Lula pode ser mais radical na economia que no passado, diz chefe de pesquisas do Citi

Nathan Sheets avalia que retórica do ex-presidente gera incerteza nos investidores

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Washington

A volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao comando do Brasil gera incerteza no mercado financeiro por trazer dúvidas sobre quais políticas econômicas serão adotadas, disse Nathan Sheets, economista-chefe global do Citi Research, departamento de pesquisas do mesmo grupo do Citibank.

"A eleição [no Brasil] é caracterizada por incertezas significativas, que provavelmente vão contribuir para a volatilidade. Há vários cenários diferentes, se você tiver Bolsonaro reeleito versus Lula eleito. E se for Lula, há uma boa quantidade de incerteza sobre que tipo de políticas [econômicas] ele irá perseguir", disse Sheets, durante um encontro virtual com jornalistas nesta sexta (28).

"Sua retórica pode fazer pensar que elas seriam mais radicais à esquerda do que em seu histórico. Quando ele esteve lá antes, foi mais moderado, e é uma questão aberta sobre qual Lula tomará posse. Estas são as incertezas e questões que os mercados estão lidando, conforme pensam sobre as implicações da eleição", prosseguiu.

O ex-presidente Lula durante congresso da Força Sindical em São Paulo, em dezembro do ano passado - Carla Carniel/Reuters

Sheets, que fica baseado em Nova York, disse também que a economia brasileira deve ter um ano marcado por desafios, como o risco de estagflação, a combinação de inflação alta e crescimento econômico baixo ou nulo.

"A possível alta de juros do Fed [banco central dos EUA] provavelmente colocaria pressão na liquidez global, com implicações para a economia brasileira. E o Brasil provavelmente deve sentir algum vento contra vindo da nova realidade do crescimento chinês neste ano", apontou. A China é o maior comprador de exportações brasileiras, e uma queda na demanda por lá reduziria os ganhos de empresas do Brasil.

O economista ponderou, no entanto, que a economia brasileira tem grande capacidade para se recuperar desta fase ruim no médio e longo prazo. "Já vi ciclos em que o Brasil cresceu muito rapidamente."

Nathan Sheets, economista-chefe global do Citi Research, em Atenas - Divulgação/Peterson Institute

Sheets, 57, foi subsecretário de assuntos internacionais no Departamento de Tesouro dos EUA, entre 2014 e 2017, no governo de Barack Obama. Ele atua no grupo Citi, uma das principais empresas financeiras dos EUA, desde outubro de 2021.

Lula, que ainda não confirmou sua candidatura à Presidência, não divulgou os detalhes de seu plano para a economia. Em entrevistas, o ex-presidente tem defendido que o Estado faça mais ações para estimular o desenvolvimento, o que pode gerar mais gastos públicos. E integrantes do PT, como a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, fizeram críticas recentes à reforma trabalhista de 2017 e ao teto de gastos públicos

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