Bolsonaro agrada mercado e deveria cortar benefícios sociais se reeleito, diz megainvestidor

Segundo Mark Mobius, expansão de gastos do presidente mira a disputa eleitoral e não são positivas no longo prazo

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Londres | BBC News Brasil

O que investidores estrangeiros, que sempre têm o discurso sobre rigor fiscal na ponta da língua, têm a dizer sobre benefícios sociais liberados na gestão de Jair Bolsonaro (PL) às vésperas da eleição?

Conhecido como "guru dos mercados emergentes", o megainvestidor Mark Mobius diz que Bolsonaro "quer ser reeleito e está fazendo essas coisas". No entanto, complementa que, se conseguir mais um mandato, Bolsonaro deveria "parar com esses gastos ou pelo menos reduzi-los".

Mobius trabalhou na Franklin Templeton Investments por mais de 30 anos e em maio de 2018 lançou sua própria gestora de investimentos, a Mobius Capital Partners LLP. Ele nasceu nos Estados Unidos, filho de mãe porto-riquenha e pai alemão.

O presidente Jair Bolsonaro (PL)
O presidente Jair Bolsonaro (PL) - EPA via BBC News Brasil

Se o vencedor da eleição for o candidato do PT e ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje lidera as pesquisas de intenção de votos, Mobius diz que a economia iria bem porque Lula "aprendeu muitas lições" durante seu governo e provavelmente "fará um trabalho melhor porque agora é mais experiente".

A menos de um mês do primeiro turno, Bolsonaro aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenções de voto. Nesse cenário, aliados dele apostam que medidas como as de transferência de renda e de redução de tributos sobre combustíveis podem aumentar sua popularidade.

Só o pacote de benesses que ficou conhecido como PEC Kamikaze, aprovado pelo Congresso com apoio da base governista, liberou um gasto de mais de R$ 40 bilhões. Estão ali, por exemplo, benefício mensal de R$ 1.000 para caminhoneiros e taxistas, e o aumento de R$ 400 para R$ 600 do Auxílio Brasil.

Mobius concedeu entrevista à BBC News Brasil por telefone, a partir de Dubai.

Lula poderia fazer 'trabalho melhor agora'

Mobius aposta que a economia brasileira apresentará bons resultados no ano que vem independente de quem for eleito. Ele já havia dito que um eventual governo Lula não seria "necessariamente ruim para os mercados" e reforçou a visão de que a economia brasileira irá bem em um eventual governo Lula.

"Mesmo que Bolsonaro perca e Lula seja eleito, a economia se sairá muito bem porque Lula aprendeu muitas lições durante seu governo e provavelmente fará um trabalho melhor porque agora é mais experiente", disse.

E reconheceu que o governo Lula não foi ruim para o mercado. "Quando Lula ia ser eleito, sempre tivemos medo de que Lula não fosse bom para a economia, porque poderia nacionalizar grandes empresas e isso seria ruim para o mercado. Mas não foi assim. Então todos nós ficamos muito surpresos."

"Quando Lula estava no poder, o mercado foi muito, muito bem, principalmente devido ao que ele estava fazendo em termos de gastos com os pobres, o que foi muito positivo."

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Getty Images via BBC News Brasil

'Bolsonaro tem sido bom para o mercado'

Se Bolsonaro conseguisse reverter o favoritismo de Lula para ser reeleito, Mobius diz que uma eventual vitoria dele "seria positiva porque obviamente Bolsonaro tem sido bom para o mercado até agora".

Questionado sobre as medidas de transferência de renda, que tendem a ser vistas com olhar crítico por investidores, Mobius lança a justificativa da reeleição.

"Obviamente, ele (Bolsonaro) quer ser reeleito e está fazendo essas coisas", diz, comparando a tentativas nos EUA de reduzir preço de combustíveis e acrescentando que "não é bom para o orçamento no longo prazo".

E complementa: "Mas se ele conseguir parar com esses gastos ou pelo menos reduzi-los quando for reeleito, isso seria positivo".

Questionado se ele acredita que isso de fato aconteceria, respondeu: "Espero que esse seja o caso, porque esse tipo de gasto [...] geralmente acarreta muita inflação".

Esse tipo de medida seria esperada considerando a gestão de Bolsonaro e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, que em 2018 tinha o controle de gastos públicos como bandeira? Para Mobius, sim. "Em qualquer democracia em que um governo em exercício quer ser reeleito e quer se certificar de que é popular com os eleitores, e eles vão gastar".

A entrevista por telefone foi realizada antes de o programa eleitoral de Bolsonaro apresentar, na quinta-feira (8) a promessa de aumentar o Auxílio Brasil para R$ 800 para beneficiários que conseguirem emprego. O orçamento de 2023 não prevê o gasto extra.

Questionado posteriormente por e-mail sobre o tema, Mobius iniciou sua resposta dizendo que foi a favor "do programa Bolsa Família de Lula". E disse que, embora não tenha detalhes da proposta de Bolsonaro, é a favor de transferir renda para quem encontrar trabalho "já que isso incentivaria as pessoas a entrarem no mercado de trabalho". "Eu não seria a favor de transferências sem critérios de desempenho vinculados", afirmou.

O megainvestidor Mark Mobius
O megainvestidor Mark Mobius - Divulgação via BBC News Brasil

Difícil questionar sistema de votação brasileiro'

Perguntado sobre se os questionamentos do próprio presidente sobre o sistema de votação poderia gerar uma instabilidade, Mobius compara a situação com a do ex-presidente dos EUA Donald Trump, mas diz que "será difícil questionar o sistema de votação no Brasil porque é mais avançado do que muitos outros países ao redor do mundo por causa da informatização do sistema de votação".

"Sempre haverá perguntas sobre fraude eleitoral em todos os países, como mencionei. Mas o Brasil está em melhor forma nesse sentido", disse.

América Latina menos afetada que a Europa

Mobius diz que, "levando em consideração as grandes tensões e problemas que enfrentamos globalmente", a economia brasileira está em "muito boa forma". Ele justifica esse comentário argumentando que a inflação "não está tão ruim" se for comparada ao histórico do país, que há estabilidade econômica e que "as empresas estão indo muito bem".

Ele diz que "o ambiente é muito bom para a América Latina em geral, e particularmente para o Brasil" porque a região não é tão diretamente afetada com a guerra na Ucrânia –se comparada à Europa.

Este texto foi originalmente publicado aqui.

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