Descrição de chapéu The New York Times

Netflix aposta alto em 'Agente Oculto', filme mais caro de sua história, em meio a perda de assinantes

Companhia deve divulgar queda ainda maior de usuários nesta terça (19) e busca frear crise com nova produção

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Nicole Sperling
Nova York | The New York Times

Anthony e Joe Russo gostam de jogar alto. Em "Vingadores: Guerra Infinita", de 2018, os irmãos diretores chocaram os fãs quando apagaram a metade da população global e permitiram que seus super-heróis da Marvel falhassem. No ano seguinte, eles aumentaram as apostas com o filme de três horas "Vingadores: Ultimato", que faturou US$ 2,79 bilhões (R$ 15,18 bilhões) nas bilheterias globais, a segunda maior quantia até então.

E agora temos "Agente Oculto", filme da Netflix que eles escreveram, dirigiram e produziram. O serviço de streaming lhes deu cerca de US$ 200 milhões (R$ 1,08 bilhão) para correr pelo mundo e fazer Ryan Gosling e Chris Evans interpretarem funcionários da CIA que tentam matar um ao outro. "Quase nos matou", disse Joe Russo sobre a filmagem.

Ryan Gosling no tapete vermelho de "Agente Oculto" - Fabrizio Bensch - 18.jul.2022/Reuters

Uma sequência de ação levou um mês para ser produzida. Envolvia grandes armas, um bonde atravessando o bairro da Cidade Velha de Praga e Gosling lutando contra um exército de assassinos algemado a um banco de pedra. É um daqueles espetáculos que fazem o público aplaudir. O momento custou cerca de US$ 40 milhões (R$ 217 milhões) para ser feito. "É um filme dentro de um filme", disse Anthony Russo.

"Agente Oculto" estará disponível na Netflix nesta sexta-feira (22) e chega num momento crítico para a plataforma de streaming, que anunciará seus resultados do segundo trimestre nesta terça (19). Muitos na indústria acreditam que os resultados serão ainda piores que a perda de 2 milhões de assinantes que a empresa previu em abril.

Os lucros do primeiro trimestre da companhia levaram a uma queda vertiginosa no preço de suas ações. Desde então, a empresa demitiu centenas de funcionários, anunciou que criará um plano de assinatura mais barato com comerciais e pretende reprimir o compartilhamento de senhas entre amigos e parentes.

Nesta segunda-feira (18) a empresa anunciou que vai cobrar um adicional de usuários em cinco países latino-americanos (Argentina, República Dominicana, Honduras, El Salvador e Guatemala) que acessarem suas contas em mais de uma residência. Por enquanto o Brasil não terá a nova cobrança.

Apesar do momento difícil atual, os bolsos fundos da Netflix e a abordagem prática às decisões criativas fizeram dele o único estúdio capaz de corresponder às ambições dos Russo e sua busca por autonomia.
"Teria sido um filme drasticamente diferente", disse Joe Russo, referindo-se à possibilidade de fazer "Agente oculto" em outro estúdio, como a Sony, onde originalmente seria produzido. Os irmãos disseram que ir para outro lugar exigiria que eles cortassem um terço do orçamento e reduzissem a ação.

A Netflix, mesmo neste momento de humildade, pode pagar adiantado quando não está sobrecarregada com os custos que acompanham lançamentos muito maiores nos cinemas. E para Scott Stuber, diretor de cinema global da Netflix, que deu sinal verde para a franquia "Identidade Bourne" quando estava na Universal Pictures, filmes como "Agente Oculto" são o que ele lutou para fazer desde que ingressou na empresa há cinco anos.

"Ainda não estivemos nesse gênero, realmente", disse Stuber. "Se você vai fazer isso, quer lidar com cineastas que na última década criaram algumas das maiores franquias e os maiores filmes de ação no nosso meio."

O filme é o mais caro do serviço de streaming e talvez sua maior aposta, ao tentar criar uma franquia de espionagem nos moldes de James Bond ou "Missão Impossível". Se funcionar, os irmãos Russo têm planos de expandir o universo de "Agente Oculto" com filmes e séries de televisão adicionais, como a Disney fez com suas franquias Marvel e "Star Wars".

Mas essas franquias, embora turbinadas pelo streaming e integrantes das ambições do Disney+, são, antes de tudo, empreendimentos para cinemas. "Agente Oculto" será lançado em 450 salas, o que está muito longe das 2.000 ou mais onde se veria um lançamento típico de grande orçamento num fim de semana de estreia. E a disponibilidade quase simultânea na Netflix garante que a maioria dos espectadores assistirá ao filme em casa. Os lançamentos da companhia nos cinemas costumam sair de cartaz muito mais depressa do que os dos estúdios tradicionais.

"Se você está tentando construir uma franquia, por que começaria em um serviço de streaming?", perguntou Anthony Palomba, professor da Escola de Administração Darden da Universidade da Virgínia, que estuda tendências de mídia e entretenimento, especificamente as mudanças de hábitos dos consumidores.

Os Russo também estão produzindo a sequência de "Resgate", com Chris Hemsworth, para a Netflix, e acabaram de anunciar que a empresa vai financiar e lançar seu próximo empreendimento de direção, um filme de ação de ficção científica de US$ 200 milhões, "The Electric State", com Millie Bobby Brown e Chris Pratt.

Stuber apontou para a sequência de "Resgate" e um filme de espionagem estrelado por Gal Gadot, "Heart of Stone", ambos com lançamento previsto para o ano que vem, como provas de que a empresa ainda está dando grandes saltos apesar de suas dificuldades. Ele reconheceu, no entanto, que as recentes realidades dos negócios forçaram a Netflix a pensar mais nos projetos que escolhe.

"Não estamos reduzindo loucamente nossos gastos, mas estamos reduzindo o volume", disse Stuber. "Estamos tentando ser mais cuidadosos."

Ele acrescentou: "Éramos uma empresa que foi, por muito tempo, um negócio de volume. E agora estamos sendo muito específicos sobre segmentação".

O lado teatral da indústria cinematográfica é um enigma para a Netflix. O apetite do estúdio por risco costuma ser maior do que o dos estúdios tradicionais, porque não gasta tanto dinheiro colocando filmes nos cinemas e não precisa se preocupar com números de bilheteria. Por outro lado, a falta de grandes lançamentos nos cinemas tem sido um ponto de discórdia com os cineastas que desejam exibir sua criatividade nas telas o máximo possível e esperam criar comoção entre o público.

E a força das bilheterias nos últimos meses para filmes tão diferentes quanto "Top Gun: Maverick", "Minions 2: A Origem de Gru" e "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" (que os Russo produziram) levou muitos a repensar a influência dos cinemas, que a pandemia prejudicou gravemente.

Stuber reconheceu que uma maior presença física era um objetivo, mas que requer uma oferta constante de filmes que possam se conectar com um público global.

"É aonde estamos tentando chegar: temos o suficiente desses filmes de forma constante para podermos estar nesse mercado?", disse ele.

Também exigiria que a Netflix calculasse por quanto tempo deixaria seus filmes serem exibidos exclusivamente nos cinemas antes de aparecerem no streaming. Embora a janela de exibição de "Agente Oculto" seja curta, os Russo esperam que o filme mostre que a Netflix pode ser um lar para o público de filmes de grande orçamento, que aprecia os irmãos.

"Sabendo que você tem, em última análise, uma plataforma de distribuição capaz de atrair 100 milhões de espectadores como fez com 'Resgate', mas também o potencial para uma grande janela teatral com uma campanha promocional equivalente", disse Joe Russo, "você tem um estúdio muito poderoso."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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