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Facebook quer priorizar usuários jovens no lugar de mais velhos

Sob pressão, Zuckerberg disse que estratégia da empresa vai mudar

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Hannah Murphy
São Francisco (Califórnia) | Financial Times

Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, disse que a empresa agora priorizará usuários mais jovens, em detrimento dos mais velhos, depois que documentos vazados para as autoridades e a imprensa revelaram que a rede de mídia social estava perdendo popularidade entre as pessoas de menos de 30 anos.

Zuckerberg disse em uma conversa com analistas sobre os resultados da empresa, na segunda-feira (25), que ela "reequiparia" suas equipes e "faria dos serviços aos jovens adultos a nossa estrela-guia, em lugar de nos otimizarmos para atender a um número maior de pessoas mais velhas".

O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, durante audiência no Congresso americano, em junho - Mandel Ngan/AFP

Isso envolverá perdas, ele disse, e essas perdas acontecerão do lado dos usuários mais velhos, cujo número provavelmente "vai crescer mais devagar do que seria o caso de outra forma". Ele acrescentou que a execução da reforma levaria "anos".

A mudança surge em um momento no qual o Facebook está batalhando uma torrente de cobertura negativa na imprensa, depois que numerosos veículos noticiosos, entre os quais o Financial Times, obtiveram milhares de páginas de documentos vazados da empresa que revelam por dentro a maneira pela qual ela funciona, os chamados Facebook Papers.

Entre esses documentos, há múltiplos memorandos que mostram os anos de esforço da empresa para manter sua força junto aos usuários mais jovens, mais recentemente diante da competição feroz de rivais mais novos na mídia social, entre os quais o TikTok, da Bytedance, e o Snapchat.

De acordo com um documento datado de março e revelado inicialmente pelo jornal The Wall Street Journal, o número diário de usuários do Facebook nos Estados Unidos na faixa etária dos adolescentes e jovens adultos –pessoas dos 18 aos 29 anos– está em queda, e as projeções são de que caia em 4% e 45%, respectivamente, nos dois próximos anos.

Outro estudo interno conduzido no ano passado constatou que as pessoas jovens consideram a rede social como "antiquada" e "entediante". O Instagram, adquirido pelo Facebook em 2012, também experimentou declínios no número de postagens e consumo de conteúdo por usuários jovens.

Zuckerberg reconheceu que a concorrência estava se tornando "mais intensa", mencionando tanto o serviço iMessage da Apple quanto o TikTok. Ele acrescentou que a companhia "faria mudanças significativas no ano que vem" para se concentrar no desenvolvimento do Reels, sua versão clonada do formato de vídeos curtos popularizada pelo TikTok, e daria a ela uma posição mais central na experiência de produto do Facebook.

"De vez em quando, surge um formato que permite novos tipos de conteúdo", ele disse, mencionando o "news feed" e o Stories, um recurso do Facebook que permite postagens efêmeras. "Com base em tudo que já vi, o Reels tem o potencial de ser alguma coisa nessa escala".

Zuckerberg falou logo depois que o Facebook anunciou crescimento de 35% em sua receita no terceiro trimestre, para US$ 29,01 bilhões, pouco abaixo da expectativa de consenso do mercado, que era de US$ 29,5 bilhões.

O número mensal de usuários ativos cresceu em 6% ante o período no ano passado e atingiu a marca de 2,91 bilhões, pouco abaixo da estimativa de consenso de 2,98 bilhões, de acordo com a S&P Capital IQ.

O Facebook também previu que sua receita no quarto trimestre ficaria entre US$ 31,5 bilhões e US$ 34 bilhões, mencionando o "efeito adverso continuado" da exigência da Apple de que apps obtenham permissão explícita a fim de rastrear usuários para fins de direcionamento publicitário. Os analistas haviam previsto uma alta para US$ 34,8 bilhões.

A notícia pouco fez para afetar o preço das ações do Facebook, que registraram alta de 1,3% em transações posteriores ao fechamento do mercado. Isso representa um forte contraste com a Snap, que sofreu queda de 25% em seu valor de mercado na semana passada por não ter cumprido suas projeções de lucros, atribuindo a culpa às mudanças adotadas pela Apple para proteger a privacidade dos usuários.

Zuckerberg adotou um tom desafiador na conversa com os analistas, rebatendo as afirmações que surgiram com base nos documentos vazados por Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook que denuncia a empresa por ter suspostamente fracassado em impedir a difusão de desinformação e de retórica agressiva em sua plataforma, optando por priorizar o lucro em lugar da segurança.

Zuckerberg, um dos fundadores do Facebook, disse que a cobertura recente da imprensa lidava com questões que "não se referem diretamente aos nossos negócios, mas a como balancear diferentes valores sociais difíceis".

Ele acrescentou que "em minha opinião estamos vendo um esforço coordenado para usar os documentos vazados de forma seletiva e pintar um retrato falso de nossa empresa. A realidade é que temos uma cultura aberta, e encorajamos a discussão e a pesquisa".

A companhia anunciou que, a partir do quarto trimestre, planeja anunciar em separado os resultados de sua unidade Facebook Reality Labs, responsável pelos produtos de realidade virtual e realidade aumentada da empresa, e acrescentou que seus recentes esforços de investimento no Facebook Reality Labs devem reduzir em US$ 10 bilhões o lucro operacional da companhia em 2021.

A decisão surge depois que a empresa anunciou, no começo do mês, que planejava criar 10 mil empregos na Europa como parte de sua visão de construir um mundo virtual povoado por avatares digitais e conhecido como "metaverso".

Zuckerberg disse em sua conversa com os analistas que a empresa esperava que o "metaverso" viesse a englobar 1 bilhão de usuários, "e centenas de bilhões de dólares em comércio digital a cada dia".

No entanto, ele fez a ressalva de que "esse não é um investimento que propiciará lucros para nós no futuro próximo. Mas basicamente acreditamos que o ‘metaverso’ será o sucessor da internet móvel".

O Facebook também anunciou que elevaria em US$ 50 bilhões a verba destinada ao seu programa de recompra de ações.

Tradução de Paulo Migliacci

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