Descrição de chapéu Financial Times

Escassez de bebês chineses acende alerta para o mercado de leite em pó

Goldman Sachs prevê impacto sobre Nestlé, Danone, A2 Milk e Abbott

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Leo Lewis Edward White
Tóquio e Seul | Financial Times

O banco Goldman Sachs alertou os investidores para que antecipem cinco anos de crescimento zero no mercado mundial de leite em pó para bebês, porque a China está se aproximando de um ponto crítico de inflexão demográfica e o mercado mais importante do mundo vai sofrer de escassez de novos bebês.

Os bebês chineses, cujo consumo de leite em pó aumentou nas últimas décadas graças ao aumento da renda da classe média da China, se tornaram a mais importante fonte de crescimento para um setor dominado por empresas como Danone, Reckitt e Abbott Laboratories.

Crianças brincam em parque em Pequim - Tingshu Wang - 01.jun.22/Reuters

No entanto, em um relatório distribuído aos clientes neste mês, o banco de investimento americano disse que suas perspectivas sobre o setor de leite em pó agora eram negativas, à luz de sua nova previsão de que a população infantil chinesa diminuiria em média 7% ao ano durante os próximos cinco anos.

A mesma previsão aponta para a possibilidade de que, até o final de 2022, o número de mortes possa superar o de nascimentos, colocando a China em declínio populacional —um ponto que o Japão atingiu em 2016, e que pode desencadear revisões significativas nos modelos econômico em uso.

No início deste ano, escreveu John Ennis, um analista do Goldman Sachs, o banco havia previsto uma queda bastante moderada na população infantil chinesa. Agora, antecipa que os novos nascimentos em 2022 venham a cair em 12% com relação ao ano anterior, e uma queda adicional de 5% em 2023.

Isto significa que a população de infantes em 2023 pode ser até 45% menor do que a que existia em 2016, disse Ennis. O mercado de leite em pó para bebês poderia sofrer um declínio de 8% este ano, na China, e novos declínios à taxa composta de 4% anuais nos próximos cinco anos, ele acrescentou.

A contração prevista na população infantil chinesa pode representar um contraste com mercados como o dos Estados Unidos, onde a população está se estabilizando, mas o Goldman Sachs argumentou que o quadro geral, incluindo a Europa Ocidental, é pobre.

Grupos internacionais como Nestlé, Danone, A2 Milk e Abbott teriam um desempenho em geral abaixo do esperado, o relatório previu, e a situação provavelmente deve criar oportunidades para que as empresas locais chinesas Feihe e Yili ganhem participação.

"Não antecipamos que o mercado venha a oferecer muito crescimento, o que representa um forte contraste com as credenciais de crescimento prévias do setor durante a década anterior, quando o crescimento médio de vendas foi de cerca de 5% ao ano", escreveu Ennis.

O relatório representa um golpe para o governo chinês do presidente Xi Jinping, que implementou revisões abrangentes das políticas do país, em um esforço para reverter a deterioração do quadro demográfico.

Após anos de aplicação implacável da política de um filho só por casal —com medidas que incluíam esterilização, contracepção e abortos forçados— Pequim notoriamente revogou as restrições proibitivas à procriação, e em 2015 autorizou oficialmente que todos os casais tivessem até dois filhos.

As autoridades chinesas, assim como suas contrapartes em Seul e Tóquio, também estão testando medidas de incentivo destinadas a aliviar a carga financeira enfrentada pelas mulheres que têm filhos, tais como licença maternidade mais longa e cuidados infantis mais expansivos, assim como subsídios para aqueles que têm mais de um filho.

No ano passado, Xi introduziu uma política de "prosperidade comum" cujo objetivo, em parte, é aliviar as pressões sobre as famílias a fim de deter o declínio populacional.

Mas os índices de natalidade na China vêm se mantendo entre os mais baixos do mundo. Com o aumento das pressões econômicas, os casamentos caíram ao seu ponto mais baixo em quatro décadas, enquanto o desemprego entre os jovens, que está acima dos 19%, registra seu nível mais alto da história recente, reduzindo ainda mais as chances de Xi de combater o problema.

Tradução de Paulo Migliacci

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