Metaverso impulsiona investimento no mercado de games; veja alternativas

BDRs, fundos e ETFs dão acesso a ações de empresas globais de jogos eletrônicos

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São Paulo

Experiências imersivas em realidade virtual e o potencial financeiro a ser explorado com o desenvolvimento do metaverso têm gerado um forte aumento no interesse e nos investimentos por parte de grandes empresas e investidores no setor de jogos eletrônicos.

No Brasil, existem alternativas que oferecem ao investidor a possibilidade de deixar de ocupar a posição apenas de um jogador de games tradicionais, para passar também a poder investir em alguns dos nomes mais promissores da nova economia digital.

Embora as ações de tecnologia de um modo geral venham sob intensa volatilidade, na esteira da perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos, especialistas argumentam que o setor começou o ano com anúncios importantes, que evidenciam o tamanho do interesse pelas empresas de jogos eletrônicos neste momento.

Ilustração Microsoft Activision Blizzard personagens
Logo da Microsoft em tela de celular sobre imagens de personagens de jogos da Activision Blizzard - Dado Ruvic - 18.jan.2022/Reuters

A operação mais emblemática até aqui ocorreu no dia 18 de janeiro, quando veio a público a aquisição da Activision Blizzard, desenvolvedora de jogos como "Call of Duty" e "Candy Crush", avaliada em cerca de US$ 75 bilhões pela Microsoft, ou algo como R$ 390 bilhões.

Foi a maior transação já realizada pela companhia de tecnologia fundada por Bill Gates.

Algumas semanas antes, entre meados de outubro e novembro, o megainvestidor norte-americano Warren Buffett havia feito um aporte de aproximadamente US$ 975 milhões (R$ 5 bilhões) nas ações da desenvolvedora de jogos.

Buffett, amigo de longa data de Bill Gates, afirmou que não tinha conhecimento do interesse da Microsoft ao fazer o investimento na Activision.

O anúncio bombástico da compra realizada pela Microsoft se deu apenas poucos dias depois de a Take-Two, responsável pelo controverso GTA (Grand Theft Auto), ter celebrado um acordo de US$ 12,7 bilhões (R$ 66 bilhões) para levar a Zynga, criadora do FarmVille.

Para fechar o mês de janeiro, no dia 31, foi a vez de o conglomerado asiático Sony adquirir a Bungie, desenvolvedora da franquia Halo, por US$ 3,6 bilhões (R$ 18,7 bilhões).

Uma das principais alternativas para o investidor de varejo interessado em acessar o aquecido mercado global de jogos eletrônicos hoje se dá por meio dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts), diz Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo.

Os BDRs, explica o gestor, são ativos financeiros negociados na Bolsa brasileira, a B3, que correspondem a ações de empresas estrangeiras cotadas originalmente em Bolsas internacionais.

Activision Blizzard, Electronic Arts, Take-Two, Roblox e Zynga são algumas das principais desenvolvedoras de jogos eletrônicos em escala global com BDRs disponíveis para negociação na Bolsa local.

Knudsen acrescenta que também é possível encontrar na B3 os BDRs da Microsoft e da Sony, responsáveis pela venda dos aparelhos Xbox e PlayStation.

Com os anúncios recentes, diz o gestor, há uma importante sinalização sobre o potencial do segmento de desenvolvimento do entretenimento virtual.

"Ao investir nos BDRs, o investidor estará sujeito tanto às oscilações dos papéis da empresa escolhida, como também do dólar frente ao real", assinala.

O investimento mínimo, contudo, ainda é alto. Os BDRs da Sony eram negociados a R$ 537,36 na sexta-feira (18), enquanto os da Activision Blizzard custavam R$ 417,32 a unidade.

Entre os BDRs de games com preço mais acessível, os da Zynga eram cotados a R$ 45,45 e os da Roblox saíam por R$ 25,38.

Ao investir nesses ativos, o investidor paga uma taxa de corretagem que varia entre as plataformas de investimento, a depender do volume transacionado, e à B3.

Já se o investidor preferir, ou não tiver tempo de se dedicar ao assunto, outra opção é delegar a um gestor profissional a seleção das melhores oportunidades dentro do universo dos jogos eletrônicos.

