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Temor de guerra na Europa volta a balançar mercados

Bolsa brasileira segue como refúgio em novo dia de volatilidade

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São Paulo

Investidores preocupados com a possibilidade de uma guerra na Europa levaram os principais mercados de ações do planeta a fechar no vermelho nesta segunda-feira (14). A Bolsa de Valores brasileira, porém, manteve uma ligeira alta, indicando que as ações domésticas permanecem como refúgio de estrangeiros em busca de ativos com preços relativamente baratos.

O Ibovespa subiu 0,29%, a 113.899 pontos. O dólar recuou 0,47%, a R$ 5,2170, menor valor desde setembro do ano passado. Bolsa e câmbio refletiram o grande volume de investimentos de estrangeiros no mercado brasileiro, cujo saldo positivo já passa R$ 40 bilhões neste ano.

Outros mercados emergentes, como Argentina e México, chegaram a operar em alta, mas cederam ao pessimismo global. Em uma cesta com os dez principais índices de ações das Américas, o indicador de referência do mercado brasileiro foi o único fechar o pregão em alta.

Tanque russo dispara durante exercício militar em região próxima a São Petersburgo, na Rússia
Tanque russo dispara durante exercício militar em região próxima a São Petersburgo, na Rússia - Ministério da Defesa da Rússia/Reuters

Na Europa, os principais indicadores do mercado acionário fecharam em forte queda. As Bolsas de Londres, Paris e Frankfurt caíram 1,69 %, 2,27 % e 2,02%, nessa ordem. O índice Euro Stoxx 50, que acompanha 50 grandes empresas da região, afundou 2,18%.

Nos Estados Unidos, os principais índices encerraram a sessão em queda. O S&P 500, referência do mercado americano, cedeu 0,38%. O Dow Jones, o mais tradicional indicador da Bolsa de Nova York, caiu 0,49%. As ações de empresas de tecnologia negociadas na Nasdaq ficaram estáveis.

Mais cedo, na abertura do mercado americano, alguns índices chegaram a operar no azul após notícias de que o governo de Vladimir Putin deu sinais de estar disposto a uma solução diplomática ao Ocidente.

A Ásia também teve um início de semana negativo, com destaque para a queda de 2,23% da Bolsa de Tóquio. Na China, o principal índice das empresas listadas em Xangai e Shenzhen caiu 1,08%.

O mercado global de ações foi sacudido na tarde da última sexta (11) pelo alerta do governo americano sobre a iminência de uma invasão da Ucrânia pela Rússia.

Um conselheiro da segurança nacional da Casa Branca disse que a ofensiva militar russa pode ter início antes mesmo do fim dos Jogos de Inverno de Pequim, em 20 de fevereiro.

Os principais índices de ações negociadas em Nova York passaram a operar em forte queda após o alerta, o que interrompeu uma tentativa de recuperação em Wall Street. Na quinta (10), o mercado dos Estados Unidos já tinha sido afundado em pessimismo devido à divulgação de um indicador de inflação pior do que o esperado.

Frente a este cenário de risco e tensão, os preços do petróleo mantêm o patamar mais elevado desde 2014, apesar de algumas oscilações. A Rússia é uma das principais produtoras de óleo e gás natural, sendo responsável por parte expressiva do abastecimento da Europa.

No final da tarde, o barril do petróleo Brent, referência mundial, era negociado a US$ 96,44 (R$ 502,45), uma alta de 1,67%.

"Sabemos que um potencial conflito pode reduzir a cadeia de abastecimento global", disse Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora.

Em boletim divulgado nesta segunda, Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, e Sol Azcune, analista de política internacional da XP, também afirmaram que o principal efeito imediato da escalada das tensões tende a ser no preço do petróleo e derivados, acelerando a inflação ao redor do mundo.

Para o mercado de ações do Brasil, a crise na Europa deixa o horizonte incerto. Por um lado, a elevação do preço do petróleo pode valorizar ações de petroleiras brasileiras, como é o caso da Petrobras. Por outro, o combustível mais caro pode acelerar a inflação em todo o mundo e, em particular, nos Estados Unidos.

O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) e outros bancos centrais já discutem elevar suas taxas de juros para combater uma onda inflacionária mundial.

Caso os juros americanos subam além do esperado, a valorização razoável dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos tende a atrair investidores que neste momento estão aportando em mercados emergentes, como o brasileiro. Isso tornaria o dólar mais caro e pressionaria ainda mais a inflação por aqui.

De modo geral, em tempos de guerra, a aversão a investimentos de risco –como são classificadas as aplicações em ações negociadas em bolsas de valores– tende a tomar conta do mercado financeiro.

"O desafio é que é muito difícil avaliar os riscos de uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, porque é uma situação imprevisível", disse ​Jon Adams, gerente de portfólio da BMO Global Asset Management, ao The Wall Street Journal.

Rachel de Sá, da Rico, também chama a atenção para os riscos fiscais e políticos da elevação acelerada do petróleo.

Ela destaca pressões para que a Petrobras mude a sua política de preços de combustíveis, que hoje busca a paridade em relação à cotação do petróleo no mercado internacional, e para a aprovação de propostas para a retirada de impostos dos combustíveis.

Na primeira hipótese, a estatal passaria a ter prejuízos e perderia valor de mercado. Na segunda, a percepção de que o país teria dificuldade em cumprir seu Orçamento afugentaria investidores estrangeiros do mercado brasileiro.

Nesta segunda, apesar da alta do petróleo, as ações da Petrobras caíram 2,25%.

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