Cai à metade percepção de piora na situação fiscal entre economistas consultados pelo BC

Percentual dos que veem piora no quadro caiu de 93% para 46%

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

A situação fiscal do país piorou entre agosto e setembro para 46% dos economistas consultados no questionário enviado pelo Banco Central ao mercado financeiro às vésperas da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

O percentual é quase a metade do observado nos dois encontros anteriores do colegiado do BC —entre junho e agosto, eram 93% os que diziam ver uma deterioração do cenário.

O resultado da pesquisa enviada aos analistas no dia 9 de setembro foi divulgado pela autoridade monetária na manhã desta quarta-feira (28).

Fachada do Banco Central, em Brasília - Antonio Molina - 11.jan.22/Folhapress

Entre 95 respostas dos entrevistados, 44% consideraram que não houve mudanças relevantes no cenário fiscal no intervalo entre as duas últimas reuniões, enquanto 9% disseram que o quadro melhorou.

O questionário serviu como subsídio para a decisão do comitê sobre a taxa básica de juros (Selic), mantida em 13,75% ao ano, interrompendo o ciclo de aperto monetário.

Na pesquisa enviada antes da reunião de agosto, apenas 4% não viram mudanças relevantes e 3% apontaram melhora na situação fiscal. Semanas antes, o governo Jair Bolsonaro (PL) havia aprovado uma PEC (proposta de emenda à Constituição) liberando benefícios sociais turbinados à população em meio à corrida presidencial.

A emenda constitucional, a um custo estimado em R$ 41,25 bilhões, autorizou a expansão de pagamentos acima do teto de gastos, atropelando a legislação fiscal a poucos meses das eleições.

No fim de agosto, o governo Bolsonaro apresentou sua proposta de Orçamento para 2023 com um benefício médio de R$ 405 para o Auxílio Brasil, abaixo do piso permanente de R$ 600 prometido pelos principais candidatos à Presidência. A renovação da desoneração de impostos sobre combustíveis é outra questão ainda em aberto.

Na ata do último encontro, o Copom destacou que o aumento de gastos públicos de forma permanente e a incerteza sobre essa trajetória no próximo ano podem elevar as expectativas de inflação "à medida que pressionem a demanda agregada e piorem as expectativas sobre a trajetória fiscal".

"O comitê reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na economia e expectativas de inflação", afirmou.

Caso a manutenção da desoneração tributária sobre combustíveis se materialize no próximo ano, o Copom antecipou que voltará a enfatizar intervalos que incluam o primeiro trimestre de 2023. Atualmente, o colegiado está usando a inflação acumulada em 12 meses até o fim do primeiro trimestre de 2024 como horizonte de política monetária.

No questionário pré-Copom, a mediana das projeções dos economistas para o impacto potencial das medidas de caráter tributário implementadas pelo governo é de redução do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2,5 pontos percentuais em 2022 (90 respostas) e de aumento de 0,6 ponto em 2023 (85 respostas).

Os economistas, entretanto, informaram na pesquisa que incorporaram em suas expectativas de inflação 2 pontos percentuais para baixo neste ano (92 respostas) e impacto nulo em 2023 (87 respostas).

De acordo com o boletim Focus divulgado na véspera do Copom, a estimativa do mercado para o IPCA de 2022 havia recuado pela 12ª semana consecutiva, de 6,4% para 6%, e a projeção para 2023 tinha caído de 5,17% para 5,01%.

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação caíram para 5,8% neste ano e se mantiveram em 4,6% para 2023. Para 2024, o colegiado elevou marginalmente a previsão para 2,8%.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.