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Governo Bolsonaro passa pela maldição do terceiro ano de mandato

Se consideramos o hiato do PIB e do desemprego e a inflação, podemos dizer que país enfrenta estagflação

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Sergio Vale

Mestre em economia pela Universidade de Wisconsin (EUA) e economista-chefe da MB Associados

O governo Bolsonaro vai passando pela maldição do terceiro ano de mandato. Outros presidentes anteriormente passaram por conjunturas críticas muito adversas em seus terceiros anos –alguns afundaram, outros conseguiram fazer a coordenação política necessária para a travessia.

Collor e Dilma afundaram em seus terceiros anos. O primeiro definitivamente em 1992 com o impeachment e a segunda com as manifestações de 2013 que, mal respondidas, deram o start para o que aconteceu em 2016. FHC e Lula também tiveram seus anos malditos, mas conseguiram arregimentar forças políticas para equilibrar o jogo e fazer uma transição pacífica.

FHC enfrentou a crise asiática em 1997, mas conseguiu evitar um desastre pior e ainda foi reeleito. Não teve tanta sorte em seu terceiro ano com o apagão de 2001, que ajudou na derrota de Serra no ano seguinte. Lula teve seu momento maldito no mensalão de 2005, mas que conseguiu passar e ser reeleito no ano seguinte. Em 2009 foi o ano do rescaldo da crise do final de 2008, que dada a nossa situação ainda positiva, conseguiu ajudar o presidente a eleger Dilma em 2010.

Qual Bolsonaro teremos agora? O que vai fazer a necessária coordenação política e liderar a saída da crise ou alguém que afundará ainda mais em seu próprio colapso, não necessariamente levando a impeachment agora, mas a um fim político como teve Collor e Dilma?

É no meio desse imbróglio político que precisamos ver o PIB à frente. Um presidente que não consegue arregimentar as forças políticas necessárias para governar, verá seu governo diminuir dia após dia. A saída anticonstitucional que Bolsonaro sugere muitas vezes só piora a solução. A queda de Dilma e Collor deu espaço para transições pacíficas (no caso de Collor foi a base do Real com Itamar e FHC), mas Bolsonaro resiste a qualquer temperança.

Veremos, com isso, um 2022 extremante difícil, pois a eleição está muito distante e as soluções que precisam ser dadas não ocorrerão. Investir em um cenário como esse se torna proibitivo. Há muita instabilidade nos números macro futuros para as empresas pensarem em fazer grandes investimentos agora.

Continuará sendo verdade que setores importantes ainda manterão algum ritmo de expansão, especialmente commodities, que deverá ser responsável pelo único aumento relevante do lado da demanda em 2022, as exportações. Mas a economia tradicional que não tem essa válvula de escape externa está à mercê de uma solução doméstica que não virá.

Por ora, isso significa dizer crescimento na casa de 1,5%, mas com chance crescente de ser menos do que isso. Ao mesmo tempo, a sensação de estagflação já está presente. Se consideramos o hiato do PIB e do desemprego e o tamanho de inflação que temos agora já poderíamos dizer que o Brasil já enfrenta sua estagflação. Com o PIB 1,6% abaixo do potencial, desemprego 3 pontos percentuais acima também do potencial e inflação pelo IPCA caminhando para 10% nos próximos meses (fechando em 8,3% em 2021), temos o cenário já construído de uma economia estagnada e inflacionária.

Caberá quase de forma solitária ao Banco Central lidar com isso. Mas se em 2016 havia o cenário de uma saída política rápida, hoje isso não existe e colocará muita pressão em cima do banco para que ele evite que as expectativas de inflação em 2022 aumentem ainda mais. Elas já estão subindo e, no nosso caso, já esperamos 4,7% de IPCA ano que vem, para uma meta de 3,5%.

O que se espera de Brasília nesse momento mais do que tudo é responsabilidade com um país que enfrenta uma década perdida na economia. Menos do que isso é esperar pela piora do que já estamos passando.

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