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Sergio Leite

A urgente reindustrialização do Brasil

Enfraquecimento da nossa indústria gera menos emprego e fuga de mão de obra qualificada

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Sergio Leite

Presidente do Conselho de Administração da Usiminas e vice-presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil

O crescimento econômico do país é essencial para o bem-estar das pessoas. Não podemos, porém, nos contentar com índices ainda tão aquém do potencial da indústria brasileira, do agronegócio e de tantos outros segmentos da nossa economia.

O Brasil vem enfrentando, nos anos 2000, um preocupante processo de desindustrialização.

A indústria de transformação nacional se consolidou na segunda metade do século passado como uma importante geradora de vagas de trabalho de alta qualificação, com melhores remunerações e uma participação na formação do PIB que se reduziu de um patamar superior a 25% para cerca de 10% nas últimas décadas, com forte impacto na geração de empregos e bem-estar para as pessoas.

E por que a indústria nacional perdeu e continua perdendo espaço? Por uma série de fatores, especialmente pelos aspectos estruturais que fazem com que o chamado custo Brasil impacte fortemente nossa competitividade e nosso desenvolvimento. Nesse sentido, temos desafios de várias naturezas, como questões de tributação, burocracia, infraestrutura logística e tantos outros.

Linha de montagem de motos na fábrica da Honda no distrito industrial da Zona Franca Manaus - Lalo de Almeida - 5.ago.2018/Folhapress

Além do custo Brasil, novos desafios vêm sendo colocados com o passar do tempo. Soma-se a ele o forte protecionismo em escala mundial que hoje marca as grandes economias, a pandemia e, mais recentemente, o conflito entre Rússia e Ucrânia, dois importantes players da economia globalizada.

Hoje, a indústria do aço, para ficar no setor no qual atuo há mais de 45 anos, trabalha com uma capacidade ociosa, conforme o Instituto Aço Brasil, superior a 30%. O consumo de aço no país segue muito aquém do potencial. Segundo o mesmo instituto, de 1980 a 2021, o consumo interno passou de 100,6 em 1980 para 122,3 quilos por habitante em 2021. Já a China, no mesmo período, teve um crescimento de 32 para 666,5 quilos por habitante/ano.

Embora as dificuldades antecedam à pandemia, a Covid-19 agravou ainda mais a situação, com a indústria de transformação brasileira acumulando expressiva queda de produção na última década.

Precisamos nos mobilizar pela reindustrialização do Brasil, já que tivemos uma industrialização tardia e uma desindustrialização prematura. O enfraquecimento da nossa indústria vem se refletindo em menos emprego e muitas vezes fuga de mão de obra qualificada para outros países.

À parte todos os grandes desafios que temos pela frente, a indústria brasileira, em sua grande maioria, é muito competitiva nos intramuros. Por isso mesmo, acredito na nossa imensa capacidade de vencer esses obstáculos e de gerar, cada vez mais, valor para toda a sociedade brasileira.

Engenheiro metalúrgico pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e mestre em Engenharia Metalúrgica pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Sergio Leite de Andrade, 67, é presidente do conselho de administração da siderúrgica Usiminas. Presidiu a empresa entre 2016 e maio de 2022.

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