Descrição de chapéu aeroportos

Eleições e juros podem esfriar leilão de 15 aeroportos

Disputa, que inclui Congonhas, deve atrair investidores, mas incertezas tendem a conter lances

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Rio de Janeiro e São Paulo

O leilão de 15 aeroportos no país, incluindo o de Congonhas, em São Paulo, deve atrair o interesse da iniciativa privada em agosto, mas o cenário de economia instável e incerteza política às vésperas das eleições pode esfriar a disputa, dizem analistas.

Em outras palavras, o certame tende a contar com a presença de grandes grupos, e é provável que todos os terminais sejam negociados.

Porém, as dificuldades macroeconômicas, aliadas às dúvidas sobre o rumo político do país, podem conter os lances que devem ser oferecidos pelas concessões.

Os juros mais altos, que encarecem os investimentos das empresas, e os impactos da pandemia no setor aeroportuário são desafios no radar.

O leilão, agendado para 18 de agosto, na B3, em São Paulo, marca a sétima rodada de concessão de aeroportos. Os 15 terminais estão divididos em três blocos.

Movimentação de passageiros no aeroporto de Congonhas (SP), que irá a leilão - Bruno Santos - 22 dez.2020/ Folhapress

"Os leilões de aeroportos estão ficando cada vez mais escassos", diz Fernando Villela, coordenador do Comitê de Regulação de Infraestrutura Aeroportuária da FGV Direito Rio.

"Naturalmente, isso tudo [quadro de incertezas] tem impacto, mas não no interesse do investidor, talvez no valor da outorga [quantia a ser paga pela concessão]."

Daniel Engel, sócio da área de infraestrutura do escritório Veirano Advogados, vai na mesma linha.

"Não consigo imaginar uma licitação deserta. Talvez os níveis de ágio [diferença ante o lance mínimo] não sejam tão surpreendentes como em leilões anteriores. Você vai ter concorrência, mas talvez com lances menos agressivos", analisa.

O prazo previsto para os contratos é de 30 anos. A estimativa de investimentos nos 15 terminais chega a R$ 7,3 bilhões, diz o Ministério da Infraestrutura.

"O leilão vai ser bem-sucedido? Se estabelecermos como critério de sucesso que algum grupo vá bidar [fazer proposta] em cada bloco, acho que vai ser", afirma o economista Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria.

"Se fosse no pré-pandemia, não teria dúvida de que haveria muita competição. As concessões são de longo prazo, mas há muita incerteza. O custo do capital aumentou. Está mais difícil financiar um projeto hoje."

Congonhas é joia da coroa

Congonhas é a joia da coroa da sétima rodada. O aeroporto da capital paulista lidera o Bloco SP/MS/PA/MG, que conta com outros dez terminais.

Três ficam em Mato Grosso do Sul (Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã), quatro no Pará (Santarém, Marabá, Parauapebas e Altamira) e três em Minas Gerais (Uberlândia, Uberaba e Montes Claros).

Segundo o Ministério da Infraestrutura, a previsão de investimentos no bloco é de R$ 5,9 bilhões. A outorga inicial —lance mínimo a ser oferecido no leilão— é de R$ 740,1 milhões.

Congonhas é, com folga, o aeroporto mais movimentado em disputa, mas ainda tenta se recuperar dos efeitos da pandemia.

Em 2019, período pré-coronavírus, o terminal paulista recebeu quase 22,3 milhões de passageiros pagos, entre embarques e desembarques, conforme a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Em 2021, o número foi de 9,4 milhões. Ou seja, ficou 57,6% abaixo do ano anterior à pandemia.

A expectativa de aeronautas (profissionais a bordo de aeronaves) e companhias aéreas é que a concessão traga investimentos em infraestrutura, com foco em aumento da segurança dos voos.

"Aeroportos que já foram concedidos receberam melhorias. O de Porto Alegre aumentou o comprimento da pista. No de Guarulhos, ampliaram a parte da segurança interna, melhorando as fiscalizações", diz Henrique Hacklaender, presidente do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas).

"Muito do sistema Infraero não é lucrativo. Tem aeroporto que não tem demanda. Um operador privado vai ter que lutar para transformar o aeroporto em algo sustentável", afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).

O segundo maior terminal do Bloco SP/MS/PA/MG, em número de passageiros, é o de Campo Grande.

Em 2019, o terminal somou quase 1,5 milhão. No ano passado, o número de passageiros foi de cerca de 1 milhão, 31,2% menor.

