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Preço da gasolina: o que define o valor no Brasil

Entenda como alta do dólar, cotação internacional e impostos atuam na formação do preço dos combustíveis

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São Paulo e Rio de Janeiro

O preço médio da gasolina ao longo do ano de 2021 sofreu reajuste de cerca de 70% nas refinarias e pesou no bolso dos brasileiros. Em 2022, apesar da trégua nas últimas semanas, o valor ainda acumula alta aproximada de 20% nas refinarias da Petrobras. A variação do barril de petróleo e a cotação do dólar são fatores que afetam diretamente o preço.

Entenda como o valor da gasolina é definido, os efeitos dos reajustes constantes dos combustíveis na inflação e como a instabilidade no cenário político e econômico influencia esse cenário.

O que define o preço da gasolina?

Do momento em que o combustível sai das refinarias até a chegada ao consumidor, cinco componentes formam o preço final dos combustíveis

  1. Realização Petrobras

  2. Distribuição e revenda

  3. Custo do Etanol Anidro/Custo do Biodiesel

  4. ICMS

  5. Cide, PIS/Pasep e Cofins

A seguir, entenda o que cada um representa na formação do preço dos combustíveis: ​

Realização Petrobras

A Realização Petrobras se refere ao valor pago pelas distribuidoras à petrolífera pelo seu serviço nas refinarias. Nesse valor, estão inclusos os custos de produção e os lucros da Petrobras.

Distribuição e revenda

A parcela de distribuição e revenda custeia o armazenamento e o transporte dos combustíveis, além dos serviços prestados pelos postos. Esse item varia de acordo com as estruturas de custo de cada empresa da cadeia e de características específicas de cada mercado, como nível de concorrência ou distância dos polos de entrega dos produtos.

silhueta de homem de máscara segurando uma pipeta de onde cai uma gota
Técnico faz pesquisas com biodiesel em Jacarta, na Indonésia - Ajeng Dinar Ulfiana - 26.ago.2020/Reuters

Custo do Etanol Anidro/Custo do Biodiesel

O etanol anidro é um composto formado quase 100% por álcool, adicionado na gasolina de acordo com especificações previstas em lei. O produto ajuda na combustão e contribui para a diminuição da emissão de monóxido de carbono, um gás poluente que resulta da queima de gasolina.

O biodiesel, combustível adicionado ao diesel e também previsto em lei, é uma alternativa para automóveis com motor a diesel. Ele é derivado de óleos vegetais e gorduras, o que significa que é uma fonte de energia renovável. Seu índice de poluição também é menor que o do diesel derivado de petróleo.

Pela regra em vigor, uma portaria de 2006 da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a gasolina vendida nos postos deve ter 73% de gasolina e 27% de etanol anidro. Já o diesel deve conter 90% de diesel e 10% de biodiesel em 2022.

ICMS

O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) é um tributo estadual que incide sobre a venda final de produtos.

Em junho, o presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou uma lei que forçou os estados a implementarem um teto de 17% ou 18% para as alíquotas de ICMS sobre os combustíveis.

A medida gerou uma trégua para os preços finais da gasolina às vésperas das eleições. Bolsonaro teme os efeitos da inflação alta entre o eleitorado.

Cide, PIS/Pasep e Cofins

Com a pressão inflacionária, o governo também zerou até o final de 2022 os tributos federais sobre a gasolina.

A Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) se refere às atividades de importação e comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool etílico combustível.

PIS/Pasep são tributos federais cobrados de órgãos públicos e de empresas, para pagar benefícios como o abono salarial e o seguro-desemprego.

A Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) é outro tributo federal que incide sobre empresas. Ela é calculada a partir da receita bruta das instituições e custeia esferas básicas da seguridade social brasileira, como investimentos em saúde, Previdência Social e programas nacionais de assistência social.

Por que o preço da gasolina aumenta?

O preço dos combustíveis acompanha mais de perto o mercado internacional desde 2016, quando foi implantada a política de paridade de importação, na qual é definido o preço de paridade de importação (PPI).

O PPI é um valor de referência, calculado com base no preço de aquisição do combustível (no caso do Brasil, geralmente o preço negociado em Houston, nos EUA), mais os custos logísticos até o polo de entrega do derivado —o que inclui fatores como o frete marítimo, taxas portuárias e o transporte rodoviário—e as margens para remunerar riscos inerentes à operação.

O valor também é influenciado pela cotação do dólar.

pequena torre de petróleo cinza escuro em frente a fundo azul com logotipo formado por bolas brancas e pelas letras opec
Miniatura de poço de extração de petróleo em frente ao logotipo da Opep (Opec, na sigla em inglês), organização de países produtores de petróleo - Dado Ruvic - 14.abr.2020/Reuters


A referência para as cotações internacionais é o petróleo do tipo Brent, negociado em Londres. Em 2021, ele superou o pico atingido em 2018, ano em que ocorreu a greve dos caminhoneiros.

