Boné do Lula 'CPX' vira febre e empresa diz que 'nem dorme' para atender pedidos

Sócia de gráfica familiar na zona norte do Rio precisou contratar mais funcionários e recebe pedidos até do exterior

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Rio de Janeiro

Após o ex-presidente Lula usar o boné com o bordado "CPX" em comício no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, Vitória Gonçalves, 24, sócia da gráfica que produziu o acessório viu as vendas dispararem. A Junior Bordados, pequena empresa familiar que tinha apenas três funcionários, precisou de mais cinco contratações de emergência para dar conta das encomendas de todo o Brasil e para Estados Unidos, França e Canadá.

Localizada na zona norte do Rio, assim como o Alemão, a empresa funciona na casa de Vitória e de seu marido, também sócio, Marcelo Dias, 27. Os dois moram no bairro de Irajá e têm o negócio há pouco mais de seis anos para sustentar a família. A produção do boné "CPX" começou há dois anos, mas a venda por mês era baixa. A sigla é abreviação da palavra "complexo", nome dado a conjunto de favelas.

"Nós costumávamos vender para o pessoal do 'baile das antigas', que reúne pessoas que curtem músicas do passado e que têm orgulho da comunidade. Porém, com a pandemia, as pessoas pararam de pedir", afirma Vitória. Foi por causa da pandemia também que uma loja da empresa localizada na Rocinha teve que ser fechada por questões financeiras.

O ex-presidente Lula em comício no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Ao seu lado esquerdo, Camila Moradia, coordenadora da organização comunitária Mulheres em Ação no Alemão, que entregou o boné 'CPX' a Lula - Eduardo Anizelli - 12.out.2022/Folhapress

Os bonés são vendidos a R$ 45 com lucro de 50% e há hoje cerca de 200 encomendas, sem contar as 630 mensagens no WhatsApp da empresa referentes à compra de produtos. "De sexta (14) para sábado (15) não dormimos", disse Vitória, que recebeu uma encomenda de 200 bonés do ativista e fundador do Voz das Comunidades, Rene Silva, 28.

A gráfica começou com uma máquina pequena e agora conta com sete equipamentos. Segundo Vitória, os pedidos vêm de todas as regiões do Brasil e, depois do Sudeste, o Sul é o que mais faz pedidos.

Grande responsável pelo sucesso do boné, Lula recebeu o presente das mãos de Camila Moradia, 37, umas das lideranças do Movimento por Moradia no Complexo do Alemão e coordenadora da organização comunitária Mulheres em Ação no Alemão.

Ela conta que, na noite anterior (11) ao comício, o grupo responsável pela organização queria presentear o ex-presidente com algo significativo da região e um dos integrantes, Hector Santos, morador do Alemão, sugeriu entregar o próprio boné do "CPX". Segundo ela, imediatamente após a entrega, as pessoas começaram a gritar "Complexo! Complexo!", pois sabiam do que se tratava.

"Essa questão do CPX é muito importante para a gente, ainda mais em um boné, que é algo muito representativo nas favelas e periferias. O CPX nos representa."

A sigla gerou repercussão após postagens bolsonaristas a associarem ao tráfico. Nas redes sociais, Rene Silva fez uma série de postagens explicando o significado de CPX. À Folha ele afirmou que, mesmo com as fake news de redes sociais bolsonaristas, foi possível reverter toda a história e fazer com que a repercussão fosse positiva para a gráfica Junior Bordados.

O ativista conta que o ex-presidente Lula ligou para ele neste sábado (15) e falou sobre as vendas. "Ele me disse 'E esse boné aí? Está vendendo feito água, estou sabendo'".

Neste sábado (15), o presidente Bolsonaro e candidato à reeleição voltou a utilizar a expressão de forma distorcida, também para atacar o adversário Lula. Em comício em Teresina (PI), ele afirmou que o ex-presidente não fez nada para o povo quando tinha governado e que tinha olhado apenas para seus amigos, "seus cupinchas, seus CPX".

Pelas redes sociais, a gráfica Junior Bordados, que apoia a candidatura de Lula, tem recebido mensagens de bolsonaristas criticando negativamente a venda dos bonés, associados agora ao ex-presidente. Segundo a empresa, as mensagens dizem que irão se arrepender das vendas, que são erradas e que a empresa irá falir.

Vitória não relata sofrer nenhuma ameaça dentro e fora das redes, mas teme perder contratos com empresas para bordar uniformes por causa do apoio ao petista quando a "febre" dos bonés passar.

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