Descrição de chapéu Tragédia em Capitólio

Chuvas intensas em MG param operações da Vale, Usiminas, CSN e Samarco

Preocupação com barragens ocorre após as tragédias em Brumadinho e em Mariana

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Roberto Samora Douglas Gavras
São Paulo e Curitiba | Reuters

Chuvas intensas que atingem Minas Gerais paralisaram operações da Vale, CSN, Usiminas e Samarco, além de interditarem a mina de minério de ferro Pau Branco, da francesa Vallourec, deixando em alerta as principais empresas do setor de mineração no país.

A interdição da mina Pau Branco, em Nova Lima (MG), após o transbordamento de um dique, levantou ainda preocupações sobre um endurecimento de regras para o setor de mineração, que foi atingido por dois grandes desastres mortais devido a quedas de barragens de rejeitos de minério de ferro, nos últimos anos.

"Vemos a notícia como potencialmente negativa para todo o setor, já que pode resultar em novas regulamentações que derivem suspensões de operações existentes ou atrasos em novos projetos", disse a XP Investimentos em nota.

Segundo o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), as paralisações de operações das mineradoras, são temporárias e fazem parte de uma precaução das companhias para minimizar riscos, que deve ser revertida em breve, a depender do nível das chuvas nos próximos dias.

"Se esta intensidade de chuvas perdurar por um curto período, o Ibram estima que não haverá reflexos na variação do preço dos minérios e na oferta. As mineradoras associadas têm sempre agido com cautela quando ocorrem fenômenos naturais, como o excesso de chuvas."

A preocupação com barragens no estado ocorre após o desastre de Brumadinho, da Vale, quando cerca de 270 pessoas morreram em 2019; e em Mariana, da Samarco, em 2015, que provocou a morte de 19 pessoas e também um desastre socioambiental de grandes proporções.

As chuvas devem seguir intensas nesta semana na maior parte de Minas Gerais, de acordo com informações meteorológicas da Refinitiv. Até o dia 15, as precipitações devem ficar acima da média nas regiões centrais, oeste, noroeste e do Triângulo Mineiro, entre outras.

Vale, CSN e Usiminas reportaram paralisações nesta segunda-feira (10), o que impactava negativamente as ações das companhias.

Logo da Vale em sua sede, no Rio de Janeiro - Pilar Olivares - 20.ago.2014/Reuters

VALE E VALLOUREC

No caso da Vale, a mineradora disse que paralisou parcialmente a produção dos Sistemas Sudeste e Sul "visando garantir a segurança dos seus empregados e comunidades", em razão do nível elevado de chuvas que atingem Minas Gerais.

Segundo comunicado, a circulação de trens na EFVM (Estrada de Ferro Vitória a Minas) foi afetada.

Segundo a Vale, no Sistema Sudeste, a EFVM foi paralisada no trecho Rio Piracicaba-João Monlevade, impedindo o escoamento do material da mina de Brucutu e no complexo de Mariana, "que estão com a produção suspensa".

O trecho Desembargador Drummond-Nova Era também está paralisado, mas em fase de liberação e não afetou a produção do Complexo de Itabira.

No Sistema Sul, a produção de todos os complexos está temporariamente paralisada, em função da interdição de trechos das rodovias BR-040 e MG-030 e da segurança de circulação de empregados e terceiros.

Apesar da paralisação, a Vale manteve sua meta de produção de 320 milhões a 335 milhões de toneladas de minério de ferro para 2022, com a companhia citando que o Sistema Norte segue operando conforme os planos, que consideram o impacto sazonal do período chuvoso em todas as operações.

A Vale disse que "não houve alteração do nível de emergência em nenhuma de suas estruturas, que são acompanhadas permanentemente por inspeções, manutenções, radares, estações robóticas, câmeras de vídeo e instrumentos, como piezômetros manuais e automáticos".

A empresa também afirmou que segue acompanhando o cenário de chuvas em Minas Gerais e monitorando suas barragens, 24 horas por dia, em tempo real.

A produção de minério de ferro da Vale, no entanto, poderá ficará mais perto do limite inferior da meta anunciada para 2022, segundo análise do Itaú BBA. "De acordo com nossos cálculos preliminares, uma parada de duas semanas nessas operações poderia ter um impacto de cerca de 3 milhões de toneladas para a Vale (menos de 1% da meta de produção da empresa para 2022)", disseram os analistas.

No caso da Vallourec, parte da BR-040 foi interditada no final de semana após o transbordamento de um dique de contenção de água da mina Pau Branco, o que levou a ANM (Agência Nacional de Mineração) a interditar as operações.

Nesta segunda-feira, a Vallourec informou que o tráfego de veículos havia sido liberado nos dois sentidos da BR-040.

A companhia francesa disse ainda que a ANM autorizou a reclassificação do nível de emergência do dique de 3 para 2, um patamar de menor risco.

A empresa complementa que segue operando de acordo com a legislação vigente e orientada pelos entes fiscalizadores e reguladores.

CSN, USIMINAS E SAMARCO

A CSN anunciou nesta segunda-feira (10) a suspensão das operações da mina de minério de ferro Casa de Pedra, em Congonhas (MG), em virtude das fortes chuvas, e também afirmou que suspendeu operações de exportação de minério de ferro no terminal de carvão de seu porto em Itaguaí (RJ) "em virtude do alto grau de umidade verificado no local".

"A CSN segue recebendo todos os órgãos fiscalizadores e reafirma que a barragem de Casa de Pedra é segura e estável. A empresa já está trabalhando nestas contenções e segue monitorando os equipamentos com leitura em tempo real, não tendo sido detectada nenhuma anomalia", disse a empresa.

Já a Musa (Mineração Usiminas), controlada da companhia siderúrgica, também teve suas operações temporariamente paralisadas em função de chuvas intensas na região de Itatiaiuçu (MG).

Além disso, a companhia informou que foi acionado no sábado o nível 1 do PAEBM (Plano de Ação de Emergência de Barragens da Mineração) para sua Barragem Central, desativada desde 2014. Essa condição significa um estado inicial de alerta e não representa comprometimento dos fatores de segurança.

"Por ora, a paralisação da Musa não deverá afetar o fornecimento de matéria-prima para a Usiminas, e serão utilizados estoques da própria MUSA para o fornecimento", disse a companhia, por meio de nota.

No caso da Samarco, uma joint venture da Vale com o grupo angloaustraliano BHP , a empresa paralisou parcialmente suas operações no Complexo de Germano, em Mariana.

Segundo a mineradora, em função da umidade elevada, a produção de concentrado de minério de ferro opera a 50% neste momento, mas com a expectativa de que retome os 100% assim que as condições climáticas permitirem.

A empresa frisou ainda que suas estruturas estão estáveis e permanentemente monitoradas e que segue atenta aos eventos climáticos a fim de preservar a segurança dos seus empregados e das suas operações.

A região da barragem do Carioca, da usina hidrelétrica de propriedade da Companhia de Tecidos Santanense, localizada no município de Pará de Minas, também está em alerta, segundo autoridades.

"Essa barragem passou por evento de cheia, diante das fortes chuvas que atingem o Estado de Minas Gerais", disse a reguladora Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Preventivamente, a Defesa Civil retirou do local dezenas de pessoas que estavam em áreas de risco, segundo nota do governo de Minas Gerais.

Em meio a fortes chuvas no Estado, pelo menos dez pessoas morreram após pedras se soltarem de um cânion no lago de Furnas em Capitólio (MG), no final de semana.

Reportagem adicional de Gabriel Araujo, Alberto Alerigi Jr. e Marta Nogueira

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