Na visão de analistas, a estratégia do bloco é unir o chamado filé com o osso. Ou seja, o desenho juntou um aeroporto cobiçado pela iniciativa privada, que é Congonhas, com terminais menos movimentados e que, se fossem leiloados sozinhos, talvez não gerassem apetite de investidores.

Por outro lado, um dos pontos que chamam atenção é que os 11 ativos do lote estão espalhados em estados de três regiões.

"Faz todo o sentido juntar o filé com o osso. A questão é que osso você une ao filé. Juntar ativos muito dispersos pode ser questionável", diz Frischtak, da Inter.B.

Mais dois blocos no leilão

Outro bloco em disputa na sétima rodada é o Norte II. Formado pelos terminais de Belém (PA) e Macapá (AP), o lote tem R$ 875 milhões em investimentos previstos, segundo o Ministério da Infraestrutura. O valor inicial da outorga é de R$ 56,9 milhões.

Segundo dados da Anac, o aeroporto de Belém é o mais movimentado da região Norte. Em 2019, antes da pandemia, foram 3,5 milhões de passageiros entre embarques e desembarques. Em 2021, o número foi 24,2% menor, de 2,7 milhões.

"Belém é o ativo mais atraente do bloco, com potencial de turismo. O desenho com Macapá não está errado. É possível", analisa Frischtak.

O bloco batizado como Aviação Geral completa a sétima rodada. O lote reúne dois aeroportos voltados para a aviação executiva: Campo de Marte, em São Paulo, e Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

O lance mínimo para os dois ativos é de R$ 141,4 milhões. A previsão de investimentos é de R$ 560 milhões, afirma o Ministério da Infraestrutura.

Presença de grandes operadores é aguardada

Fontes que acompanham o assunto esperam que operadores nacionais e grupos estrangeiros que já atuam no Brasil participem da sétima rodada.

Entre as empresas cotadas para o certame, estão a CCR, a espanhola Aena, a francesa Vinci Airports, a alemã Fraport e a suíça Zurich Airport.

No caso de Campo de Marte e Jacarepaguá, investidores do setor imobiliário chegaram a sinalizar interesse pela concessão. Os dois terminais têm área com potencial para novas construções e exploração imobiliária.

Consultado sobre a possível participação na sétima rodada, o Grupo CCR relatou que "está sempre atento às oportunidades de negócios".

"E elas são analisadas de acordo com sua matriz de risco, pressupostos de disciplina de capital, segurança jurídica e criação de valor para os acionistas e investidores", completou.

A Aena Brasil disse que "está analisando o negócio". "A participação é possível, mas dependerá da finalização desse trabalho."

A Fraport e a Vinci Airports relataram que não comentam especulações ou possíveis movimentos comerciais. A Zurich Airport não respondeu.

Impacto na Infraero

Inicialmente, o aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, também seria leiloado na sétima rodada. Porém, após críticas de lideranças locais ao desenho da operação, o terminal foi retirado do certame.

Se Congonhas for repassado à iniciativa privada, o Santos Dumont restará como o grande ativo ainda nas mãos da Infraero.

O governo fala em conceder o aeroporto do Rio em 2023, em conjunto com a relicitação do Galeão, também localizado na capital fluminense, mas analistas consideram o prazo apertado.

O futuro da Infraero, aliás, ainda desperta dúvidas. "Uma vez que esteja concluída a transferência de ativos aeroportuários da União à iniciativa privada, a Infraero terá seu papel reformulado de forma gradual", disse o Ministério da Infraestrutura à Folha.

A estatal informou que emprega 971 funcionários nos 15 aeroportos do leilão agendado para agosto. A maior parte fica em Congonhas: 389.

O Sina (Sindicato Nacional dos Aeroportuários), que representa trabalhadores da Infraero e de concessionárias privadas, vê "desespero" do governo federal em realizar a sétima rodada neste momento.

A entidade defende uma discussão mais ampla de aspectos relacionados a um possível aumento no tráfego de Congonhas.

"Para o presidente do Sina, Francisco Lemos, esse aeroporto funciona como uma peça extremamente justa na engrenagem complexa da cidade e qualquer alteração nesta peça deveria passar por uma discussão mais ampla com Alesp, Câmara Municipal, Ministério Público Estadual e entidades ligadas diretamente à operação do aeroporto, como associações de moradores e o próprio sindicato", diz a entidade.

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