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Investimento em BDR deve ser reposicionado; veja recomendações

Empresas de valor podem ganhar espaço em meio a declínio em Wall Street

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São Paulo

As primeiras semanas de 2022 colocaram rugas de preocupação na testa do investidor que buscou, ao longo do último ano, ações de empresas listadas nos Estados Unidos para compensar as perdas de um mercado doméstico perturbado pelas crises política e fiscal.

Agora, com as ações americanas passando pelo pior período desde o início da pandemia, gestores recomendam ajustes nas carteiras. Isso não significa, porém, desistir da estratégia de diversificação por meio de aplicações no exterior. Empresas sólidas e de crescimento moderado passam a ser mais recomendadas.

Placa de rua sinaliza a rua Wall Street, no distrito financeiro de Nova York, nos Estados Unidos
Placa de rua sinaliza a rua Wall Street, no distrito financeiro de Nova York, nos Estados Unidos - Lucas Jackson - 5.ago.2011/Reuters

Aparecem entre as principais apostas para 2022 grandes bancos americanos, sobretudo aqueles que apresentaram razoáveis e que ainda possuem preços defasados, e gigantes da tecnologia com serviços competitivos ou que estão largando na frente na construção de ambientes virtuais coletivos, o que se convencionou chamar de metaverso. Indústrias farmacêuticas que lideram a corrida por vacinas também figuram entre as recomendações.

ENTENDA O QUE É UMA BDR

As BDRs, sigla em inglês para Recibos Depositários Brasileiros, constituem uma das maneiras mais simples para o investidor local aplicar em ações do exterior. Esses recibos negociados na B3, a Bolsa de Valores brasileira, replicam índices de companhias estrangeiras. Outra possibilidade igualmente fácil é investir em fundos que aportam recursos nesses ativos.

Destino favorito dos aportes feitos por gestores locais, BDRs de empresas dos Estados Unidos tiveram um crescimento explosivo de investimentos realizados por fundos brasileiros em 2021. O volume aportado alcançou R$ 15,6 bilhões, quase 78% a mais do que os R$ 8,78 bilhões de 2020, segundo levantamento da Quantum Finance.

Empresas brasileiras listadas no exterior, que ocupam um distante segundo lugar no ranking de aportes realizados pelos fundos, cresceram proporcionalmente na preferência dos gestores no mesmo período. Os investimentos passaram de R$ 614,3 milhões para R$ 1,1 bilhão. Uma alta de aproximadamente 80%.

Dois fatores explicam esses números. O primeiro deles é a própria popularização das BDRs. Desde o segundo semestre de 2020 a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) liberou esses ativos para pequenos investidores. Isso naturalmente gerou interesse e levou mais gestores de fundo a colocarem esse produto em suas prateleiras.

"A entrada do investidor do varejo colocou lenha na fogueira desse mercado", afirma João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos. "O aumento do interesse do investidor tornou mais viável a compra desses ativos lá fora para a emissão aqui no Brasil".

O crescimento excepcional do mercado americano em 2021 foi também decisivo para o crescimento da demanda. O S&P 500, índice de referência de Wall Street, subiu 26,9% no ano passado.

Acompanhando as altas das principais ações globais, o BDRX, uma espécie de carteira virtual utilizada para medir o desempenho dos ativos no exterior ofertados pela B3, saltou 33,65%.

Na contramão do desempenho das ações listadas no exterior, o Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, afundou 11,8% em 2021.

A virada do ano chacoalhou esse cenário. Com a perspectiva cada vez mais concreta de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) promoverá consistentes altas nos juros para combater a maior inflação enfrentada pelo país em quatro décadas, as ações em Nova York passam por forte correção.

O S&P 500 caiu 7,7% neste ano. A Nasdaq, bolsa que concentra empresas de maior crescimento –e mais dependentes de crédito–, derreteu 12%. Os dois indicadores também tiveram na semana passada o pior desempenho desde o tombo gerado com o início da pandemia, em março de 2020.

