Descrição de chapéu juros

Inflação nos EUA chega a 7,5%, maior alta em 40 anos

Índice de preços ao consumidor subiu 0,6% em janeiro

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Jeanna Smialek Kanishka Singh
Washington e Bengaluru | Reuters e AFP

Um indicador crucial de inflação aponta que os preços estão subindo ao seu ritmo mais alto em 40 anos, e acima do que os economistas esperavam, na mais recente surpresa desagradável para a Casa Branca e o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), depois de um ano sacrificado para os consumidores.

Os números do índice de preços ao consumidor de janeiro, divulgados nesta quinta-feira (10), mostram que os preços subiram em 7,5% ante o mês no ano passado, acima dos 7.2% projetados em uma pesquisa da Bloomberg. Em base mensal, a alta foi de 0,6%.

É um ritmo rápido pelos padrões históricos e, embora seja inferior à maior alta mensal registrada em 2021, esse é mais um indicador que excedeu as expectativas dos economistas.

Desconsiderados os preços dos alimentos e combustíveis –que variam muito de mês a mês—, a inflação subiu em 6%, seu ritmo mais rápido desde 1982.

Os analistas antecipam que a inflação venha a cair significativamente em 2022. Muitos preveem que ela terminará o ano perto dos 3%. Mas os economistas também previram diversas vezes que a alta de preços desapareceria rapidamente em 2021, e viram essas projeções negadas quando a disparada na demanda por produtos colidiu com problemas nas cadeias mundiais de suprimentos, que não foram capazes de elevar sua produção com rapidez suficiente.

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Mercado em Manhattan. Inflação alta nos EUA tem deixado consumidores pessimistas - Amir Hamja - 9.fev.2022/The New York Times

Enquanto isso, os aumentos de preços estão pesando nas carteiras dos consumidores. A inflação de janeiro foi puxada pelos custos da comida, eletricidade e moradia, de acordo com o Serviço de Estatísticas do Trabalho.

As autoridades econômicas expressaram mais humildade em suas expectativas quanto à inflação, nos últimos meses, especialmente em um momento no qual os portos continuam congestionados, os aluguéis e os preços nos restaurantes estão em alta e os salários estão subindo –fatores que poderiam ajudar a manter a inflação aquecida.

A inflação alta vem sendo um problema político para a Casa Branca porque a alta dos preços vem pesando sobre a renda domiciliar e atenua os efeitos do mercado de trabalho forte, com crescimento de salário sólido, o que faz com que os consumidores se sintam pessimistas.

A situação também levou o Fed a deixar de lado sua postura paciente quanto à política monetária, cujo objetivo era fomentar uma recuperação econômica rápida da pandemia, e incluía manter taxas de juros baixíssimas. Os investidores agora antecipam que os dirigentes do banco central possam elevar as taxas de juros seis vezes este ano, como parte de seu esforço para desacelerar a economia e conter a alta de preços.

"Adotar a política monetária correta nesse ambiente requer humildade, e reconhecer que a economia evolui de maneiras inesperadas", disse Jerome Powell, o presidente do Fed, em uma entrevista coletiva no mês passado.

O Fed tem por meta uma inflação anual média de 2%, ao longo do tempo, embora defina essa média com base em um indicador de inflação diferente, que também está alto mas não subiu tão acentuadamente.

Os novos números "sublinham nossa posição de que uma rápida aceleração cíclica da inflação está em curso, e, diante das condições excepcionalmente apertadas do mercado de trabalho, é improvável que ela se atenue no futuro previsível", afirmou Andrew Hunter, economista sênior para o mercado dos Estados Unidos na consultoria Capital Economics, em uma nota de pesquisa.

Embora Hunter tenha afirmado que a inflação deve minguar este ano, os números indicam que "ela deve permanecer bem acima da meta do Fed por algum tempo".

Os fatores que embasam a inflação parecem estar ganhando força. Os aumentos de preços em 2021 foram impulsionados pesadamente pelos problemas nas cadeias de suprimento, que levaram os preços dos carros novos e usados e os dos móveis a aumentos drásticos. Embora isso continue a ser um fator importante para a alta da inflação geral, outras áreas também estão alimentando uma subida rápida.

Os aluguéis residenciais primários, que respondem por uma boa porção da inflação e tendem a se alinhar mais às condições econômicas do que a tendências incomuns, subiram em 0,5% em janeiro ante o mês anterior, uma ligeira aceleração. Outros custos de moradia continuaram a subir em ritmo firme e perceptível.

Em meio ao aumento nos custos da moradia e de outros serviços, as autoridades econômicas esperam que as cadeias de suprimento comecem a recuperar o atraso este ano. Isso permitiria que os preços dos produtos moderassem sua alta ou até caíssem –o que reduziria a pressão sobre a inflação geral.

Não está claro, porém, com que rapidez isso vai acontecer. Protestos no Canadá prejudicaram o tráfego em uma rota importante de transporte rodoviário e prejudicaram a entrega de componentes a linhas de montagem de automóveis. Mesmo que isso não seja uma perturbação considerável, alguns especialistas no setor não preveem uma grande queda nos preços dos automóveis este ano.

