago, Kansas City e muitos outros lugares. Um cliente em Minneapolis se perguntou se os motoristas estariam em greve. Outros notaram que as tarifas aumentaram significativamente com a maior procura.

O problema para a Uber é especialmente agudo na Califórnia. Modificações recentes no aplicativo —uma das quais dá ao motorista informações antecipadas sobre a corrida— resultaram em um terço dos motoristas recusarem mais de 80% das viagens oferecidas. A Uber disse que o excesso de exigências tornou o serviço "inconfiável", especialmente em aeroportos, e em breve será modificado. A empresa não quis dar detalhes sobre como isso será feito.

Uber e Lyft haviam advertido os investidores antecipadamente que colocar os motoristas na linha com rapidez seria um desafio e, consequentemente, um fator contra as receitas. Em fevereiro, o executivo-chefe da Lyft, Logan Green, comparou o trabalho de reengajar os motoristas com "dar meia volta no Titanic". O executivo-chefe da Uber, Dara Khosrowshahi, descreveu a oferta como o que mais o preocupava no início de 2021.

Campbell acrescentou que embora fosse simples para os motoristas abrirem o app e retomarem de onde pararam, um ano fora das ruas para eles significava documentos vencidos e verificações de ficha corrida a renovar. "Há vários obstáculos para se retornar à plataforma", disse ele.

Alguns motoristas, comentou o analista Brent Hill, da Jefferies, teriam mudado para outros empregos na economia gig, como entrega de refeições e compras de supermercado.

"Você preferiria estar transportando coisas ou pessoas neste momento?", disse ele. "Acho que eu preferiria levar coisas. É um desequilíbrio de curto prazo —no longo, vamos recuperar. Não acredito que isso mudará significativamente a trajetória [de rentabilidade]."

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

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