Temor de recessão no mercado de games cresce com resultados ruins

Números colocam em xeque fama de que setor seria à prova de recessões

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São Paulo

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As nuvens negras da recessão se aproximam dos Estados Unidos e da Europa, e a indústria de games dá sinais de que não passará ilesa às intempéries, recuperando uma antiga discussão: afinal, o mercado de games seria à prova de recessões?

A fama de que as empresas de games seriam praticamente imunes a crises financeiras ganhou força na segunda metade dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando o setor passava por uma fase de crescimento agudo e parecia sofrer pouco em períodos de turbulência na economia.

Vendedora carrega console PlayStation 5 recém comprado em Kawasaki, no Japão
Vendedora carrega console PlayStation 5 recém comprado em Kawasaki, no Japão - Charly Triballeau - 12.nov.20/AFP

Em artigo para o site Gameindustry.biz, o pesquisador Rob Fahey aponta dois fatores principais para esse fenômeno:

  • O rápido crescimento do público consumidor no período. Crianças que começaram a jogar videogame no fim dos anos 1980 e começo dos 1990 cresceram e continuaram a jogar na adolescência e no início da vida adulta –ajudados por um amadurecimento também da indústria, que começou a fazer jogos para essa audiência, enquanto mais crianças entravam nesse mercado consumidor.

  • Jogos de videogame são uma forma relativamente barata de entretenimento. Mesmo em uma época de crise e desemprego, as pessoas ainda buscam formas de lazer. No caso dos games, pelo mesmo preço de sair uma noite para jantar com a família (ou até menos) é possível comprar um jogo e se divertir por dezenas de horas.

No entanto, ele diz que mudanças recentes fizeram esses dois colchões de proteção diminuírem significativamente:

  • Apesar de o mercado de games ainda estar em crescimento, o ritmo não é mais o mesmo. Além disso, uma das áreas em que a expansão é mais forte, a de games mobile, é historicamente subestimada por empresas tradicionais do setor e muitas vezes vista como de menor importância, apesar desse panorama estar mudando.

  • Além disso, empresas estão cada vez mais apostando em microtransações e pacotes de expansão, o que demanda que os jogadores continuem gastando mesmo após realizarem a primeira compra. Assim, alguns podem não ver mais videogames como opções tão baratas de entretenimento.

Os números nada animadores divulgados pela indústria nas últimas semanas podem ser entendidos como um sinal de que a proteção que o setor tinha para épocas de crise realmente não existe mais.

As três principais fabricantes de consoles da atualidade, Nintendo, Sony e Microsoft, reportaram resultados abaixo do esperado em suas divisões de games, com queda acentuada nas vendas de seus principais produtos.

Entre abril e junho deste ano, a Nintendo registrou uma diminuição de 23% na venda de consoles e de 8,6% na de jogos em relação ao mesmo período do ano anterior. A Microsoft teve números só um pouco melhores, com queda na venda de hardwares de 11% e de 6% em softwares.

Mulher posa com Nintendo Switch recém adquirido em Tóquio
Mulher posa com Nintendo Switch recém adquirido em Tóquio - Toshifumi Kitamura - 30.out.17/AFP

Já a Sony anunciou um aumento de 4% nas vendas do PlayStation 5, mas as boas notícias acabaram por aí. A venda de jogos para PS4 e PS5 caiu 26% em relação ao ano passado, resultando em uma queda de 2% da receita da área de games da empresa e redução das expectativas para o resto do ano.

E eles não foram os únicos. A Capcom (das séries "Resident Evil" e "Street Fighter") teve queda de 50% das vendas; a Square Enix (de "Final Fantasy"), de 15,5%, e a Take-Two (da série "GTA"), que fez seu primeiro relatório desde a aquisição da Zynga, reportou queda de 28% nas vendas neste primeiro trimestre do ano fiscal se comparado à soma dos resultados das duas empresas em igual período de 2021.

Os números negativos, porém, são vistos pelas empresas mais como o resultado de problemas pontuais e passageiros do que como o início de uma crise de longo prazo. Muitas delas apontam, por exemplo, uma comparação injusta dos números de 2022 com os de 2021, quando o setor de games ainda era impactado positivamente pelo aumento das vendas durante o período de lockdown.

"O crescimento como um todo do mercado de games desacelerou à medida que aumentaram as oportunidades para os consumidores saírem de casa devido à redução das infecções pelo novo coronavírus em mercados chave", afirmou a Sony em seu relatório financeiro ao apontar queda de 15% do tempo que os usuários gastam nos consoles PlayStation.

Já a Nintendo atribuiu seus resultados a um rescaldo das crises internacionais de logística e de escassez de chips semicondutores.

Analistas independentes destacaram também a ausência de grandes lançamentos no período. "O hiato do meio do ano de lançamento de jogos de videogame é lamentável e muito disso é resultado do azar. A interrupção no desenvolvimento de jogos devido à pandemia não ajudou [...] e muitos publishers estão em estado de espera até que seus novos games sejam lançados", afirmou o consultor e analista do mercado de videogames Sam Naji em artigo para o site Gamesindustry.biz.

