As ações da Porsche estrearam em forte alta nesta quinta-feira (29) depois que a Volkswagen desafiou a volatilidade dos mercados com o IPO da marca de carros de luxo que alcançou uma avaliação de 75 bilhões de euros (R$ 389 bilhões). O negócio marcou a segunda maior oferta de ações da Alemanha.
A Volkswagen precificou as ações no topo da faixa indicativa e levantou 19,5 bilhões de euros (R$ 101,1 bilhões) com a oferta, recursos que pretende usar para financiar sua estratégia de eletrificação de veículos. No início da manhã (no horário de Brasília), as ações da Porsche estavam sendo negociadas 3% acima do preço de emissão de 82,50 euros (R$ 427,86).
A alta nos papéis elevou a avaliação da montadora para 77,4 bilhões de euros (R$ 401,4 bilhões), perto do valor de mercado da Volkswagen como um todo, de 80,1 bilhões de euros (R$ 415,4 bilhões), e à frente de rivais como a Ferrari. É a maior listagem da Alemanha desde a Deutsche Telekom em 1996.
Já perto do final do pregão, a alta das ações da fabricante de carros perdeu força e fechou praticamente estável, em um dia de mau humor nas Bolsas globais com o risco de recessão voltando a preocupar os investidores. O índice de ações DAX, da Alemanha, fechou em queda de cerca de 1,7%.
"Há muito o que gostar na empresa, com seus planos agressivos de eletrificação, forte geração de fluxo de caixa esperada e posicionamento de marca premium", disse Chi Chan, gerente de portfólio de ações europeias da Federated Hermes Limited, à Reuters.
"Entretanto, o IPO veio em um momento de turbulências sem precedentes e de queda na confiança dos consumidores", acrescentou.
As famílias Porsche e Piech, cuja holding Porsche SE controla a Volkswagen, por sua vez, solidificarão seu controle sobre a Porsche AG porque deterão 25% mais uma ação ordinária —com direito a voto— na marca de carros esportivos.
Para realizar a oferta de ações, a Porsche dividiu seu capital em um total de 911 milhões de ações, número que faz referência a um dos principais modelos fabricados pela empresa, e foi dividido em 455,5 milhões de ações preferenciais e 455,5 milhões de ações ordinárias.
Apenas as ações preferenciais, sem direito a voto, serão listadas no mercado, e a venda aos investidores corresponde a uma fatia de 25% das ações preferenciais, ou cerca de 12,5% de toda a empresa.
Cerca de 114 milhões de ações preferenciais da Porsche, sem direito a voto, foram vendidas na oferta pública inicial.
Bank of America, Citigroup, Goldman Sachs e JPMorgan trabalharam como coordenadores globais conjuntos e bookrunners conjuntos no negócio, enquanto o Mediobanca atuou como consultor financeiro da Porsche.
Segundo informações do The Wall Street Journal, a oferta situa a Porsche entre as cinco maiores marcas de automóveis por valor de mercado, que tem a Tesla na liderança, avaliada em cerca de 915 bilhões de euros (R$ 4,7 trilhões).
A oferta deve ajudar a companhia a financiar o processo de eletrificação da sua frota de automóveis e no desenvolvimento de carros autônomos.
Agentes do mercado que acompanharam a oferta indicaram que os pedidos de reservas dos investidores interessados superaram o tamanho total do IPO, chamando a atenção em um momento de forte retração dos mercados globais em um cenário de aumento dos juros nos países desenvolvidos para combater a maior inflação das últimas décadas.
De acordo com o jornal americano, investidores avaliam que os negócios da Porsche estão relativamente blindados da perspectiva crescente de uma recessão global, uma vez que os compradores de seus veículos caros são ricos o suficiente para absorver a inflação e as taxas de juros crescentes.
"Investidores âncora", que comunicam previamente a intenção de participar da operação com a compra de um lote de expressivo de ações, reservaram cerca de 40% da oferta disponível, incluindo a Qatar Investment Authority, fundo soberano do país árabe que também é um dos principais acionistas da Volkswagen, a Norges Bank Investment Management, da Noruega, a gestora T. Rowe Price e a ADQ, um braço de investimentos do governo de Abu Dhabi.
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