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Os bastidores da compra do Twitter por Elon Musk

Chefe da Tesla convenceu céticos de Wall Street a apoiar sua oferta de US$ 44 bilhões

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Nova York e San Francisco | Financial Times

Elon Musk desistiu de comprar o Twitter por US$ 44 bilhões nesta sexta-feira (8), dizendo que a rede social não forneceu informações suficientes sobre o número de spam e contas falsas da plataforma.

Em comunicado, o bilionário disse que a empresa estava "violando materialmente várias disposições" do acordo de venda e "parece ter feito declarações falsas e enganosas". No documento, Musk afirma que o número de spam e contas falsas é muito maior do que os 5% divulgados pelo Twitter, de acordo com uma análise preliminar de seus assessores.

Conta do bilionário Elon Musk no Twitter junto do logo da empresa
Conta do bilionário Elon Musk no Twitter junto do logo da empresa - Dado Ruvic - 15.abr.2022/Reuters

Apenas 12 dias antes do anúncio oficial da compra, alguns dos operadores mais experientes de Wall Street e do Vale do Silício rejeitaram em particular a oferta de Elon Musk.

Mas, em 25 de abril, o bilionário obteve uma vitória impressionante ao conquistar o apoio unânime do conselho do Twitter para sua proposta de aquisição da empresa, depois de colocar sua fortuna pessoal em jogo para sustentar US$ 33 bilhões (R$ 166,32 bilhões) do financiamento do negócio.

Um banqueiro que liderou várias aquisições hostis no Vale do Silício disse que a transação acabou se transformando em "um processo muito prosaico", já que os diretores do Twitter sucumbiram a uma oferta que alguns dos maiores acionistas da empresa os encorajaram a aceitar. Mas a mera rapidez do acordo, assim como o uso por Musk de sua riqueza pessoal e sua enorme capacidade de atrair atenção –inclusive no próprio Twitter–, o tornou diferente de qualquer negócio anterior desse porte.

O Financial Times conversou com várias pessoas informadas sobre como Musk, em um processo tumultuado que durou menos de duas semanas, convenceu o conselho do Twitter de que sua "melhor e última" oferta, como ele a chamou desde o início, era um acordo que valia a pena.

As dúvidas sobre as intenções de Musk eram gerais após a divulgação surpreendente de seu plano de aquisição em 14 de abril, poucos dias depois de ele dizer que não queria ser nada mais que um investidor passivo na companhia.

"Acho que ele não estava falando sério no começo", disse o investidor Roger McNamee, veterano no Vale do Silício. Sem financiamento ou um plano claro sobre o que ele faria quando fosse dono da empresa, além de promessas vagas sobre liberdade de expressão, a abordagem de Musk parecia caracteristicamente precipitada, disse McNamee.

Somando-se a essa desconfiança, havia a lembrança do infame tuíte de Musk sobre "financiamento garantido" em 2018, quando ele disse que tinha um acordo para fechar o capital de sua empresa de veículos elétricos Tesla, mas foi acusado pelos Estados Unidos de fraude de valores mobiliários por enganar o mercado logo depois.

Em princípio, uma busca dos assessores de Musk por investidores de private equity para fornecer poder de fogo financeiro ameaçou diminuir seu ímpeto, já que alguns dos maiores grupos se afastaram, segundo pessoas envolvidas nas negociações.

A adoção de uma "pílula de veneno" pelo conselho do Twitter também pareceu configurar um jogo de gato e rato prolongado, que geralmente leva meses para ser concluído.

Pessoas próximas ao conselho do Twitter disseram que os diretores nunca pretenderam impedir Musk de um acordo negociado para adquirir a rede social, mas queriam impedir que o chefe da Tesla a comprasse barato.

No final da semana passada, Musk veio a público com os compromissos financeiros necessários para fechar o capital do Twitter, em grande parte apoiados por sua fortuna pessoal. Além da promessa de investir US$ 21 bilhões (R$ 105,84 bilhões) em ações, ele também procurou usar parte de sua participação na Tesla para um empréstimo de margem financeira (liberado por bancos ou corretoras para garantir a cobertura de margem de determinado investimento) de US$ 12,5 bilhões (R$ 63 bilhões) pelo qual será responsável, resultando em um pagamento de juros pessoais de mais de US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões) ao ano.

O banco de investimento Morgan Stanley, em Wall Street, foi fundamental para ajudar Musk a conseguir o financiamento a uma velocidade vertiginosa, de acordo com pessoas próximas a Musk e ao conselho do Twitter. O credor entrou em contato com rivais no domingo de Páscoa, em 17 de abril, quando alguns banqueiros estavam em férias com suas famílias, e disse que eles precisariam se comprometer até o dia 20 de abril, acrescentaram as fontes.

