Descrição de chapéu The New York Times

Holandesa investe em submarinos particulares e cria versão Nemo, com dois lugares

U-Boat Worx espera levar suas máquinas subaquáticas pessoais às massas

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Kevin Koenig
Nova York | The New York Times

Na protegida costa sul de Curaçau, uma ilha tropical nas Antilhas, 64 quilômetros ao norte da Venezuela, fica um enorme navio da marinha holandesa da época da Guerra Fria, que abriga algo notável.

O barco serve como posto avançado no Caribe da U-Boat Worx, uma construtora de submarinos pessoais com sede na Holanda, que espera levar suas máquinas subaquáticas às massas. Eu estava lá para testar uma experiência extraordinária que, até recentemente, estaria fora do alcance de todos, exceto os mais ricos.

Esta praia em particular, com seu mar constantemente calmo, era ideal para um mergulho até um leito marinho tão escuro e estranho quanto a superfície oculta da lua.

Dois homens entram em um pequeno submarino, perto de outras embarcações
Modelo de submarino U-boat Worx C-Quester apresentado durante evento náutico em Mônaco - Eric Gaillard - 25.set.2013/Reuters

O submersível em que entrei (Super Yacht Sub 3 da U-Boat Worx) seguiu uma corda-guia coberta de algas pelo relevo íngreme da ilha, até que a luz do sol desapareceu.

A cor da água mudou de verde-esmeralda para um azul arroxeado, depois um cinza-tempestade e, finalmente, uma escuridão inflexível com a "neve marinha" rodopiando (partículas de matéria orgânica).

Desde a sua invenção, no século 17, os submarinos foram usados principalmente para guerra, comércio e ciência. Agora eles se tornaram a última fronteira dos cruzeiros de lazer.

"Em 2007, fomos ao Monaco Yacht Show para apresentar nossos submarinos aos velejadores, e as pessoas acharam que era uma piada", disse Erik Hasselman, diretor comercial da U-Boat Worx, falando em inglês com sotaque holandês.

"Eles pensaram que éramos um grupo de estudantes malucos com um protótipo, e ninguém achou que fosse real. Então, um punhado de proprietários de superiates começou a comprá-los, e agora todos que têm um iate de mais de 150 pés (45 metros) estão pelo menos considerando comprar um."

Até o momento, a U-Boat Worx vendeu 40 submarinos e tem mais 15 em produção. Dependendo da marca e do modelo, os submarinos pessoais tendem a variar de US$ 2,5 milhões a US$ 3,5 milhões (R$ 12,6 milhões a R$ 17,7 milhões) –excluindo o preço do iate de US$ 35 milhões (R$ 177 milhões).

Mas a U-Boat Worx lançou recentemente uma série de modelos mais baratos de dois lugares, chamados Nemo, com recursos padronizados e um sistema operacional mais simples que não requer um profissional.

A U-Boat Worx oferece aos proprietários do Nemo um curso de treinamento de duas semanas que inclui teoria e 20 mergulhos de experiência. Custa US$ 1 milhão –o preço de, digamos, uma casa muito boa nos subúrbios de Nova York.

Em sua missão de vender mais submersíveis, a empresa está lançando um programa de propriedade compartilhada com base em Curaçau e Bonaire, nas Antilhas holandesas, e no sul da França, que permite aos clientes dividir o custo de propriedade em oitavos (mais treinamento), por cerca de US$ 154 mil (R$ 780 mil) cada um.

Em outras palavras, a propriedade do submarino pode agora ser desfrutada por um dentista particularmente bem-sucedido.

Hasselman sugeriu que as embarcações U-Boat Worx estão entre os meios de transporte mais seguros do mundo. "Fizemos 3.700 mergulhos sem incidentes", disse ele com um sorriso.

O catalisador improvável para o sucesso do submarino pessoal foi a indústria de cruzeiros. "Em 2015, fizemos nossa primeira entrega para uma linha de cruzeiros", disse Hasselman, "e isso mudou a percepção geral porque é um grande negócio. Se uma empresa de cruzeiros está fazendo algo, então deve ser comprovado e infalível."

