Descrição de chapéu COP26 mudança climática

É hora de cumprir os compromissos assumidos pelo país na COP26

O mais desafiador e urgente é o combate ao desmatamento ilegal

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Paulo Hartung

Economista, presidente-executivo da Ibá, ex-governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010/2015-2018)

José Carlos da Fonseca Jr.

Embaixador e possui assento nos comitês diretores do The Forests Dialogue (TFD) e do Advisory Committee on Sustainable Forest-based Industries (ACSFI), da FAO

A mensagem foi clara: é preciso agir agora. Uma verdadeira marcha rumo à COP26 reuniu mais de 30 mil pessoas de todo o mundo na que terá sido a mais importante de todas as Conferências do Clima.

Os milhares de vozes reforçaram o tom de urgência e impulsionaram as negociações que deram passos importantes. O mais emblemático foi a aprovação do Artigo 6 do Acordo de Paris, que estabelece um mercado global de créditos de carbono.

Trecho desmatado da Amazônia perto de Porto Velho, em Rondônia
Trecho desmatado da Amazônia perto de Porto Velho, em Rondônia - Ueslei Marcelino - 14.ago.2020/Reuters

Agora, a tarefa é regulamentar o que foi pactuado. Já o caminhar do financiamento climático a países em desenvolvimento não se mostrou tão firme quanto era esperado. Este tema merece especial atenção, uma vez que os vulneráveis são os mais prejudicados com os impactos da emergência climática.

Fato é que acordo perfeito não existe quando estão envolvidos 200 países em assembleia. Contudo, houve inegáveis avanços, especialmente se comparado à frustração ao final da COP de Madri. Aquele sentimento, aliado à atitude mais defensiva na questão ambiental que o Brasil vinha adotando nos últimos anos, contribuiu para impulsionar a maior mobilização nacional para uma Conferência do Clima.

Academia, ONGs, indígenas e jovens, parlamentares e lideranças subnacionais, iniciativa privada, entre outros, representaram bem a sociedade civil em Glasgow, demonstrando que os brasileiros estão alinhados aos anseios globais. Com certeza isso influenciou positivamente o governo e os negociadores presentes na cidade escocesa.

Há que reconhecer que os primeiros lances do Brasil na COP26, onde chegava com risco de isolamento diplomático, controlaram danos e evitaram que trouxesse na bagagem de retorno uma imagem ainda mais arranhada.

A adesão ao Acordo das Florestas e Uso de Solo e à iniciativa sobre emissões de gás metano, somada à revisão da NDC, com anúncio de neutralidade de carbono até 2050 e fim do desmatamento ilegal até 2028, sinalizou processo de realinhamento com uma atitude mais construtiva em debates sobre o meio ambiente.

O mundo está de olho no Brasil, e vamos precisar cumprir os compromissos anunciados. O mais desafiador e urgente, sem sombra de dúvidas, é o combate ao desmatamento ilegal.

Essa criminalidade impacta a natureza e as condições para sobrevivência humana, afetando disponibilidade de água, produção de alimentos, absorção de CO₂ e geração de energia, por exemplo. Além disso, agrava internacionalmente a nossa já machucada reputação ambiental.

Este descontrole não gera PIB e é uma agenda absolutamente negativa para o povo brasileiro.

Não precisamos reinventar a roda. O Brasil, desde a Rio-92, mostrou ser possível superar o desafio do desmatamento. Isso passou pela criação do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente, assim como por treinamento de fiscais e investimentos em comando e controle. Entre 2004 e 2012, o país foi exemplo de êxito na redução do desmatamento.

Hoje, temos condições de ir além e apostar no desenvolvimento sustentável. O pagamento por serviços ambientais é uma saída: desde pequenos agricultores até grandes companhias são remunerados por conservar mata nativa, cuidar de nascentes e preservar biodiversidade, por exemplo.

Manter a floresta amazônica em pé é rentável. Com mercado regulado de créditos de carbo no, estima-se que poderíamos ter ganhos de até US$ 10 bilhões por ano.

Ao passo que induz o cuidado com recursos naturais, gera montantes que poderiam levar saneamento básico, serviços de saúde e de telecomunicações, entre outros, para os 25 milhões de brasileiros e brasileiras que vivem na região.

Apostar na bioeconomia é outra importante ferramenta para estimular negócios verdes e escaláveis.

Ao cumprir seus compromissos na agenda do clima e da sustentabilidade, o Brasil, naturalmente, voltará ao protagonismo que já chegou a exercer, só que desta vez com maior possibilidade de influir na definição de novas regras e desenhos da própria arquitetura do sistema internacional.

Isso será determinante não apenas para promover nossos interesses nacionais nas mais diversas dimensões, como comércio e desenvolvimento, mas também para nos defender de riscos crescentes de que, sob o manto da proteção ambiental, sejam fortalecidas práticas protecionistas.

É hora de honrar os compromissos firmados durante a COP26. As forças vivas da sociedade conclamam o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima e Crescimento Verde a desempenhar seu indispensável papel nessa tarefa de viabilizar nossas metas e compromissos.

A sociedade civil precisa se manter mobilizada. O setor privado nacional está preparado para fazer a sua parte. Agora, o que resolve é agir.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.