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Maiores economias correm risco de cair na armadilha da alta inflação, diz BIS

Banco de Compensações Internacionais pede ação mais firme dos bancos centrais do mundo

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Chris Giles
Londres | Financial Times

As principais economias mundiais estão perto de "inclinar-se" para um mundo de alta inflação, onde os rápidos aumentos de preços são normais, dominam a vida cotidiana e são difíceis de conter, alertou o Banco de Compensações Internacionais neste domingo (26).

Em seu relatório anual, o BIS, órgão influente que opera serviços bancários para os bancos centrais do mundo, disse que essas transições para ambientes de alta inflação aconteceram raramente, mas foram muito difíceis de reverter.

Diagnosticando que muitas economias já haviam embarcado no processo, o BIS recomendou que os bancos centrais não tenham medo de infligir dificuldades em curto prazo, e até recessões, para evitar a mudança para um mundo de alta inflação persistente.

Agustín Carstens, gerente geral do BIS, disse: "A chave para os bancos centrais é agir rápida e decisivamente antes que a inflação se instale".

Sede de Federal Reserve em Washington, nos Estados Unidos - Leah Millis - 23.jun.22/Reuters

Os bancos centrais de todo o mundo começaram a aumentar as taxas rapidamente em resposta ao aumento da inflação, com o Federal Reserve dos Estados Unidos liderando o grupo, mas as medidas tomadas até agora não satisfazem o BIS.

Em seu relatório, o banco disse que houve um choque profundo "intrinsecamente estagflacionário" que atingiu o mundo devido aos preços mais altos das commodities, gargalos na cadeia de suprimentos e escassez de insumos decorrente da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Isso aumentou os preços dos bens e serviços que as famílias mais notaram, reforçando a gravidade do aumento de preços.

"Podemos estar chegando a um ponto de inflexão, além do qual uma psicologia inflacionária se espalha e se arraiga. Isso significaria uma grande mudança de paradigma", afirmou o relatório.

Tal mudança significaria deixar para trás um mundo onde os preços têm sido geralmente estáveis, com algumas coisas ficando mais baratas e outras, mais caras. Neste mundo benigno, os bancos centrais conseguiram ignorar os aumentos temporários nos preços do petróleo ou do gás natural porque "a inflação em toda a economia [é] menos perceptível [e] também menos relevante".

Após a entrada em um período de inflação elevada, "as mudanças de preços são muito mais sincronizadas e a inflação é muito mais um ponto focal para o comportamento dos agentes econômicos, exercendo sobre ela uma grande influência".

A inflação atingiu picos de várias décadas em diferentes economias, incluindo os EUA, a zona do euro e o Reino Unido. O BIS estava preocupado que as principais economias da América do Norte, Europa e muitos mercados emergentes estivessem perto de um ponto de inflexão. Os consumidores haviam notado altas de preços, grandes aumentos se tornaram gerais na maioria dos bens e a queda dos salários reais gerava tentativas de recuperar as perdas.

Famílias em supermercado no Canadá; inflação alta persiste em todo o mundo - Carlos Osorio - 19.jun.22/Reuters

Ignorar os aumentos de preços não era mais racional para os consumidores, disse o BIS, o que reforçou o perigo de uma mudança para um mundo de alta inflação.

"À medida que a inflação aumenta e se torna um ponto focal para o comportamento dos agentes, os padrões comportamentais tendem a fortalecer a transição", acrescentou, prevendo que as empresas lutarão para evitar que as margens de lucro sejam apertadas e os trabalhadores defenderão seus salários.

A duração da maioria dos contratos tenderia a diminuir, acrescentou, porque as partes de ambos os lados não poderiam garantir os níveis de preços no futuro.

Para reduzir a inflação, o BIS disse que "algum sofrimento será inevitável", mas disse que, em última análise, as dificuldades da inflação arraigada "superam em muito as dificuldades em curto prazo para controlá-la".

"Isso valoriza uma resposta oportuna e decisiva", aconselhou o BIS aos bancos centrais membros, mesmo que nenhum deles tivesse certeza de que havia entrado num ambiente de alta inflação.

O BIS acrescentou: "A prioridade primordial é evitar ficar para trás da curva, o que acabaria por implicar um ajuste mais abrupto e vigoroso. Isso amplificaria os custos econômicos e sociais de controlar a inflação".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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