Descrição de chapéu Financial Times Facebook Meta

Acionistas da Meta mostram revolta contra gastos elevados de Zuckerberg

Mesmo depois de queda de 74% das ações, empresa quer usar bilhões para construir metaverso

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Richard Waters Harriet Agnew
Financial Times

Alguns dos maiores acionistas da Meta se alinharam para desabafar sua raiva contra a administração da empresa de rede social, depois que ela surpreendeu Wall Street com planos de aumentar seu esforço deficitário para construir o metaverso.

Mesmo depois de uma queda que eliminou 74% do preço das ações da Meta em pouco mais de um ano, investidores e especialistas disseram que havia pouco que pessoas de fora pudessem fazer para impedir que o executivo-chefe Mark Zuckerberg usasse seu controle majoritário para avançar com uma aposta que perdeu o apoio de Wall Street.

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, testemunha no Rayburn House Office Building em Washington, DC - Mandel Ngan - 23.out.2019/AFP

As ações da Meta caíram 25% na quinta-feira (27) depois que a empresa revelou que as perdas de sua divisão Reality Labs, que está construindo o metaverso, cresceriam "significativamente" em 2023, depois de atingir US$ 9,4 bilhões (R$ 50 bilhões) nos primeiros nove meses deste ano. Os investidores também ficaram surpresos com outro salto nos gastos de capital que a Meta disse que consumirá até US$ 39 bilhões (R$ 207 bilhões) no próximo ano, mais que o dobro do nível de 2021.

"Se qualquer outra empresa tivesse feito isso, haveria investidores ativistas escrevendo cartas, propondo listas alternativas de diretores, exigindo mudanças", disse Jim Tierney, diretor de investimentos para crescimento nos Estados Unidos da AllianceBernstein, acionista da Meta. "Acho que Mark ouviu claramente o que os investidores queriam. E tomou sua decisão."

A raiva se espalhou para reuniões com diretores, de algumas das quais Zuckerberg participou pessoalmente depois que a Meta chocou Wall Street com seus planos de gastos na quarta-feira (26).

"Parece que há uma sensação de frustração" entre os investidores pelos custos crescentes da empresa, disse uma pessoa familiarizada com as discussões.

Referindo-se à série de ligações informais de acompanhamento com investidores depois que a empresa anunciou suas receitas na quarta, Tierney disse: "Quando as pessoas ligavam para a empresa, ficavam mais revoltadas, e não menos".

"Zuckerberg foi surdo para a comunidade de investidores, dobrando a aposta em tudo", disse David Older, diretor de ações da gestora de ativos de 33,2 bilhões de euros (R$ 171 bilhões) Carmignac, que tem participações na Amazon, Microsoft e Google, mas não na Meta. "O cronograma do metaverso é muito prolongado. Não acho que você vai saber se é a medida certa por cinco ou dez anos."

Questionada sobre o impacto que a infelicidade dos acionistas teria em seus planos, a Meta disse: "Valorizamos as opiniões de nossos investidores e nos envolvemos habitualmente com eles para garantir que estamos cientes de suas perspectivas".

Como muitas empresas, a Meta costuma realizar reuniões nos dias seguintes ao relatório de lucros trimestrais, embora o controle pessoal total de Zuckerberg signifique que ele pode ignorar as outras opiniões. O cofundador da Meta possui 13% do capital da empresa, mas controla 54,4% dos votos por meio de uma classe especial de ações.

A Meta não comentou se as reclamações causaram uma discussão renovada dentro da empresa sobre a escala de seus gastos. Ela disse: "A equipe de gerenciamento da Meta, com supervisão do Conselho de Administração, está focada em executar as principais prioridades da empresa com o objetivo de criar valor para os acionistas no longo prazo".

A frustração dos acionistas com o controle pessoal de Zuckerberg sobre a Meta aumentou nos últimos anos, pois a empresa se viu no centro de repetidas controvérsias sobre desinformação e privacidade, enquanto apostava alto no metaverso. Uma proposta de acionistas para eliminar as ações com superdireito a voto recebeu 28% dos votos na reunião anual de acionistas da Meta no início deste ano, apesar da participação majoritária de Zuckerberg. Isso superou o apoio de 17% que uma proposta semelhante recebeu em 2014.

Legalmente, os diretores da Meta têm a responsabilidade de representar todos os acionistas, mesmo que o executivo-chefe controle quem é eleito para o conselho, disse Steve Diamond, especialista em governança corporativa da Faculdade de Direito da Universidade de Santa Clara. Um tribunal pode intervir em nome dos acionistas se um conselho se envolver em "desperdício" de recursos da empresa, embora esse seja "um padrão muito alto a cumprir" e quase nunca tenha sido mantido, acrescentou.

"Estou surpreso com o quanto já gastaram [no metaverso], e eles têm pouco a mostrar", disse Diamond. "Se fosse qualquer outro CEO que tivesse apenas 1% de participação, ele provavelmente teria ido embora."

A falta de quaisquer vias formais para mudar a direção da empresa forçou aspirantes a acionistas ativistas a adotar uma abordagem conciliatória. Em uma carta aberta aos diretores da Meta pouco antes do último balanço, na semana passada, Brad Gerstner, da Altimeter Capital, recorreu à bajulação para tentar chamar a atenção do executivo-chefe. Ele elogiou os negócios da Meta, antes de pedir que a empresa corte pelo menos 20% de seus funcionários, reduza em US$ 5 bilhões seus gastos de capital e limite os gastos anuais no metaverso em US$ 5 bilhões.

"Todos concordaram com a carta aberta de Brad Gerstner a Zuckerberg", disse Older, da Carmignac. "Você pode ter uma ótima ação e ainda investir US$ 5 bilhões por ano no metaverso, mas precisa ser disciplinado nos custos e ser disciplinado em como está investindo."

Em uma ligação com analistas na quarta-feira, executivos da Meta tentaram evitar a agitação apontando que 82% dos gastos da empresa no último trimestre foram em seus serviços existentes, e não no metaverso.

Alguns investidores de tecnologia disseram que Zuckerberg pode ter justificativa para pressionar agressivamente, dada a escala do risco que sua empresa está enfrentando. A decisão da Apple de limitar os dados que os aplicativos podem coletar em seus aparelhos prejudicou severamente a receita de publicidade da Meta e parece ter convencido seu chefe de que ele não tinha escolha a não ser tentar construir a próxima plataforma de computação importante, disse Kevin Landis, da Firsthand Funds.

As enormes mudanças de valor observadas durante transições significativas anteriores no mundo digital também podem justificar a tendência de Zuckerberg a ignorar opiniões divergentes e seguir em frente, sugeriu Landis. "Se essa fosse uma estrutura de governança clássica, teríamos a tomada de decisões por comitê e as discussões seriam intermináveis", disse ele.

Grande parte da infelicidade decorreu da falha da Meta em apresentar um cronograma para quando a farra de gastos poderia compensar, disse Tierney. "Eles estão gastando US$ 15 bilhões por ano no metaverso e não podem nos dar nenhum marcador de quilômetros. É apenas uma grande esperança."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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