Corte de juros em junho de 2023 é compatível com objetivo do BC para inflação, diz Campos Neto

Na última reunião, Copom manteve a Selic em 13,75% e interrompeu o ciclo de aperto monetário

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (29) que um corte inicial da taxa básica de juros (Selic) em junho de 2023 é compatível com o objetivo de levar a inflação para o redor da meta.

Ao mesmo tempo, ponderou que não é possível quantificar o período em que a taxa será mantida em patamar elevado e que ainda é cedo para a autoridade monetária pensar em queda de juros.

"Na curva do Focus tem um corte em junho [de 2023], usando esse corte, a gente mostra que atinge os objetivos. O mercado chegou a ter curva com corte um pouquinho mais cedo, mas a gente entende que é uma diferença pequena", afirmou Campos Neto na entrevista coletiva de divulgação do relatório trimestral de inflação.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em Brasília - Adriano Machado - 25.mai.22/Reuters

"A gente não comenta abertamente os impactos e como o mercado enxerga a taxa de juros, a gente acha muito cedo para pensar em cortes de juros. Fizemos uma comunicação de acordo na última ata [do Copom]", disse.

A atual projeção de inflação do BC para 2023 é de 4,6%, ante 4% no relatório de junho, já bem acima do centro da meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) de 3,25% —com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo. Segundo o novo relatório, a perspectiva de exceder o limite superior aumentou de cerca de 29% para em torno de 46%.

Para 2024, a autoridade monetária estima IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2,8% —abaixo do objetivo central (3%).

Na última semana, o Copom decidiu manter a taxa básica em 13,75% ao ano, interrompendo o seu mais longo ciclo de aperto monetário. O colegiado do BC disse que avaliaria se a estratégia de manutenção da Selic por período "suficientemente prolongado" seria capaz de assegurar a convergência da inflação.

"Vai depender do decorrer do processo inflacionário, não temos como quantificar o que é suficientemente prolongado. Existem riscos para as projeções, a gente está vigilante. Dependendo do risco, a gente pode inclusive voltar a subir juros", ressaltou Campos Neto.

BC prevê crescimento do PIB de 1% no próximo ano

O Banco Central prevê crescimento de 1% para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2023, segundo o relatório trimestral de inflação divulgado nesta quinta-feira (29).

Em seu cenário, o BC considerou a esperada influência da desaceleração global e dos impactos cumulativos da política monetária, com a Selic em 13,75% ao ano.

A primeira estimativa da autoridade monetária sobre o crescimento da economia para o próximo ano ficou acima das expectativas do mercado financeiro e abaixo das projeções do governo.

Sede do Banco Central, em Brasília - Pedro Ladeira - 4.mai.22/Folhapress

Para 2023, o Ministério da Economia prevê crescimento de 2,5%, enquanto os economistas da iniciativa privada estimam alta de 0,5%, de acordo com o boletim Focus publicado na última segunda (26). A estimativa, que era de 0,37% há um mês, se manteve estável pela segunda semana seguida.

Como mostrou a Folha, esse descolamento das projeções do governo e do mercado sobre o PIB do próximo ano ocorre de forma precoce quando se olha para todo o período do governo Jair Bolsonaro (PL).

Para este ano, o BC revisou novamente a sua projeção para o crescimento do PIB e espera agora um avanço de 2,7%. A última estimativa, divulgada em junho, era de alta de 1,7%.

"A surpresa no crescimento do segundo trimestre, os resultados iniciais do terceiro e estímulos não contemplados no RI anterior –notadamente o aumento do valor do benefício do Auxílio Brasil e o arrefecimento da inflação, resultante, em grande medida, da redução de tributos sobre combustíveis, energia e serviços de comunicação– são os principais fatores para a revisão", disse o BC no documento.

No início do mês de setembro, o Ministério da Economia também elevou a projeção oficial de crescimento do PIB em 2022 para 2,7%.

BC reduz estimativa de inflação para 5,8% neste ano, ainda acima da meta

Quanto à inflação, conforme divulgado no comunicado da última reunião do Copom, a estimativa do BC para o IPCA é de 5,8% para este ano, ante 8,8% no relatório anterior.

A queda foi puxada pelo impacto da redução de preços de combustíveis e energia elétrica após cortes nas alíquotas de ICMS (imposto estadual) e medidas de desoneração tributária. O recuo recente nos preços de commodities, especialmente do petróleo, também contribuiu para a melhora no cenário doméstico.

Apesar da revisão para baixo, a projeção da autoridade monetária para 2022 continua longe da meta de 3,5% fixada pelo CMN —com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo.

A probabilidade de a inflação ficar acima do teto do objetivo a ser perseguido neste ano, que estava próxima de 100% em junho, passou para cerca de 93% no novo relatório.

Quando as expectativas se concretizarem, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deverá escrever uma carta ao ministro da Economia explicando as razões para o descumprimento da meta pelo segundo ano consecutivo.

A inflação fechou 2021 em 10,06%, enquanto o centro da meta era de 3,75%. Foi a maior alta desde 2015. Como justificativa, o chefe da autarquia escreveu que o IPCA de dois dígitos era culpa do fenômeno global.

No documento, o BC destacou que, na comparação com o relatório anterior, as projeções de inflação tiveram queda significativa para 2022 e subiram para 2023 e 2024.

"Especificamente para 2022, destaca-se o efeito das medidas tributárias, que foi o principal fator para a surpresa desinflacionária de -2,37 p.p. [pontos percentuais] no trimestre encerrado em agosto. A elevação das projeções para 2023 resultou principalmente da hipótese de retorno da tributação federal sobre combustíveis", afirmou.

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