O argumento faz sentido. A Bandai Namco, distribuidora de "Elden Ring", um dos poucos grandes lançamentos de 2022 até o momento, foi um dos pontos fora da curva no mercado ao registrar aumento de 54,5% das vendas de games no último trimestre.

De forma geral, a situação do setor de games pode ser resumida pela análise da consultoria Newzoo. A empresa identificou desaceleração do mercado e reduziu suas expectativas para 2022, mas, ainda assim, estima um crescimento de 2% da indústria de games como um todo.

Se as previsões estiverem corretas, não devemos ver nos próximos meses demissões em massa de funcionários de estúdios ou novos games sendo cancelados por falta de dinheiro. No entanto, parece claro que os tempos de céu azul e mar tranquilo ficaram no passado.


Play

dica de game, novo ou antigo, para você testar

Portal

(PC e Switch)

Lançado em 2007, "Portal" já pode ser considerado um clássico. O game da Valve é um puzzle de ação 3D em primeira pessoa em que o jogador precisa usar uma arma que produz portais interdimensionais para chegar até o fim de uma sequência de labirintos. A premissa é simples, mas os desafios de física presentes no título exigem que o jogador pense "fora da caixa" para encontrar soluções. Só isso já seria bom, mas o jogo conta ainda uma história fantástica de ficção científica e com diálogos divertidíssimos. Originalmente lançado para PCs, o game foi lançado recentemente para Switch em um pacote que inclui "Portal 2", sequência tão boa quanto o título de estreia.

Imagem do jogo "Portal", da Valve
Imagem do jogo "Portal", da Valve - Divulgação

Update

novidades, lançamentos, negócios e o que mais importa

  • Em documento enviado ao Cade, advogados da Microsoft no Brasil acusaram a Sony de pagar para desenvolvedoras não colocarem seus jogos no Xbox Game Pass, afirma o site Adrenaline. A manifestação aconteceu após os donos da PlayStation se posicionarem contra a aquisição da Activision Blizzard pela Microsoft sob o argumento de que a série "Call of Duty" é um produto muito importante para ficar sob exclusividade da sua concorrente.
  • O game de mundo aberto "Hogwarts Legacy", baseado no universo de Harry Potter, teve seu lançamento adiado. Previsto inicialmente para o fim deste ano, o jogo só deve chegar aos PCs e aos consoles PlayStation e Xbox no dia 10 de fevereiro de 2023. Em um post no Twitter, a equipe responsável pelo game falou que "precisava de um pouco mais de tempo para entregar a melhor experiência possível".
  • O RPG tático "Marvel's Midnight Suns" teve seu lançamento adiado pela segunda vez. O jogo desenvolvido pela Firaxis Games (das séries "Civilization" e "XCOM"), que inicialmente era esperado para março deste ano, só deve chegar às mãos do público em fevereiro ou março do ano que vem.
  • A Square Enix anunciou que seu estúdio de Londres está desenvolvendo um novo game mobile baseado no seriado da Nickelodeon "Avatar: A Lenda de Aang". O jogo se chamará "Avatar: Generations" e, segundo a empresa, será um RPG de aventura gratuito com batalhas táticas. Não há data prevista para lançamento.
  • Ainda em fase beta, o game de luta com personagens da Warner "MultiVersus" alcançou na última semana a marca de 10 milhões de jogadores, segundo dados do site tracker.gg. Com previsão de lançamento ainda para este ano, o jogo será gratuito e terá versões para PC e consoles Xbox e PlayStation.

Download

games que serão lançados nos próximos dias e promoções que valem a pena

15.ago

"MultiVersus": grátis (PC, Xbox One/X/S, PS 4/5)

16.ago

"Rollerdrome": sem preço disponível (PC, PS 4/5)

17.ago

"Kirby's Dream Buffet": R$ 77 (Switch)

18.ago

"Cursed to Golf": R$ 37,99 (Switch), sem preço disponível (PC, Xbox One/X/S, PS 4/5)

"We Are OFK": R$ 34,19 (Switch), preço não disponível (PC, PS 4/5)

"RPG Time: The Legend of Wright": R$ 143 (Switch)

"Thymesia": sem preço disponível (PC, Xbox One/X/S, PS 4/5)

19.ago

"Madden NFL 23": R$ 249 (PC), R$ 299 (Xbox One e PS 4), R$ 339 (Xbox X/S e PS 5)

Promoção da semana


A Humble Bundle colocou no ar uma promoção de jogos da série "Resident Evil". O preço dos conjuntos varia de US$ 1 (R$ 5), para o mais simples com 3 games, até US$ 30 (R$ 150), para o pacote completo de 10 jogos, incluindo os remakes de "Resident Evil 2" e "Resident Evil 3", e um cupom de 50% de desconto para "Resident Evil Village", título mais recente da série. Parte do valor arrecadado será revertido para instituições filantrópicas. A oferta vai até 24 de agosto.


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