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Mídia estatal chinesa implica Ant Group, de Jack Ma, em escândalo de corrupção

Documentário da CCTV aumenta pressão sobre bilionário

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Sun Yu
Pequim | Financial Times

A transmissora estatal de TV chinesa envolveu o Ant Group, de Jack Ma, em um escândalo de corrupção, aumentando a pressão sobre o bilionário depois de uma ação fiscal que tirou bilhões de dólares de seu império.

Um documentário na CCTV (China Central Television) afirmou que empresas privadas fizeram "pagamentos estranhamente elevados" ao irmão do ex-líder do Partido Comunista em Hangzhou, cidade do leste da China que abriga a sede do Ant Group, em troca de incentivos políticos do governo e apoio à compra de imóveis.

Segundo registros públicos e duas fontes próximas dos negócios, uma unidade do Ant Group comprou dois terrenos com desconto em Hangzhou em 2019, depois de assumir participação em duas empresas de pagamentos digitais de propriedade do irmão mais jovem do secretário do partido, que foram citados pelos nomes no documentário.

Jack Ma usa um terno preto, camisa branca e cabelo curto preto; ele levantar a mão direita saudando em direção da câmera
Jack Ma, executivo da fintech Ant Group, em Paris, França - France May - 15.mai.19/Reuters

O longa não citou a companhia de Jack Ma, mas a unidade do Ant foi o único investidor corporativo externo em um desses negócios, segundo registros públicos, e esteve entre três investidores privados no segundo.

"A natureza dessa transferência de interesses é uma troca de poder por capital", disse o documentário, produzido pela Comissão Central para Inspeção de Disciplina do Partido Comunista. O material veiculado pela emissora estatal chinesa representa a linha oficial do partido.

O programa intensificou a pressão sobre o Ant Group, uma fintech com mais de 1 bilhão de usuários que se esforça para reformular a empresa para acatar as exigências das autoridades. Os órgãos reguladores chineses impediram um IPO de US$ 37 bilhões (US$ 201 bilhões) planejado pela companhia em 2020 e a obrigou a se reestruturar.

Na semana passada, o Ant sofreu um revés em suas iniciativas de reforma lideradas pelo governo depois que uma gestora de fundos estatal desistiu, sem dar explicação, de um acordo para investir no ramo de crédito da fintech.

O documentário afirma que Zhou Jiangyong, ex-secretário do partido em Hanzghou que foi preso em agosto por corrupção, ajudou empresas não identificadas a adquirir terras baratas e gozar de políticas preferenciais depois que elas compraram ações de firmas controladas pelo irmão da autoridade, Zhou Jianyong.

O mais jovem deles, um ex-professor de administração, lançou a Youcheng United (Ningbo) Information Technology Development Co em 2016, ganhando contratos para construir sistemas de pagamentos móveis no metrô nos polos costeiros de Ningbo e Wenzhou, segundo o documentário. Na época, seu irmão era o secretário do partido nessas cidades.

Um logotipo azul reproduz uma ilustração simples de uma formiga; ao lado, está escrito 'ant group' em chinês e inglês
O logo do Ant Group em Hangzhou, na província de Zhejiang, China - Aly Song - 26.out.20/Reuters

"Ele ganhou o negócio porque eu era uma autoridade do governo", disse Zhou, o ex-secretário, sobre seu irmão no documentário.

O Ant Group entrou numa série de negócios com o Zhou mais jovem. Registros públicos mostram que a firma de capital de risco Shanghai Yunxin Venture Capital Management Co, subsidiária do Ant Group, pagou cerca de US$ 268 mil (R$ 1,45 milhão) por uma participação de 14,3% e um lugar no conselho administrativo da Youcheng United (Ningbo) em março de 2019.

Mais tarde nesse ano, a Shanghai Yunxin gastou US$ 221 mil (R$ 1,2 milhão) em uma participação de 13,5% em um provedor de pagamentos no metrô de Hangzhou de propriedade do Zhou mais jovem e apresentado no documentário, segundo registros públicos. A companhia de Hangzhou inclui uma empresa estatal entre os investidores.

Menos de um ano depois que o Ant completou o segundo investimento, o grupo de fintech ganhou um leilão de um terreno em Hangzhou por US$ 819 (R$ 4,43 mil) o metro quadrado, como único candidato qualificado, segundo registros do leilão. O preço médio das residências no bairro supera US$ 7.100 por metro quadrado, segundo sites imobiliários.

No documentário, o irmão do ex-secretário do partido afirma que ele cobrou um alto preço por investimentos em suas companhias.

"É claro, você sabe que sou irmão de Zhou Jiangyong", disse Zhou Jianyong no documentário. "Você pode imaginar que aumentei o preço. Você quer se aproveitar de mim, não devo fazer o mesmo com você?"

O Ant Group não respondeu a um pedido de comentários. O Financial Times não conseguiu falar com os irmãos Zhou.

"A ascensão e queda do Ant simboliza a relação desigual entre as empresas e a política na China", disse Nie Huihua, professor na Universidade Renmin em Pequim.

Ma mantem um perfil discreto enquanto Ant e seu grupo de comércio eletrônico, Alibaba, lutam contra a crescente pressão política. O presidente chinês, Xi Jinping, embarca numa campanha de "prosperidade comum" para reformar a paisagem econômica e política do país.

"A ascensão do Ant Group tem muito a ver com sua capacidade de obter favores de autoridades locais", disse uma pessoa próxima do grupo de fintech. "Agora ele poderá ter de pagar um preço por isso."
Depois que o documentário foi ao ar, a comissão anticorrupção do Partido Comunista disse que vai intensificar a supervisão das maiores companhias de internet do país para "cortar o elo entre poder e capital".

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

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