Na esteira da demanda crescente por parte dos investidores, plataformas e bancos, como Warren, BB DTVM, Itaú, XP e Vitreo lançaram recentemente fundos dedicados ao tema dos games e do metaverso.

O fundo Warren Games FIA, que busca os BDRs mais promissores na Bolsa, acumulou uma rentabilidade positiva de 15,64% em 2021.

Em janeiro, no entanto, o fundo teve uma queda de 9,5%, frente às perspectivas de aumento de juros nos Estados Unidos, que derrubaram as ações de tecnologia.

Gestor da Warren, Igor Cavaca afirma que, apesar da volatilidade acentuada, característica típica de ações de tecnologia, o setor de jogos eletrônicos tem um alto potencial ainda a ser explorado, em especial com o desenvolvimento de novas frentes, como o metaverso.

"O resultado do fundo no ano passado veio muito da aposta que temos feito já há algum tempo no metaverso, que acreditamos ser a próxima grande tendência do mercado", diz.

Ele conta que carrega na carteira do fundo papéis de empresas como Meta (antigo Facebook) e Roblox, plataforma de games online, além de nomes mais relacionados à área de hardware, de fabricantes de placas de vídeo e chips, como Nvidia e Qualcomm.

O fundo não fica exposto à variação do câmbio, com seu resultado dependente apenas do desempenho das ações. O investimento mínimo para aplicação é de R$ 1, sem taxa de administração.

Logo Electronic Arts celular imagem personagem jogo Battlefield
Logo da Electronic Arts em celular com imagem de personagem do jogo Battlefield - Dado Ruvic - 16.set.2021/Reuters

Uma terceira maneira que o investidor encontra para alocar o capital no setor de jogos eletrônicos é através dos ETFs.

Cauê Mançanares, CEO da Investo, explica que a sigla corresponde a um veículo de investimento que funciona como uma espécie de fundo, cujas cotas são negociadas na B3, e que se propõe a replicar grandes índices globais de ações.

Em dezembro do ano passado, a Investo lançou na Bolsa local um ETF chamado JOGO11, cuja proposta é acompanhar de perto o desempenho do índice global ESPO (VanEck Video Gaming and eSports ETF).

O índice é composto por nomes não disponíveis via BDRs, como Tencent, Nintendo, Capcom e Konami, e de outros que já podem ser acessados pela B3, como Take-Two, Electronic Arts e Activision Blizzard.

Na sexta (18), o ETF, que fica exposto à variação do câmbio e cobra taxa de administração de 1,03% ao ano, era negociado por R$ 77,75.

"Muitas pessoas já se relacionam com essas empresas por meio dos jogos, participam dessa comunidade de games, e agora podem participar da criação de valor que essas companhias estão trazendo", diz o executivo da Investo.

No ano passado, o índice global que reúne as principais ações de games do mercado recuou 2,1%, em dólar. Em três anos, até dezembro de 2021, o índice sobe 36,7%.

O movimento mais recente, diz Mauricio Schuck, chefe de gestão de fundos de ações ativos da BB DTVM, foi influenciado pela perspectiva de alta dos juros globais, que já começava a despontar em meados do ano passado, bem como pelas medidas intervencionistas do governo chinês.

Schuck afirma que, embora ambos os riscos permaneçam no radar para 2022, o crescimento do mercado de jogos eletrônicos representa uma tendência estrutural que não deve ser freada por nenhum desses fatores.

O fundo BB Ações Games recuou 7,46% em janeiro, com uma queda acumulada de 8,5% desde o início da estratégia, em março de 2021. A aplicação mínima começa a partir de R$ 0,01, com taxa de administração de 1% ao ano.

"Acabamos pegando uma janela um pouco menos favorável para a indústria de games por enquanto, mas as perspectivas para o setor continuam sendo muito positivas, com um mercado endereçável cada vez maior", diz Schuck.

Ele aponta Activision Blizzard, Electronic Arts e Nvidia entre as principais apostas na carteira do fundo.

"No passado, as empresas ganhavam dinheiro somente com a venda dos consoles e dos cartuchos de jogos. Com a evolução da indústria, hoje a receita vem principalmente das vendas que ocorrem dentro dos próprios jogos. É uma mudança muito importante, de uma receita pontual para um modelo de receita bem mais recorrente", afirma.

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