"O ritmo de crescimento nos preços dos veículos –aqueles números loucos que vimos em 2021– deve começar a se desacelerar", disse Charlie Chesbrough, economista sênior da Cox Automotive. Mas a demanda continua robusta e "estamos muito defasados na ponta da produção".

Embora a Casa Branca tenha adotado políticas que podem ajudar a combater a inflação alta nas margens –liberação de petróleo das reservas estratégicas, e planos para colocar veteranos das forças armadas em empregos no setor de transporte rodoviário, que enfrenta problemas de mão de obra—, o Fed é que tem a missão primária de desacelerar a demanda a fim de manter os preços sob controle.

Dirigentes do Fed sinalizaram que começarão a aumentar as taxas de juros em março. Os juros mais altos podem desacelerar os gastos dos consumidores e empresas ao tornar mais caro o financiamento de um ou carro ou casa, ou a compra de máquinas. As autoridades também deram a entender que em breve começarão a reduzir o volume de títulos detidos em seu balanço, o que deve elevar os custos da captação em longo prazo e esfriar ainda mais a economia.

A resposta de política monetária do Fed, somada a um retorno lento a condições de negócios mais normais, deve desacelerar os avanços dos preços nos próximos meses.

Os consumidores também vêm adquirindo bens em ritmo incomumente rápido, mas dados recentes indicam que eles possam estar retornando a gastos maiores com serviços, o padrão que prevalecia anteriormente.

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Restaurante em Los Angeles - Mark Abramson - 5.fev.2022/The New York Times

Ainda assim, os aumentos de salários podem elevar o risco de que a inflação permaneça desconfortavelmente alta este ano. Os números sobre o emprego divulgados na semana passada demonstravam que a remuneração média por hora de trabalho subiu rapidamente –e muito mais do que os economistas esperavam. As empresas talvez consigam compensar a alta dos custos trabalhistas com avanços na produtividade, mas, caso isso não aconteça, podem repassar os custos aos consumidores a fim de proteger suas margens de lucro.

Além disso, se os consumidores estiverem ganhando mais, eles talvez possam gastar mais em necessidades primárias –como aluguéis. Caso os preços da habitação continuem a subir, isso poderia ajudar a manter a inflação elevada, porque os aluguéis respondem por uma boa porção do indicador.

Isso posto, os lucros das empresas no momento parecem muito fortes e a produtividade é alta, o que pode dar às companhias espaço para absorver custos salariais mais altos. E nas últimas décadas, a correlação entre alta de salários e inflação não vem sendo forte.

Alguns economistas chegam a se preocupar com a possibilidade de que o Fed aja com agressividade demais, desacelerando a economia no momento em que os avanços dos preços estariam começando a perder força sozinhos.

"Minha preocupação é que eles exagerem –que se mostrem sensíveis demais ao crescimento dos salários", disse Ryan Sweet, que comanda a área de avaliações econômicas em tempo real da Moody’s Analytics. "Isso não vai ser fácil".

Prever as tendências da economia vem sendo um desafio, depois dos lockdowns estaduais e locais adotados para controlar a pandemia, e enquanto o vírus continua a desordenar os padrões econômicos usuais. Por um lado, a criação de empregos é abundante e os trabalhadores parecem ter encontrado mais poder para negociar salários e condições de trabalho. Por outro, a rapidez dos aumentos de preços vem sendo uma constante surpresa.

Mais ou menos como as autoridades econômicas, as empresas estão expressando incerteza sobre quando o avanço rápido dos preços deve desaparecer.

"Eu gostaria que pudéssemos prever quando essa inflação vai se desacelerar", disse Brian Niccol, presidente-executivo da rede de restaurantes Chipotle Mexican Grill, em uma entrevista à Bloomberg News esta semana. "Mas, infelizmente, não estamos recebendo sinais de que ela vai se desacelerar".

Biden diz que dados de inflação mostram que orçamentos dos norte-americanos estão sob pressão

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que os dados do índice de preços ao consumidor de janeiro são um lembrete de que os orçamentos dos norte-americanos estão sob pressão real, acrescentando que seu governo está usando "todas as ferramentas" de que dispõe para enfrentar a questão.

"Temos usado todas as ferramentas à nossa disposição e, embora hoje seja um lembrete de que os orçamentos dos norte-americanos estão sendo sobrecarregados, de maneira que cria estresse real nas mesas das cozinhas, também há sinais de que vamos superar esse desafio", disse Biden em comunicado.

Biden também afirmou que os analistas projetam que a inflação diminuirá até o final de 2022. O presidente acrescentou que as políticas de seu governo levaram a um declínio nos novos pedidos de auxílio-desemprego, o que ele descreveu como um sinal de "progresso real".

Os preços ao consumidor nos EUA subiram com força em janeiro, levando à maior taxa anual de inflação em 40 anos, alimentando especulações dos mercados financeiros sobre um aumento de 0,50 ponto percentual nos juros pelo Federal Reserve no mês que vem.

Tradução de Paulo Migliacci. Com Reuters

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