Descrição de chapéu mercado de trabalho

Brasileiros se arriscam a mudar para o exterior mesmo sem garantia de vagas

Profissionais deixam carreiras consolidadas em busca de novas oportunidades

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São Paulo

Dólar alto, baixo desemprego e as 11 milhões de vagas de trabalho sobrando nos últimos meses tornaram-se os novos chamarizes dos Estados Unidos para brasileiros que sonham com oportunidades de trabalho no país.

As perspectivas têm feito com que profissionais deixem carreiras consolidadas no Brasil e arrisquem cruzar a fronteira, mesmo sem emprego garantido no país de destino.

Leonardo Freitas, presidente executivo da consultoria de mobilidade global Hayman-Woodward, viu a procura por vistos para profissionais brasileiros interessados em trabalhar nos EUA crescer 180% no escritório, desde o início da pandemia. Dos 3.500 solicitantes de visto que recebem anualmente, 70% são brasileiros interessados em migração permanente para o país via trabalho.

Um dos vistos mais procurados, segundo Freitas, é aquele que permite a entrada de profissionais com habilidade excepcional em áreas como ciências, arte ou negócios, ou pós-graduados com mais de cinco anos de carreira.

Diferentemente da maioria das solicitações para migração profissional, a categoria não exige convite de um empregador. O próprio solicitante arca com os custos de provar que pode contribuir para o mercado de trabalho local.

Foi esse o visto obtido por Kayri Gois, que deixou o posto de gerente regional após 17 anos num grande banco brasileiro para se mudar com a mulher e dois filhos para os EUA. Além de trabalhar no país, Kayri viu em solo americano maiores chances de realizar o sonho do filho de ser ginasta.

O bancário está de pé e sorri para a foto, acompanhado da mulher, a filha e o filho
O bancário Kayri Gois emigrou para trabalhar nos EUA com a esposa e os filhos - Acervo pessoal

Gastou cerca de de U$S 25 mil (R$ 140 mil) com o processo migratório, que foi interrompido com as suspensões das atividades durante a pandemia e finalizado em novembro. Ele embarcou no começo de dezembro para os EUA, após provar que sua carreira como bancário e sua formação, com pós-graduação na área, o tornavam um profissional desejável para os empregadores americanos.

Partiu sem emprego garantido, mas Kayri —que começou a carreira vendendo empréstimos a R$ 400 na rua—, diz não temer o recomeço."Há muitas oportunidades e a economia americana se recupera rápido", diz.

Dos 140 mil vistos de residência para trabalho emitidos pelo governo americano anualmente, 28,6% são destinados para profissionais de interesse nacional, como Kayri. Outros 28,6% são reservados para especialistas, não-especialistas e graduados. Demais categorias incluem vistos para pesquisadores, presidentes de empresas e empreendedores.

Os custos para emissão variam de US$ 5.000 a US$ 50 mil, diz Freitas (R$ 28 mil a R$ 280 mil). "Existe espaço para o profissional brasileiro, mas ele tem que mostrar a que veio. A porta está aberta. O que não entendo é quem prefere gastar a mesma quantia para entrar ilegalmente."

Os cerca de US$ 25 mil desembolsados pelo bancário Kayri assemelham-se ao valor pago por Rafael Santos (nome trocado a pedido do entrevistado) para atravessar a fronteira dos EUA com o México com a esposa e os filhos, de um e quatro anos, em abril.

Mineiro, ele trabalhava com vendas quando foi demitido, no começo do ano. "Surgiu a oportunidade e viemos", conta. "Foi o momento certo de sair e não me arrependo. Se pudesse, teria vindo antes."

O desemprego no Brasil atingiu 14,1% da população em outubro, segundo o IBGE. Os EUA registraram a marca de 4,2% em novembro, de acordo com o Departamento do Trabalho local. O salário mínimo de US$ 7,25 a hora (cerca de R$ 40) não tem atraído trabalhadores locais para funções no varejo, por exemplo —o que pode significar mais oportunidades de trabalho para quem vem de fora.

Rafael agora atua como pintor de paredes e carpinteiro no país. Sua esposa assumiu posto como ajudante de limpeza doméstica. Os ofícios são recorrentes entre imigrantes brasileiros que chegam ao país cruzando a fronteira.

O casal pagou parte do valor para entrar no país antes da viagem e agora trabalha para pagar as parcelas restantes. As opções de trabalho, porém, são limitadas pela falta da documentação. Grandes redes americanas de restaurantes, que abrigam muitas das vagas ociosas, não contratam trabalhadores sem visto.

"Vim para ajudar minha família e investir no Brasil. Por enquanto ainda estamos pagando a dívida, mas quero fazer economizar para meus filhos e investir na Bolsa."

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