A alta refletiu a recuperação da economia global após os períodos de isolamento do início da pandemia. A maior atividade fez com que a procura superasse a oferta de petróleo, aumentando o preço do produto.

Apenas neste ano, o barril do petróleo Brent subiu cerca de 20%. Com a Guerra da Ucrânia, as sanções econômicas à Rússia e as alterações no mercado mundial de petróleo, o preço disparou. No dia 8 de março, o barril atingiu US$ 127,98.

No Brasil, o dólar, moeda na qual o petróleo é cotado no mercado internacional, manteve-se valorizado em relação ao real, o que também contribuiu para elevar durante o ano o valor em reais do produto importado.

Porém, com os recentes temores de recessão global, que resultaria em menor demanda, o petróleo passou a dar sinais de trégua nas últimas semanas.

Como o cenário político e econômico afeta o preço?

Os efeitos de períodos de instabilidade política sobre o câmbio ajudam a pressionar os preços internos dos combustíveis, já que tendem a tornar o valor em reais mais caro. Isso tem sido comum em períodos pré-eleitorais, por exemplo, quando o dólar costuma reagir a incertezas sobre a troca de governo.

Em 2002, o então candidato da situação à Presidência da República, José Serra (PSDB), chegou a pedir publicamente que a Petrobras parasse de reajustar o preço do gás de cozinha, já que os frequentes aumentos tinham impacto negativo em sua campanha.

Naquele ano, a moeda americana subiu mais de 50% frente ao real. Com os frequentes repasses da Petrobras, o preço do botijão de gás de 13 quilos mais do que dobrou, com alta de 133% entre janeiro e dezembro. A gasolina subiu 63% no mesmo período.

Em 2014, também diante de forte desvalorização da moeda, o governo Dilma Rousseff (PT) decidiu segurar os preços, gerando um embate com a direção da Petrobras. Em depoimentos dados ao Ministério Público em 2015, a ex-presidente da estatal, Graça Foster, contou detalhes da queda-de-braço.

Ela chegou a dizer que a companhia estava "no limite" devido aos impactos do represamento em seus indicadores de endividamento, mas que o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, era quem tinha a palavra final.

Logo após a vitória de Dilma, com o petróleo em queda, o governo autorizou os reajustes de 3% na gasolina e 5% no diesel e recomendou à diretoria "passar um tempo com os preços acima da paridade a fim de recompor as defasagens do passado".

Recentemente, uma combinação de motivos internos e externos contribuiu para que a cotação do dólar subisse em relação ao real. Entre eles estão a incerteza sobre o futuro da pandemia e a instabilidade política do país.

Bolsonaro iniciou seu mandato com dólar na casa dos R$ 3,80, mas a cotação da moeda americana ultrapassou a barreira dos R$ 5 no início da pandemia e vem se mantendo acima desse patamar, tornando-se um fator adicional de pressão sobre os preços dos combustíveis.

Preço da gasolina no mundo

Como o petróleo é uma commodity, ou seja, seus preços são internacionais, uma alta no custo do petróleo será sentida em todos os países.

O preço internacional é influenciado pelas decisões da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), grupo que em 2022 inclui 12 nações produtoras: Angola, Argélia, Líbia, Nigéria, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque, Kuwait, Qatar, Equador e Venezuela.

Esse grupo atua como um cartel, ou seja, toma em conjunto decisões sobre exploração, produção e exportação/importação de petróleo que afetam o custo do produto. Por exemplo, se a Opep decide reduzir a produção de petróleo, mas a demanda continua no mesmo nível, o preço aumenta.

O Brasil, apesar de estar em 8° no ranking das maiores reservas de petróleo do mundo, não é um país membro da Opep. Em 2019, Jair Bolsonaro mencionou que gostaria que o seu país fizesse parte da organização, mas que provavelmente exigiria que o Brasil limitasse sua produção de petróleo.

Na pandemia, por exemplo, a organização atua para que, independentemente de crises, os preços sejam praticados de forma que não prejudiquem os países membros da organização.

Embora o preço do petróleo seja internacional e afete todos os países, em cada um o valor dos combustíveis dependerá da política interna de reajustes e da política de impostos de cada nação.

O preço da gasolina ao longo dos anos

O preço da gasolina em 2021 atingiu os valores mais altos desde que começou a ser registrado mensalmente, em 2003, pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

A média de quase R$ 7,00 é a maior em 18 anos na série histórica, tanto no preço final pago pelo consumidor quanto o preço ajustado pela inflação. Medido pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o nível da inflação chegou a 10,67% em 12 meses no ano de 2021.

Qual deveria ser o preço real da gasolina?

A pergunta é impossível de ser respondida de forma geral, justamente porque o preço depende de todas as condições acima.

Além disso, o preço da gasolina depende de fatores que não podem ser controlados pelo mercado nacional de combustíveis —como a cotação do dólar ou o preço internacional do petróleo.

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