Hoje, várias linhas de cruzeiro usam submarinos para satisfazer os desejos de aventura de seus hóspedes. Por exemplo, a Seabourn Cruise Line trata suas excursões ao Ártico e à Antártida como safáris –levando ornitólogos, biólogos marinhos, geólogos e outros especialistas como parte do pacote.

Os submarinos desempenham um papel vital nessas experiências. Um lugar a bordo de um mergulho polar de 45 minutos custa a partir de US$ 899 (R$ 4,5 mil). Num momento em que um vídeo causador de inveja postado nas redes sociais é uma espécie de moeda, para alguns, esse é um bom investimento.

Submarinos pessoais não são apenas para passear. Carl Allen, empresário que vendeu a empresa de sua família em 2016, é dono de uma embarcação construída pela Triton Submarines, principal concorrente da U-Boat Worx.

A Triton, com sede na Flórida (EUA), é mais conhecida por levar o financista e aventureiro Victor Vescovo à parte mais profunda da Fossa das Marianas –11 quilômetros abaixo do nível do mar– em um modelo com casco de titânio, em 2019. A embarcação de Vescovo quebrou um recorde de profundidade antes detido pelo cineasta James Cameron, de "Titanic".

James Cameron, diretor do filme Titanic, ao retornar de uma exploração solitária no local conhecido como ponto mais profundo do planeta, a Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico
James Cameron, diretor do filme Titanic, ao retornar de uma exploração solitária no local conhecido como ponto mais profundo do planeta, a Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico - Mark Thiessen 26.mar.2021/Reuters

Allen também é dono de Walker's Cay, uma ilha no norte das Bahamas, e a usa como base para uma operação de caça ao tesouro equipada com submarinos.

"Uma vez que você chega abaixo de cerca de 45 metros, há uma boa chance de ver algo que ninguém nunca viu", disse Allen. Ele conta entre seus achados balas de mosquete, barras de ouro e uma grande esmeralda que acredita ser parte do tesouro do famoso naufrágio do Nuestra Señora de las Maravillas. Allen abriu um museu marítimo em Freeport, nas Bahamas, em conjunto com o governo.

Para Allen, um mergulhador experiente, mergulhar num submarino tem um ar de camping chique. "Você não precisa mais de tanques de oxigênio para ver todas as coisas que há lá embaixo", disse ele. "Você toma um coquetel, escolhe sua música, desce algumas centenas de metros e se diverte."

Nem todo mundo se sente assim sobre a experiência. Para alguns novatos em submarinos, a claustrofobia é um grande problema.

Os compartimentos de passageiros na maioria dos modelos são apertados pela definição de qualquer pessoa. Allen disse que recentemente teve um piloto de F-16 a bordo de seu submarino que o comparou ao cockpit de um jato de combate. E não há banheiro, o que significa que os viajantes devem pensar duas vezes sobre aquele coquetel.

Mas não é apenas a claustrofobia. A maneira particular como a luz refrata através da água do mar e a bolha de acrílico de 10 centímetros de espessura que separa os passageiros da água pode induzir um medo de cair do barco. "Tivemos alguns problemas com ataques de pânico", admitiu Hasselman, "mas geralmente podemos dizer se algo está acontecendo antes de realmente começarmos."

A curvatura da janela também distorce os objetos debaixo d'água, então eles parecem menores e mais próximos do que realmente são. Por exemplo, o Stella Maris, um cargueiro de 90 metros afundado intencionalmente em Curaçau, parecia um brinquedo de banheira para mim enquanto o submarino o rodeava.

Mas estar a centenas, ou até milhares, de metros de profundidade no oceano é sentir-se engolido por algo impossivelmente grande e incessantemente desafiador. Pode haver uma estranha paz nisso. Depois que o mundo lá fora fica preto, o piloto muitas vezes pergunta se os passageiros gostariam de desligar os faróis do submarino e ficar parados por um momento no escuro, no fundo do mar.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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