Marfrig está no limite para acionar pílulas de veneno na BRF

Frigorífico de Marcos Molina atingiu 31,66% de participação; mecanismo que exige oferta pública para tomar o controle é acionado com 33,33%

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São Paulo

Em fato relevante divulgado nesta quinta-feira (3), a processadora de carnes Marfrig anunciou que passou a deter 31,66% do capital da empresa de alimentos BRF –cujas ações registraram forte volatilidade nos dois últimos pregões da B3 e entraram em leilão, na terça e quarta-feira.

Trata-se do segundo grande movimento da Marfrig sobre a BRF em duas semanas: no último dia 21, a processadora de carnes do empresário Marcos Molina já tinha comprado 24,23% de ações da companhia, por US$ 830 milhões (R$ 4,24 bilhões).

Segundo a Marfrig, as 257.267.671 ações que passou a deter na BRF foram adquiridas diretamente no mercado, em leilão em Bolsa e via opções.

Retrato de Marcos Molina
Retrato de Marcos Molina, presidente da Marfrig Global Food; frigorífico atingiu 31,66% de participação na BRF - Adriano Vizoni/Folhapress

Com a nova investida, Molina fica no limite para acionar na BRF as chamadas “pílulas de veneno” (poison pill) –um mecanismo que o obriga a fazer uma oferta pública para a aquisição da totalidade das ações da companhia e passa a valer caso chegue a 33,33% de participação.

No mercado financeiro, as “pílulas de veneno” são medidas defensivas tomadas por empresas de capital aberto para impedir que um acionista se torne majoritário da noite para o dia. Com uma oferta hostil, o novo controlador poderia tomar decisões que prejudiquem os demais acionistas.

“Para os acionistas da BRF, que se posiciona como indústria de alimentos, pode ser incômodo receber uma oferta de uma indústria de commodities”, diz o analista da XP Investimentos, Leonardo Alencar. “Aí é o momento de deixar o papel”.

No documento divulgado hoje, a Marfrig assegura que a aquisição visa “diversificar os investimentos em segmento que possui complementaridades com seu setor de atuação”. A empresa destaca que não tem o objetivo de interferir na administração da BRF, com a eleição de membros para o conselho de administração, por exemplo, e que não há acordos com a companhia “que regulem o exercício de direito de voto”.

O mercado vê com bons olhos uma eventual aquisição da BRF pela Marfrig, justamente pela complementaridade de portfólios: a Marfrig com foco em bovinos e no mercado internacional, enquanto BRF é forte em frangos e suínos no mercado brasileiro.

"A Marfrig é uma empresa de dono e isso passou a ser bem visto pelo mercado, porque o dono se dedica à perenidade da companhia", lembra Alencar. Por outro lado, um possível casamento entre culturas tão diferentes gera dúvidas.

No pregão de ontem, o papel BRFS3 avançou 4,11%, para R$ 29,38. As ações da Marfrig (MRFG3) encerraram a R$ 18,96, com alta de 2,6%. A recomendação da XP é de compra para os dois papéis: preço-alvo de R$ 24 por ação para Marfrig, e de R$ 30 por ação da BRF.

Para Alencar, a empresa de Molina está em um excelente momento para compras. "Os subsídios que o governo americano tem concedido para a população favoreceu a demanda por carne bovina nos Estados Unidos, forte mercado da Marfrig, que deve encerrar este segundo trimestre com US$ 400 milhões em caixa", diz.

Segundo o analista da XP, a Marfrig já avisou que, com dois trimestres de caixa, poderia pagar os 24% já comprados da BRF.

Na terça, a Marfrig solicitou formalmente ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a aprovação da compra de 24% das ações da BRF, segundo a Reuters. O pedido teria sido realizado em 28 de maio e poderá ser processado em até 30 dias, em um procedimento chamado de "fast-track".

União pode dar origem a uma gigante alimentícia global

A Marfrig está 100% focada em carne bovina, enquanto a BRF trabalha apenas com carne de frango (entre 70% e 80% da receita) e carne suína (entre 20% e 30%).

De acordo com a XP, uma eventual união entre as duas empresas geraria pouca sobreposição geográfica, uma vez que as operações da Marfrig são divididas entre América do Norte (80% da receita) e América do Sul (20%), enquanto a BRF está mais focada no Brasil (82% da receita, excluindo a operação Halal DDP, voltada ao Oriente Médio).

“A BRF é uma das maiores empresas de alimentos do mundo e é a exportadora número 1 de carne de frango do Brasil”, diz a XP, em relatório. A companhia soma mais de 30 marcas em seu portfólio, incluindo as líderes de categoria Sadia e Perdigão.

Já a Marfrig é uma das maiores produtoras de proteína do mundo, com foco em carne bovina –a empresa também conta com uma linha de proteína vegetal, a PlantPlus, desenvolvida por meio de uma joint-venture com a ADM.

Com operações nos Estados Unidos, Brasil, Uruguai e Argentina, a Marfrig tem 70% da sua receita com origem na América do Norte. Os demais 30% vêm da América do Sul –mas, deste total, 60% vêm de exportações, ou seja, quase a totalidade das receitas da empresa são em dólar. No Brasil, tem entre suas principais marcas a Montana e a Bassi e, nos Estados Unidos, a National Beef e a Black Canyon.​

(Com Reuters)

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