Executivos-chefes de alguns credores foram rapidamente informados sobre as discussões para que pudessem decidir se seus bancos participariam do financiamento do acordo de Musk, disseram pessoas envolvidas nas negociações. A equipe de finanças alavancadas do Morgan Stanley, liderada pelo banqueiro Andrew Earls, realizou uma série de ligações de avaliação sobre a aquisição, de codinome Projeto X, segundo pessoas informadas.

"A rua inteira estava correndo como louca", disse um banqueiro envolvido no negócio.

No final, sete bancos concordaram em financiar US$ 13 bilhões (R$ 65,5 bilhões) em empréstimos tradicionais, com outros cinco unindo forças para finalizar o empréstimo com margem de US$ 12,5 bilhões (R$ 63 bilhões). Para muitos, o empréstimo garantido contra as ações da Tesla de Musk foi a parte mais fácil da transação, dada a fortuna de Musk e o fato de as ações da Tesla serem negociadas em um ritmo furioso.

O valor das ações da Tesla negociadas em qualquer dia geralmente supera as ações mais negociadas nos Estados Unidos, incluindo a Apple, a fabricante de chips Nvidia e a Amazon. Essa liquidez tranquilizou os banqueiros: em uma crise potencial na qual Musk entrasse em default, os credores acreditavam que poderiam vender ações da Tesla suficientes no mercado aberto –mesmo que elas estivessem se desvalorizando– para cobrirem integralmente o empréstimo.

Mais importante ainda, foram os US$ 21 bilhões em ações que Musk prometeu comprometer pessoalmente que viraram a maré e levaram os bancos a disputar uma parte do negócio. "Todo mundo fez uma análise cuidadosa em torno disso, mas no final do dia é o cheque de patrimônio. Nunca houve um cheque de patrimônio como este", disse uma pessoa envolvida nas negociações de venda.

No final da semana, a determinação de Musk estava mudando as opiniões. O prêmio de 38% que sua oferta representava começou a parecer especialmente atraente à medida que uma liquidação no mercado de ações atingia outras ações de tecnologia. Uma rodada apressada de propostas pessoais de Musk para alguns dos grandes investidores do Twitter em 22 de abril ajudou a movimentar as coisas.

"As preocupações do conselho em relação ao financiamento foram aliviadas e os acionistas decidiram que era de seu interesse defender essa transação", disse uma pessoa com conhecimento direto do assunto.

Vários grandes acionistas ligaram para membros do conselho do Twitter na sexta e no sábado para pressioná-los a levar a sério a oferta de Musk, disseram pessoas informadas sobre as conversas. Embora o preço das ações do Twitter tenha atingido um pico histórico de quase US$ 80 (R$ 403) durante a pandemia, já que os consumidores passaram mais horas na plataforma, muitos grandes investidores adquiriram as ações quando estavam sendo negociadas a cerca de US$ 20 (R$ 100).

Em 24 de abril, Musk se comunicou diretamente com o presidente do Twitter, Bret Taylor, permitindo que eles dessem o tom e as diretrizes para chegar a um acordo amigável, com proteções e garantias para proteger os acionistas.

Em uma reunião do conselho durante toda a noite de domingo, os diretores do Twitter instruíram seus assessores do JPMorgan Chase e do Goldman Sachs a dar os retoques finais no acordo com Musk. Além do Morgan Stanley, o executivo-chefe da Tesla foi assessorado pelo Barclays e pelo Bank of America.

Musk ainda tem vários assuntos para resolver, sendo o principal como ele financiará o componente da oferta de US$ 21 bilhões em dinheiro. Pessoas próximas ao bilionário disseram que ele ainda não tomou uma decisão final, mas está totalmente ciente de que está numa situação arriscada e disposto a vender ações da Tesla, se necessário.

Enquanto isso, ele conversa com outros potenciais investidores para que entrem no negócio, acrescentaram essas fontes. Seja qual for o resultado, será Musk quem dará as cartas se terminar o que começou e, aos 50 anos, se tornar o prefeito do que ele chamou de "verdadeira praça pública do mundo".

Elon Musk durante um evento em Los Angeles, nos Estados Unidos - Mike Blake/Reuters

Nesta sexta (8), após o anúncio de desistência da compra, o presidente do conselho de administração do Twitter, Bret Taylor, disse em seu perfil na plataforma que o grupo planeja entrar na Justiça para que o acordo seja cumprido.

"O conselho do Twitter está comprometido em fechar a transação no preço e nos termos acordados com Musk," escreveu.

Musk afirmou diversas vezes que estava pensando em desistir do acordo para comprar a rede social, proposto por ele em abril. Como parte do acordo, ele é obrigado a pagar uma multa de US$ 1 bilhão pela desistência.

As ações do Twitter caíam 7% após o anúncio.

James Fontanella-Khan , Eric Platt , Antoine Gara e Richard Waters
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