Os ventos contrários do exterior ajudaram o Ibovespa a levantar voo neste ano. O índice acumula alta de 3,9% em 2022. Agora são os investidores estrangeiros que buscam ganhos rápidos no Brasil e em outros emergentes enquanto o mercado americano se ajusta.

QUAL O IMPACTO DA ELEIÇÃO NAS BOLSAS

Não há garantias, porém, de que esse cenário favorável ao mercado doméstico será perpetuado. Em vez disso, há razões para esperar turbulências. A corrida eleitoral é avaliada por analistas como potencializadora do risco fiscal, uma vez que o presidente Jair Bolsonaro (PL) poderá ampliar gastos públicos para melhorar o seu desempenho na busca pela reeleição.

É por isso que a manutenção de BDRs nas carteiras de investidores é consenso entre os gestores. Não há expectativas, porém, de uma reprise dos ganhos de 2021. O nome do jogo passa a ser proteção.

A diversificação geográfica é uma das principais utilidades das BDRs. Uma carteira composta de empresas com operações em diferentes regiões pode suportar melhor oscilações provocadas por crises locais.

Outra camada de proteção é quanto ao câmbio. Ativos listados em países de moedas fortes não serão prejudicados pela desvalorização do real. Apesar das baixas recentes, a moeda brasileira historicamente é pressionada para baixo em anos de disputa eleitoral.

"As altas de juros e da inflação, e uma maior aversão de risco no Brasil e nos Estados Unidos, devem favorecer a continuação do crescimento dos investimentos em BDRs em 2022", disse Luiz Crispim, sócio da OBB Capital.

"Esses papéis oferecem uma alternativa atraente de diversificação de risco fora do Brasil, além da oportunidade de acesso a algumas das melhores companhias do mundo", comentou Crispim.

quais as ações recomendadas por analistas

Crispim e André Caminada, também sócio da OBB Capital, destacam BDRs da Microsoft, Disney e Pfizer como interessantes para o médio prazo. Eles ressaltam, no entanto, que essas companhias não estão livres da volatilidade causada pela alta dos juros americanos.

Carlos André Vieira, analista-chefe da plataforma de análises TC Matrix, reforça a perspectiva de que investidores passarão a se posicionar em empresas de valor, menos dependentes de estímulos econômicos para crescer.

"Entre os setores, eu destaco o financeiro, especialmente os grandes bancos e os bancos de crédito dos Estados Unidos, e de tecnologia, cujo avanço é tendência mundial", diz Vieira.

No setor financeiro, Vieira avalia que os bancos Goldman Sachs e Wells Fargo combinam solidez e alguma espaço para crescimento. Sobre o Wells Fargo, o analista destaca que o mercado vem valorizando as ações da empresa após verificar a melhora da governança após seguidas punições por operações irregulares.

Quanto ao ramo das grandes companhias de tecnologia, ele reforça a aposta na Microsoft como uma empresa detentora de serviços consistentes.

A empresa também chamou a atenção recentemente por realizar o maior negócio da sua história com a aquisição da fabricante de videogames Activision Blizzard, por US$ 75 bilhões (R$ 406 bilhões). Analistas consideraram que a manobra posiciona a Microsoft na corrida pelo metaverso.

A Alphabet, dona do Google, também é relacionada pelo analista da TC entre as big techs com maior potencial para retomar o crescimento quando a poeira gerada pelo aperto monetário baixar.

"A pandemia gerou maior tendência ao digital e utilização do Google cresceu, assim como a inclusão digital", diz Vieira. "Isso deverá continuar."

Quando o assunto são as BDRs de empresas brasileiras, porém, as incertezas aumentam. A avaliação recorrente é que algumas foram listadas com sobrepreço e, por isso, tendem a continuar sofrendo correções.

Para os analistas consultados pela reportagem, grandes exportadores de commodities listados na B3, como a Vale, são alternativas para ocupar o lugar na carteira destinado a empresas brasileiras que podem se beneficiar da alta do dólar.

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