Descrição de chapéu Financial Times Europa

KKR oferece 33 bilhões de libras pela Telecom Italia

Negócio seria uma das maiores compras de private equity de um grupo de telecomunicações europeu

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Financial Times

A KKR fez uma oferta de mais de 33 bilhões de libras esterlinas (R$ 249 bilhões) para comprar a Telecom Italia, na que seria uma das maiores aquisições por companhias de private equity de uma empresa europeia na história.

Em um comunicado emitido depois de uma reunião do conselho administrativo no domingo (21), a Telecom Italia disse que o fundo de aquisições dos Estados Unidos tinha oferecido 0,505 euro por ação em dinheiro (R$ 3,19) —um prêmio de 45% sobre o preço de fechamento da companhia na sexta (19), o que daria à empresa um valor patrimonial de 10,7 bilhões de euros (R$ 67,73 bilhões). Ela tem aproximadamente 22,5 bilhões de euros (R$ 142,4 bilhões) em dívida líquida.

A Telecom Italia disse que a oferta da KKR pretendia ser amistosa, porque teria de ser aprovada pelos membros do conselho da companhia e estava condicionada a um período de quatro semanas de "due diligence" e à aprovação do governo italiano, que tem poder de veto sobre uma aquisição do grupo.

O conselho não deu indício se aprovaria o negócio.

Logo da TIM, da Telecom Italia, em um prédio em Roma - Alessandro Bianchi - 9.abr.2016/Reuters

A oferta da KKR também atraiu o interesse de fundos rivais, com CVC e Advent "abertos" a discussões com acionistas, segundo um porta-voz da CVC em Milão.

A oferta pelo grupo italiano, cujo valor de mercado encolheu para 7,5 bilhões de euros (R$ 47,48 bilhões), é o último sinal de interesse do private equity no setor de telecoms europeias. Os fundos procuram dividir empresas, separando as redes das empresas de consumo, para realizar valor ou melhorar o desempenho das companhias.

A KKR já detém uma participação de 37,5% na rede de "última milha" da Telecom Italia, mas fez uma oferta pela companhia toda.

É a última virada na história da Telecom Italia que foi o assunto de um duro cabo-de-guerra há quatro anos entre o grupo investidor francês Vivendi e o fundo ativista americano Elliott Management. Isso se seguiu a tentativas abortadas da Telefónica da Espanha e da AT&T dos EUA de comprar a empresa. Ela lutou nos últimos trimestres e emitiu dois avisos de lucros no espaço de três meses neste ano, enfraquecendo sua posição.

Suas ações caíram um quarto desde junho e quase três quartos desde 2018, aumentando a pressão sobre Luigi Gubitosi, membro do establishment italiano nomeado executivo-chefe naquele ano, para mudar o rumo da companhia. Uma reunião de conselho estava planejada para 26 de novembro para discutir uma potencial reforma da administração.

A Vivendi negou que estivesse em negociações com a KKR ou a CVC —como foi noticiado— ou qualquer instituição sobre uma potencial oferta pela Telecom Italia. A companhia francesa é a maior acionista da Telecom Italia, com participação de 24%, seguida pela companhia de crédito estatal Cassa Depositi e Prestiti, que possui quase 10%.

"A Vivendi é uma acionista de longo prazo, e queremos trabalhar com o governo e outras instituições para colocar a Telecom Italia de volta nos trilhos", disse a companhia. "Não estamos contentes com o desempenho. O mais importante é impedir que o navio afunde."

A Telecom Italia foi a companhia do setor mais valiosa da Europa nos anos 1990, mas passou por diversas crises nas últimas duas décadas. É uma empresa de importância política, e o governo tem um "poder de ouro" de bloquear aquisições ou venda de ativos não considerados de interesse nacional.

O gabinete do primeiro-ministro e a Cassa Depositi e Prestiti não quiseram comentar se Roma pretende exercer seu poder de veto sobre a aquisição estrangeira de ativos estratégicos.

O Tesouro italiano disse que o interesse pela Telecom Italia "é uma boa notícia para o país" e que o governo vai "avaliar suas prerrogativas cuidadosamente".

"O objetivo do governo é garantir que esses projetos sejam compatíveis com a rápida conclusão da rede de banda ultralarga como definido pelo plano de recuperação da Itália pela UE", acrescentou o Tesouro.
Autoridades em Roma disseram que o governo seguirá os desenvolvimentos de perto e não abandonará sua supervisão de ativos que considera "estratégicos", como a rede principal da Telecom Italia e seus cabos de alta densidade Sparkle.

Segundo várias pessoas em Roma, a KKR estaria disposta a dividir a companhia em duas e deixar a parte controladora da rede da Telecom Italia para uma entidade controlada pelo estado, como a Cassa Depositi e Prestiti. Tal medida se chocaria com outras aquisições de telecoms, incluindo a da TDC da Dinamarca pela Macquarie, onde os fundos têm visado a propriedade de ativos de redes valiosas quando procuraram dividir empresas de telecom.

Roma não se opõe a tal projeto, mas estará "examinando diversas opções" nas próximas semanas, disseram as pessoas.

Segundo elas, a KKR pediu à Telecom Italia uma resposta em quatro semanas à sua oferta, que foi noticiada primeiramente pelo Corriere della Sera.

A KKR é um dos investidores mais ativos em telecoms europeias. Comprou uma participação minoritária na rede secundária da Telecom Italia por 1,8 bilhão de euros (R$ 11,39 bilhões) no ano passado através de sua filial de infraestrutura e fez parte de um consórcio de grupos de private equity que privatizou a operadora espanhola de telecoms MasMovil, em um negócio de 5 bilhões de euros (R$ 31,65 bilhões) no ano passado. Ela comprou a Hyperoptic, companhia de fibra britânica, em 2019.

O grupo de aquisições americano abordou primeiro a provedora de telecom holandesa KPN com uma oferta de aquisição, que foi rejeitada neste ano.

Colaboraram Sarah White em Paris e Emma Agyemang em Londres

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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