Descrição de chapéu The New York Times

Novo app de namoro dá ultimato para usuários se encontrarem

'Matches' acontecem apenas 1 dia por semana e são apagados depois de 24 horas

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Becky Hughes
Nova York | The New York Times

Na noite de uma quinta-feira, havia dez pessoas na fila para entrar no Hair of the Dog, um bar de esportes no Lower East Side de Manhattan (Nova York) que usualmente atrai multidões aos domingos, para assistir aos jogos de futebol americano e beber durante o dia.

Quando cada uma das pessoas chegava ao segurança, tinha de exibir provas para ser admitida: documento oficial de identidade, comprovante de vacinação e perfil em um app de encontros –não que elas estivessem lá para procurar solteiros online.

Pessoas se encontram por meio do aplicativo 'Thursday' no Hair of the Dog, em Manhattan - Jutharat Pinyodoonyachet - 20.jan.2022/The New York Times

Em lugar disso, uma empresa chamada Thursday (quinta-feira) estava promovendo um encontro de solteiros –um antídoto para o desânimo quanto a encontros online.

Os participantes expressaram todo tipo de frustração com os romances modernos: encontros gerados por apps que raramente resultam em mais do que um bate-papo; a perda de tempo envolvida em vasculhar perfis em busca de qualidades redentoras e de possíveis sinais de alerta; o padrão de discriminação racial dos apps de encontros, que está muito bem documentado; e a sensação generalizada de desesperança.

"Eu nunca encontro um ‘match’", disse Harrison Gottfried, 27, pouco depois de entrar no bar. E quando alguém aparece do nada e se destaca, no Tinder ou Hitch, ele disse, a pessoa muitas vezes não é legítima.

O Thursday busca se diferenciar da concorrência por meio da escassez artificial: o app só pode ser acessado um dia por semana (sim, na quinta-feira).

Quando o relógio chega à meia-noite, os usuários ativam um ícone que identifica que estão livres para encontros naquele dia. E então, por 24 horas, eles podem selecionar perfis e conversar com pessoas, como em outros sites de encontros.

Quando a quinta-feira chega ao fim, no entanto, todos os "matches" são apagados e o app se desativa. A implicação é de que não há tempo a perder com conversa mole: a hora de marcar um encontro é agora ou nunca.

Para encorajar encontros reais como esses, o Thursday organiza eventos em Londres e Nova York, as duas cidades em que está operando no momento. O encontro no Hair of the Dog foi o oitavo realizado em Nova York e atraiu cerca de 450 participantes.

Antoniy Fulmes, 24, ouviu falar do evento por meio de um email promocional. Perguntado sobre sua posição quanto aos encontros online, ele disse que "não quero encontrar o amor da minha vida por meio de um app de sexo". Ele acrescentou que "ninguém nos apps quer conversar. Talvez seja pessoal. Talvez eu seja feio".

Mesmo as pessoas que têm mais sorte encontrando pares parecem ter pedido a paciência com os apps. "Passar muito tempo procurando nos apps não necessariamente resulta em um encontro", disse Andrew Tchekalenkov, terapeuta de reabilitação de viciados em drogas que participou de três dos eventos do Thursday. "A sensação pode ser boa, mas não há substância."

Matthew McNeill Love, 31, um dos fundadores e vice-presidente de operações do Thursday, queria criar um produto que ajudasse as pessoas a ir além da "injeção no ego" inicial de encontrar um "match", e avançar na direção de uma conexão genuína.

"Conseguir ‘likes’ no Hinge é como conseguir ‘likes’ no Instagram", ele disse, em uma entrevista por telefone em janeiro.

"Percebemos que, ao limitar o uso do app a um dia por semana, as pessoas se veem forçadas a tomar uma decisão", ele disse.

Love disse que, depois de lançado, em julho de 2021, o app Thursday foi baixado 340 mil vezes antes que a empresa introduzisse sua série de eventos offline, chamada AfterParty. O primeiro encontro aconteceu em um bar de Londres três meses atrás.

"Tudo que fizemos foi divulgá-lo no app", disse Love. "Não fizemos publicidade, nada de branding, não tínhamos representantes lá usando camisas cor de rosa, nenhuma atividade para quebrar o gelo. Um bar normal e só".

BUMBLE ABRE WINE BAR EM NOVA YORK

Outros apps de encontros também começaram a explorar o lado analógico. O Bumble, por exemplo, abriu um café e "wine bar" no distrito nova-iorquino de NoLIta, recentemente.

O estabelecimento se chama Bumble Brew "e foi projetado não só para que novas conexões sejam construídas, mas para que todos possam se reunir e interagir", afirmou Julia Smith-Caulfield, diretora de parcerias de marca da empresa, em um email, acrescentando que "eventos na vida real vêm sendo um de nossos focos".

A despeito de sua crescente insatisfação com os encontros digitais, a maioria dos presentes no encontro do Thursday parecia usar os mesmos apps. Eles descreveram o Tinder como um app para sexo casual, e o Hinge como mercado para aqueles que estão em busca de relacionamentos. Hanna Choi, 28, disse que usa o Bumble para "conversar com homens bonitos".

Alguns poucos participantes disseram que agora usam exclusivamente o Thursday, principalmente para os eventos que reúnem solteiros. Moses McFly, 39, participou de três deles. "Todos os demais apps estão disponíveis sete dias por semana", ele disse, e isso pode ser desgastante.

E como é que os encontros estão funcionando, para os solteiros? "Ainda não me impressionei, mas a ideia é boa", disse Becky Kaploun, 24, planejadora de eventos que, quando perguntada sobre que apps de encontros usa, respondeu, fingindo espanto: "Todos eles".

Ela estava sentada em uma mesa com uma amiga, esperando ser abordada por alguém em quem está interessada. "É a experiência mais próxima de conhecer alguém na vida real", disse Kaploun.

O encontro parecia estar indo bem para Fulmes, que em determinado momento gritou para seu colega de apartamento que "já conversei com seis mulheres! Você está ficando para trás".

Ali perto, um homem estava conduzindo uma mulher pelo meio da multidão que dançava ao som de "Beautiful Girls", de Sean Kingston, e dizendo, bem alto: "Vamos ali para o canto. É lá que podemos nos pegar".

Celeste Ortega, 26, designer industrial, estava no evento com Choi e disse que elas tinham sido abordadas por "zero pessoas". Ela disse, sobre as pessoas presentes, que "estou entre decepcionada e nem aí", e acrescentou que algumas delas pareciam "desesperadas".

Quando perguntada se participaria de outro evento, Ortega não hesitou. "Oh, meu Deus", ela disse. "Provavelmente toda quinta-feira pelo resto da minha vida".

Tradução de Paulo Migliacci

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