Dólar balança e Bolsa cai diante da maior inflação em 28 anos

Temor de alta nos juros no Brasil e nos EUA provoca semana turbulenta no mercado

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São Paulo

A inflação ditou a dinâmica dos mercados nesta semana. No Brasil, Bolsa e câmbio balançaram com investidores reagindo a uma alta de preços acima do esperado. No exterior, a escalada inflacionária potencializada pela guerra na Ucrânia levou a autoridade monetária dos Estados Unidos a dar sinais de que altas agressivas dos juros estão a caminho.

Nesta sexta-feira (8), depois de uma abertura em alta, o dólar fechou em queda de 0,71%, valendo R$ 4,7070. Na máxima do dia, porém, a cotação chegou perto dos R$ 4,80. No acumulado da semana, a taxa de câmbio avançou 0,87%.

O índice Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, caiu 0,45% no dia, a 118.322 pontos. O resultado negativo contribuiu para um tombo semanal de 2,67%. Essa foi a primeira queda após três semanas de ganhos.

Notas de um dólar americano em frente a gráfico de ações
Notas de um dólar americano em frente a gráfico de ações - Dado Ruvic - 8.fev.2021/Reuters

Puxado pelo mega-aumento de combustíveis, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 1,62% no mês passado, informou o IBGE nesta sexta.

Trata-se da maior alta para o mês desde 1994 (42,75%), antes da implantação do real. O avanço é o mais intenso para março em 28 anos.

O resultado veio bem acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam taxa de 1,35%.

A alta da inflação doméstica pode produzir efeitos variados sobre a taxa de câmbio, a depender de como o mercado interpreta essa informação. Isso explica, ao menos em parte, a oscilação do dia.

Em um contexto em que a alta de preços é avaliada como um risco para a economia do país, investidores podem trocar posições em ativos ligados ao real por aplicações em dólar. Isso reduz a oferta da moeda estrangeira por aqui e a cotação sobe.

Mas se os juros pagos no Brasil compensarem os riscos, investidores estrangeiros ampliam posições em reais, com foco na renda fixa. Esse movimento traz mais dólares para o mercado doméstico e, por consequência, a taxa de câmbio cai.

A moeda do Brasil oferecia nesta sexta o quarto melhor retorno de juros entre os países emergentes, segundo ranking da Bloomberg, atrás apenas de Argentina, Turquia e Rússia, nessa ordem.

Participantes do mercado deram pistas nesta sexta de que esperam altas consistentes dos juros brasileiros no curto prazo. É o que indicava no final desta tarde a alta de 225 pontos-base (0,22 ponto percentual, aproximadamente) dos contratos de juros DI (Depósitos Interbancários) com vencimento em janeiro de 2023. A taxa passava de 12,75% ao ano, na véspera, para 12,97%.

Esse tipo de contrato é negociado exclusivamente entre instituições financeiras, mas serve de referência para o crédito oferecido a pessoas e empresas.

A taxa básica de juros do Banco Central do Brasil, a Selic, deverá ser elevada dos atuais 11,75% para 12,75% na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no início de maio. Esse é o cenário mais provável projetado conforme as negociações de Contratos de Opções de Copom na B3, a Bolsa de Valores do Brasil.

O susto com a inflação doméstica pode ter levado investidores a considerar que o Banco Central não interromperá a elevação da Selic quando atingir os 12,75%, segundo Marcelo Oliveira, fundador da empresa de tecnologia e educação financeira Quantzed.

"Apesar da alta [do dólar] pela manhã, acredito que o mercado pode estar colocando na conta uma possível chance de o Banco Central voltar atrás na decisão de parar com a subida dos juros em junho", comentou Oliveira.

O temor da alta dos juros também respondeu pelas principais baixas na Bolsa nesta sexta. Papéis ligados ao varejo brasileiro, porém, mostravam fraqueza. Via, Americanas e Magazine Luiza afundaram 7,93%, 7,72% e 6,55%, respectivamente.

Setores empresariais que dependem do crédito barato para realizar investimentos ou aumentar suas vendas tendem a ser os mais rejeitados na Bolsa quando o mercado passa a esperar juros mais altos.

As ações da Petrobras avançaram 0,50%, resistindo ao pessimismo gerado pela alta da inflação. Investidores ainda celebravam os nomes dos indicados para comandar a estatal.

Em Nova York, inflação e juros também concentraram as atenções. O índice de referência da Bolsa, o S&P 500, encerrou o dia em queda de 0,27%. O indicador focado no setor de tecnologia, que precisa de juros baixos para crescer, perdeu 1,34%. O Dow Jones, calculado sobre o desempenho de grandes empresas menos dependentes de crédito, avançou 0,40%.

Novos ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia acrescentaram ainda mais preocupações sobre novas sanções às exportações commodities russas, agravando temores do mercado sobre a inflação global. Cerca de 50 pessoas morreram atingidas por um míssil na estação de trem de Kramatorsk, na região de Donetsk.

Os mercados internacionais trabalharam nesta semana tentando digerir a divulgação, na quarta-feira (6), da ata da reunião realizada em março pelo comitê de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

O documento reforçou a percepção de que a inflação global, ampliada pela guerra na Ucrânia, levará a uma alta mais agressiva dos juros e à redução de outros estímulos econômicos.

Na Europa, as principais bolsas se recuperaram nesta sexta em relação às baixas do dia anterior. Londres, Paris e Frankfurt fecharam com ganhos de 1,50%, 1,34% e 1,46%, nessa ordem.

Bolsas da Ásia também fecharam em alta após a ressaca do Fed. Na China, o índice que segue as empresas de Xangai e Shenzhen subiu 0,51%.

O petróleo Brent, referência mundial, subia 2,18% no final da tarde, a US$ 102,77 (R$ 476,62). A valorização da commodity foi exagerada nas últimas seis semanas pela guerra, mas perdeu força nos últimos dias devido a um anúncio de liberação de 120 milhões de barris de reservas estratégicas internacionais.

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