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Apple terá que trabalhar mais para satisfazer consumidores exigentes

Acostumada a oferecer algumas poucas opções de produtos, gigante tecnológica começou a aumentar portfólio

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Shira Ovide
The New York Times

Se a Apple fosse uma pessoa, não seria do tipo que corre para pegar um voo e derrapa até o portão de embarque, suando. A Apple desfilaria, calma e sem pressa. Esforçar-se não é "cool".

Mas agora a empresa tem que se apressar para nos agradar, consumidores exigentes. Como é o esforço da Apple? Uma explosão de opções de produtos.

Antes de ser o executivo-chefe da empresa, Tim Cook gabava-se há mais de uma década de que todos os seus produtos cabiam sobre uma mesa. Seu ponto era que a Apple se concentrava em fazer um pequeno número de coisas, excepcionalmente bem. Sem suor.

Hoje, a Apple vende oito modelos diferentes de iPhone, incluindo versões lançadas nos últimos anos. A empresa oferece dez computadores Mac diferentes e cinco edições do tablet iPad. Também vende aparelhos de TV, relógios de pulso, software de fitness e música, alto-falantes domésticos, vários modelos de fones de ouvido, etc., etc.

Loja Apple Store na Quinta Avenida, em Manhattan, EUA - Carlo Allegri/Reuters

Em uma apresentação de vídeo pré-gravada na terça-feira (8), a Apple discute versões atualizadas de alguns produtos de sua linha, que não cabe mais sobre uma mesa normal. Hoje a Apple precisa da mesa do Conselho de Segurança da ONU para expor tudo.

A mudança da Apple para o "Sim, mais" é outro sinal da transformação da tecnologia, passando de ocupar um nicho nerd a fornecer produtos de consumo essenciais, mas comuns, como carros ou cereais matinais. Os fabricantes oferecem uma série de opções para satisfazer nossos possíveis caprichos e chamar a atenção dos compradores.

A complexidade é um sinal de que uma empresa não pode mais considerar seus clientes garantidos. Tem que se esforçar para nos conquistar.

Isso também aconteceu com a Ford. Há uma antiga frase de Henry Ford de que um cliente poderia ter qualquer cor de carro que quisesse, "desde que fosse preto". A escolha limitada era uma necessidade quando a produção em linha de montagem ainda era novidade, mas a piada também mostrou o poder que a Ford Motor Co. primitiva tinha sobre os clientes. Carros eram uma novidade, e as pessoas pegavam o que podiam.

Sabemos que os produtos de consumo não são mais assim. Hoje na Ford você pode escolher entre oito modelos de caminhonetes, incluindo uma Ford F-150 XLT, uma F-150 Lariat, uma F-150 King Ranch, uma F-150 Platinum e uma F-150 Tremor. O preto definitivamente não é a única opção de cor.

Mais opções são ótimas, mas também podem ser um obstáculo. Aposto que alguns compradores de carros novos têm dificuldade para escolher entre as caminhonetes Ford. Não muito tempo atrás, pensei em comprar o aparelho de streaming da Apple TV e precisei pesquisar para descobrir as diferenças entre as opções que a empresa estava vendendo. Não comprei nenhum.

Uma nota lateral: talvez não precisemos dos infomerciais de produtos da Apple como o de terça-feira.

Essas apresentações encenadas dedicadas ao que parece ser a 32ª versão de um iPad faziam um pouco mais sentido quando a tecnologia se limitava a uma coisa brilhante numa caixa, destinada principalmente ao 1% de obstinados. Mas hoje a tecnologia é tudo, e para todos. E é cada vez mais útil quando não estamos percebendo. Isso inclui o software inteligente que nos leva a ler apenas os e-mails importantes ou detecta um defeito na linha de montagem da fábrica antes que ela falhe.

Minha tese é que ter opções é geralmente bom para nós. Mas também é estranho para a Apple. A empresa é um gênio em estratégias de segmentação, marketing e precificação, mas tende a se comportar como se apenas fabricasse produtos incríveis e –ops, de onde vieram essas pilhas gigantes de dinheiro? Ninguém quer se esforçar demais.

A Apple conseguiu preservar a imagem de ser exclusiva e "descolada" ao vender uma das commodities mais utilizadas no planeta. Smartphones e muitas outras tecnologias em nossas vidas são necessidades extremamente úteis e completamente normais. Já devíamos ter parado de tratar as empresas por trás delas como magos.

A Apple tem hoje quase a mesma variedade de produtos que os cereais da Cheerios. Isso deve desmistificar um pouco a empresa.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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