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Bolsa cai após turbulência com novo recorde de inflação nos EUA

Preços sem considerar energia e alimentos são os mais altos em 40 anos

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São Paulo

Um novo susto com a escalada dos preços ao consumidor nos Estados Unidos colocou os principais indicadores financeiros globais em uma gangorra nesta quinta-feira (13).

Depois de uma abertura em queda, o mercado de ações americano engatou uma forte recuperação e encerrou o dia com ganhos robustos. A Bolsa do Brasil também chegou virar do negativo para o positivo, mas perdeu o fôlego no final da sessão.

O Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, encerrou a sessão em queda de 0,46%, aos 114.300 pontos. Na mínima do dia, o indicador chegou a recuar aos 112.690 pontos, enquanto a máxima atingiu 115.366.

No mercado de câmbio doméstico, o dólar comercial à vista fechou perto da estabilidade, com ligeira alta de 0,05%, cotado a R$ 5,2740. No momento de maior valorização do dia, a moeda americana chegou a valer mais de R$ 5,38.

Mulher em corredor de supermercado nos arredores de Washington, nos Estados Unidos
Mulher em corredor de supermercado nos arredores de Washington, nos Estados Unidos - Sarah Silbiger - 19.abr.2022/Reuters


A volatilidade registrada no Brasil, porém, não se compara à observada no mercado americano. O S&P 500, indicador parâmetro para a Bolsa de Nova York, saltou 2,60%, depois de ter caído mais de 1,5% no início das negociações.

No exterior, o dólar recuou quase 1%, interrompendo uma sequência de seis altas em relação às principais divisas estrangeiras.

Essa disparada das Bolsas ocorreu horas depois da divulgação feita pelo governo americano de que a inflação nos Estados Unidos subiu acima do esperado.

Em um dia em que o movimento dos mercados pareceu sem sentido diante de dados da inflação considerados péssimos para a economia mundial, especialistas atribuem o resultado dos negócios a ajustes realizados por investidores diante de preços de ativos que já estavam muito rebaixados pela crise inflacionária.

Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, afirma que o movimento dos mercados nesta quinta é "puramente técnico", pois os "fundamentos seguem bem desafiadores e [a alta das Bolsas no exterior] não deve durar", afirmou.

"A tendência segue de mais volatilidade em ativos de risco até o final do ano na nossa visão", disse Miraglia.

Descrevendo a inflação americana "como muito preocupante", Helena Veronese, economista-chefe do escritório B.Side Investimentos, reforça que não houve notícia "que justificasse a virada dos mercados nesta quinta". Ela atribuiu o movimento dos índices a ajustes em setores específicos do mercado.

Núcleo da inflação, que desconta preços voláteis, é o maior desde 1982

Detalhes do relatório da inflação americana indicam que os preços devem continuar aquecidos apesar da política de alta dos juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). Isso pode significar crédito caro por mais tempo e prejuízo prolongado ao crescimento da economia mundial.

O índice de preços ao consumidor americano subiu 0,4% no mês passado depois de avanço de 0,1% em agosto, disse o governo dos EUA nesta quinta. O mercado esperava uma alta de 0,2%.

Nos 12 meses até setembro, o índice teve alta de 8,2%, depois de ter subido 8,3% em agosto. Na base anual, o índice atingiu um pico de 9,1% em junho, que foi o maior avanço desde novembro de 1981.

O dado mais preocupante, porém, é o chamado núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis, como energia e alimentos.

Esse indicador ganhou 6,6% em setembro, em relação ao ano anterior, acelerando de 6,3% em agosto e marcando o maior aumento desde agosto de 1982, destacou a manchete do site do The Wall Street Journal .

Na comparação com o mês anterior, o núcleo do índice subiu 0,6% em setembro, o mesmo que em agosto.

"O aspecto chave do comunicado de hoje é o aumento contínuo do núcleo da inflação, que atingiu uma nova alta: continua sendo a parte resistente do índice e a principal dor de cabeça dos bancos centrais", disse Willem Sels, diretor global de investimentos privados do HSBC, em entrevista ao Financial Times.

Na véspera, o temor de um cenário de alta ainda mais agressiva dos juros já tinha levado os mercados de ações em Wall Street a fecharem em queda, enquanto o dólar teve ligeira valorização contra as principais moedas. Na Bolsa brasileira não houve negociações devido ao feriado do Dia da Padroeira.

Divulgada nesta quarta (12), a ata da última reunião do Fomc, o comitê de mercado aberto do Fed, já afirmava que autoridades responsáveis pela política de controle da inflação nos Estados Unidos consideram que é necessário continuar subindo juros para frear a escalada dos preços.

Na reunião do mês passado, o Fed elevou a taxa de juros em 0,75 ponto percentual pela terceira vez seguida, no esforço para reduzir a maior inflação dos últimos 40 anos.

Projeções do Fomc divulgadas com a ata mostram que a taxa básica de juros, atualmente na faixa de 3% a 3,25%, subirá para a faixa de 4,25% a 4,50% até o final deste ano.

"É um patamar muito elevado para uma economia do tamanho da americana", comentou Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos.

Lelis diz que indicadores da economia americana apontam que o Fed está apenas na metade do caminho do aperto das taxas de juros.

Ele explica que existem alguns dados que mostram o início dos efeitos de um ciclo de elevação dos juros, entre os quais está a desaceleração da atividade industrial, que já teve início e denota que o aperto monetário está começando a esfriar a economia.

Mas ainda não há efeito nos indicadores que mostram a situação de meio de ciclo da política de alta dos juros, como é o caso da criação de vagas de trabalho.

Um dos problemas da economia americana é a forte geração de empregos, por mais contraditório que isso possa parecer.

Com uma oferta de quase duas vagas para cada pessoa à procura de trabalho, os salários melhoram e colocam mais dinheiro em circulação na economia. Isso naturalmente estimula a elevação dos preços ao consumidor.

Na semana passada, o governo americano relatou sólido crescimento dos postos de trabalho em setembro, com a taxa de desemprego caindo a 3,5%, contra 3,7% em agosto.

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