Como a guerra na Ucrânia está afetando as viagens internacionais

Nos EUA, efeitos do ataque da Rússia à Ucrânia influenciam planos de viajantes

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Elaine Glusac
Nova York | The New York Times

No exato momento em que o setor de viagens estava tentando sair de dois anos de depressão, o ataque russo à Ucrânia causou confusão na programação de voos e levou os americanos a hesitar em seus planos quanto a férias internacionais.

A dimensão dos efeitos da guerra sobre os viajantes depende de para onde eles estão indo, ainda que especialistas afirmem que a alta nos preços do petróleo provavelmente deva afetar os preços das passagens aéreas em voos nos Estados Unidos.

Para os americanos que têm planos de viagens internacionais, o mapa do planeta, que recentemente parecia estar se expandindo com o relaxamento das restrições associadas à Covid em muitos países, voltou a encolher. As operadoras de viagens em geral cancelaram todas as viagens à Rússia pelo restante do ano, o que afeta fortemente os itinerários de cruzeiros pelo Mar Báltico, onde o principal porto de parada era São Petersburgo.

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Cruzeiro da Oceania Cruises em Estocolmo, Suécia - Oceania Cruises via The New York Times

Tudo isso vem em um momento do ano no qual muitos americanos começam a planejar suas férias de verão. Alguns estão hesitantes. Em um levantamento recente com cerca de 350 viajantes americanos sobre o impacto da guerra, a MMGY Global, uma empresa de pesquisa de mercado, constatou que 47% deles pretendem esperar para ver como as coisas se resolvem na Ucrânia antes de fazer planos de viajar à Europa. O conflito superou a Covid-19 como fator de influência sobre as decisões, e o número de respondentes que mencionaram preocupação com a possibilidade de que a guerra se expanda para além da Ucrânia foi duas vezes mais alto do que o de respondentes que temem a pandemia

Até agora, as empresas de viagens não estão registrando cancelamentos em massa, porque os viajantes, que podem ter se condicionado a manter a flexibilidade por conta da pandemia, estão mantendo seus planos. Quase 65% dos adultos americanos entrevistados pelo site de estratégia de viagens TheVacationer.com disseram que aceitariam preços mais altos, tempos de percurso maiores ou outros obstáculos a fim de poderem viajar em 2022.

"Por enquanto não estamos vendo uma mudança de comportamento em nossos viajantes americanos", disse Sarah Casewit, curadora sênior de viagens do Origin, um serviço de planejamento de viagens para associados, que nas últimas semanas viu um aumento no número de reservas para a Europa.

As inconveniências que os viajantes venham a enfrentar nem se comparam é claro, ao sofrimento infligido aos ucranianos. Muitos viajantes desejam apoiar os europeus, que esperam uma temporada robusta de turismo no verão, mas não desejam complicar os esforços humanitários de ajuda aos refugiados de guerra.

Considerada a imprevisibilidade da guerra, os viajantes terão de se manter flexíveis à medida que as operações de voo, os cruzeiros e as excursões se ajustam ao conflito.

Turbulência no ar

Nenhuma companhia comercial de aviação dos Estados Unidos está voando para a Rússia, e aquelas que têm acordos operacionais e de compartilhamento de códigos com empresas de aviação russas, como a Delta e a American, os suspenderam.

Mas a proibição da FAA (Administração Federal da Aviação) americana de voos sobre a Ucrânia, Belarus e boa parte da Rússia requer que algumas rotas sofram desvios custosos. Para voos comerciais que partem dos Estados Unidos, essas rotas em geral se limitam a viagens à Índia, que só se reabriu ao turismo na metade de novembro. A United Airlines suspendeu temporariamente seus voos entre San Francisco e Déli e entre Newark e Mumbai, ainda que os voos de Delhi a Chicago e Newark estejam funcionando.

Desvios para evitar o espaço aéreo russo, em voos para a Ásia, envolvendo rotas de latitude mais baixa sobre o Alasca, aumentam o custo desses voos, disse Robert Mann, consultor de aviação comercial, que estimou que uma hora adicional de voo pode custar até US$ 12 mil (R$ 60 mil).

Essas não são as únicas despesas adicionais que serão repassadas aos preços das passagens. O custo crescente do petróleo, que deve subir ainda mais depois que o governo Biden proibiu a importação de petróleo russo, está contribuindo para a alta nos preços das passagens aéreas.

Mas por enquanto o interesse pela Europa continua forte entre os passageiros aéreos. O Hopper, um app de viagens aéreas, constatou que os preços de voos dos Estados Unidos para a Europa subiram em 16% da metade de fevereiro para cá, de US$ 660 (R$ 3.333) para US$ 763 (R$ 3.853) por viagem de ida e volta, o que a empresa atribui ao entusiasmo pelas viagens pós-variante ômicron e ao ciclo sazonal habitual de alta de preços.

Cruzeiros mudam de rota

As operadoras de navios de cruzeiro estavam contando com 2022 como o seu ano de retorno. Mas aquelas que operam na Rússia e nas imediações estão rapidamente alterando suas rotas.

De linhas que atendem a nichos especializados, como a Silversea, a especialistas em grandes navios, como a Carnival, as empresas de cruzeiros cancelaram visitas a portos russos. A Princess Cruise Lines está modificando os itinerários de 24 cruzeiros que deveriam fazer paradas em São Petersburgo.

"Alguns navios passam três dias inteiros lá, mais tempo do que em qualquer outra cidade da Europa", disse Samuel Spencer, gerente geral da Ocean & River Cruises Travel, uma agência baseada em Calgary, Canadá, que descreve as atrações da cidade, a exemplo do Museu Hermitage e do Palácio de Peterhof, como incomparáveis. "É uma grande perda".

Mesmo assim, as operadoras de cruzeiros estão trabalhando para encontrar portos substitutos. A Oceania Cruises, que também está cancelando paradas nos portos russos de Murmansk, Archangel, Vladivostok e nas ilhas Solovetsky, planeja adicionar paradas adicionais em Copenhagen e Estocolmo, para substituir São Petersburgo.

Fora da Rússia e da Ucrânia, onde a Viking cancelou seus cruzeiros fluviais, as operadoras de cruzeiros fluviais estão mantendo seus cronogramas na Europa.

"Porque ainda não demos início à temporada de cruzeiros de 2022, não temos planos no momento de cancelar ou ajustar cruzeiros na Europa Oriental, neste momento", afirmou Pam Hoffee, diretora executiva da Avalon Waterways, que não opera na Rússia, em comunicado.

Como no caso dos cancelamentos e viagens associados à pandemia, destinos turísticos nos Estados Unidos podem se beneficiar. As reservas na American Queen Voyages, que oferece cruzeiros em rios e lagos americanos, subiram em30% nas últimas duas semanas, o que a empresa atribui a viajantes optarem por viagens nacionais em lugar de irem à Europa.

"O maior impacto que vi foi sobre pessoas que têm um cruzeiro reservado mas não querem que seu dinheiro vá para a Rússia", disse Victoria Hardison-Sterry, consultora de viagens da Lakeshore Travel, na Flórida, que tem um cliente que trocou um cruzeiro no Báltico em 2023 por um cruzeiro no Alasca. "Meus clientes vêm se pronunciando claramente sobre não quererem ajudar a economia russa".

Tradução de Paulo Migliacci

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