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Aplicativo digitaliza contato entre atacadistas do Brás e lojistas

Marketplace Zax captou R$ 32 milhões em 2021

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São Paulo

​Um dos maiores polos de vestuário atacadista do Brasil, o Brás, na região central de São Paulo, vive um novo processo de digitalização, focado em aplicativos para celular que fazem a ponte entre o comércio local e lojistas de todo o país que compram suas peças ali.

Antes, eles dependiam do contato direto com os atacadistas por meio de alguns poucos sites, aplicativos de mensagens e, principalmente, dos chamados "assessores", trabalhadores informais que fazem as compras do estoque presencialmente e enviam os itens para esses comerciantes pelo país —muitos por meio de ônibus fretados abastecidos de mercadorias, que levam roupas e acessórios para pequenos e médios lojistas de norte a sul. A região é considerada o principal centro de distribuição de pronta entrega de confecções do Brasil.

Novas empresas como a Zax, que recebeu R$ 32 milhões de aporte do fundo Atlantico em outubro, numa rodada que incluiu também investimentos dos fundos Caravela Capital, FJ Labs, Canary e GFC, agora conectam as duas pontes desse mercado via aplicativo de marketplace.

Bruno Ballardie (à esquerda) e Fernando Zanatta, fundadores da Zax
Bruno Ballardie (à esquerda) e Fernando Zanatta, fundadores da Zax - Divulgação

A ideia do negócio surgiu depois que o empreendedor Bruno Ballardie, 37, vendeu o ecommerce de óculos eÓtica para grupo francês Essilor, em 2015. O empreendimento bem-sucedido criou o desejo de continuar no mercado de lifestyle, diz Ballardie, que se uniu a Fernando Zanatta, ex-diretor de tecnologia da Dafiti e do Buscapé, para tirar a ideia do papel.

A dupla decidiu mirar o modelo de marketplace voltado para o atacado, um mercado ainda pouco explorado no país. A participação das vendas online no varejo saltou de 6% para 11% durante o primeiro ano da pandemia, segundo dados do índice Mastercard SpendingPulse. A ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) também estima que, no mesmo período, o ecommerce tenha chegado a responder por mais de 10% do faturamento total do varejo, ante 5% em 2019.

Os empreendedores estimam, no entanto, que o atacado —que em 2020 faturou R$ 287,8 bilhões no Brasil, segundo a Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores)— tenha participação no ecommerce inferior a 1%.

O mercado B2B de atacado de moda no país é segmento com faturamento estimado em US$ 445 bilhões, segundo os empreendedores. É um mercado a ser explorado e desenvolvido, diz Ballardie, e seu objetivo é tornar a empresa um negócio de crescimento acelerado, inspirado em modelos de sucesso como a gigante chinesa do atacarejo Alibaba e, no Brasil, o Mercado Livre.

O primeiro desafio foi tornar o aplicativo conhecido e utilizado pelos comerciantes brasileiros, chineses, bolivianos e árabes à frente das mais de 15 mil lojas do caldeirão cultural efervescente que forma a região do Brás. "Foi um trabalho difícil, porque é um mercado pulverizado. Ao mesmo tempo, fomos beneficiados pela mudança de comportamento dos lojistas nos últimos anos. Hoje, estão acostumados com Instagram, WhatsApp... A realidade das lojas é celular na mão", diz Ballardie.

Comércio de roupas na região do Brás e 25 de Março, em maio de 2021 - Folhapress

O aplicativo visa unificar as opções de compra de acessórios e itens de vestuário dos lojistas de moda pelo Brasil em uma só plataforma. Segundo o cofundador, a solução tem hoje mais de mil fornecedores cadastrados e 50 mil compradores, fruto de trabalho intenso de captação, divulgação e aperfeiçoamento das soluções oferecidas, e os usuários relatam ganho de produtividade nas operações, diz Ballardie.

Mas auxiliar nas operações diárias dos comerciantes é só uma parte do negócio. Um dos atrativos dos clientes do Brás foi o baixo capital de giro dos comerciantes, diz o empreendedor, o que tornou a região propícia para o desenvolvimento de uma solução que ofereça serviços financeiros aliados à plataforma de marketplace. Além de encurtar a distância entre lojas e produtos, a empresa busca agora facilitar o crédito e pagamento.

A estratégia de oferecer crédito em plataformas de vendas, adotada por gigantes como a Via, busca unir a demanda, capacidade logística, curadoria e inventário dos mercados online com soluções de pagamentos, financiamentos, seguros e empréstimos no mesmo ecossistema. Além de gerar novas fontes de renda, o modelo expande o mercado e pode diminuir os custos de aquisição que impactam o consumidor final.

A Zax já oferece opções de crédito sem juros, mediante avaliação, para varejistas pelo país. Também tem mapeado perfis de risco de clientes e desenhado soluções de pagamento para o setor. A ideia é expandir as atividades financeiras. "Trabalhamos para ser um marketplace cuja principal proposta de valor está ligada a geração de crédito", diz o fundador.

A empresa cresceu na pandemia, quando os lojistas recorreram ao ecommerce para continuar as vendas online e aplacar as restrições de abertura do comércio necessárias nos períodos de maior mortalidade da crise sanitária, e ampliou o portfólio de produtos para incluir também brinquedos, sapatos e itens de beleza. A ideia é continuar concentrada nos produtos do ramo, mas expandir a atuação da plataforma para outros polos do comércio de vestuário do país, como Brusque (SC) e Fortaleza (CE).

Ballardie aposta no crescimento do segmento popular de vestuário, a despeito da alta inflacionária de 8,7% nos preços dos itens da categoria, registrada no IPCA acumulado de novembro de 2020 até o mesmo mês de 2021. "É um segmento muito resiliente. Não vemos muita crise nesse segmento popular", diz.
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