Descrição de chapéu Eleições 2022

Manifestantes bloqueiam via Dutra e transportadoras cancelam viagens

Movimento, em protesto contra eleição de Lula, provoca filas na principal ligação por terra entre Rio e SP

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Rio de Janeiro e São Paulo

Interdições em estradas do Rio de Janeiro impedem viagens e causam transtornos nesta segunda-feira (31). Os bloqueios, feitos por caminhoneiros e outros apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), são em protesto contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência no domingo (30).

Segundo balanço da concessionária CCR RioSP, às 20h, a rodovia Presidente Dutra ainda tinha interdições em quatro municípios fluminenses. Os registros ficavam em Nova Iguaçu (km 178 e km 185), Barra Mansa (km 281), Queimados (km 196) e Resende (km 310).

Caminhoneiro auxilia na manobra de caminhão-tanque durante um bloqueio na rodovia BR-116 entre Rio de Janeiro e São Paulo, perto de Barra Mansa - Mauro Pimentel/AFP

Também havia bloqueios na BR-101, no Rio de Janeiro (km 392), em Angra dos Reis (km 414, km 486 e km 511) e Paraty (km 533), indicou a companhia. Segundo a CCR RioSP, os atos ocorriam nos dois sentidos.

O museólogo João Pedro Miranda, 29, estava parado na Dutra devido ao protesto em Barra Mansa, que começou na madrugada, pouco depois da 1h.

Após participar de um compromisso de trabalho em São Paulo, ele retornava ao Rio de ônibus, mas encontrou a barreira na estrada. "A gente está desde as 5h aqui", disse no início da tarde.

Em caso de uma abertura da via para ônibus, ele cogitava voltar à capital paulista e pegar um avião de volta ao Rio.

A estudante de direito Carina de Oliveira, 24, deixou Umuarama, no interior do Paraná, na tarde de domingo, com destino ao Rio, até ficar presa no bloqueio em Barra Mansa.

"Isso é desumano. Poderiam liberar os ônibus. Estamos exaustos, sem tomar banho", disse Oliveira.

A jovem conta que, devido ao congestionamento formado na rodovia, teve de deixar o ônibus e caminhar em grupo por mais de dez quilômetros sob o sol, até buscar abrigo em um posto de combustíveis na altura do km 276 da Presidente Dutra.

O local virou ponto de encontro de caminhoneiros e outros participantes do bloqueio. Parte do grupo colocou bandeiras do Brasil em seus caminhões e carros. Alguns usavam camisetas verde-amarelas, além de adesivos de Bolsonaro.

No pátio do posto de combustíveis, os motoristas e demais participantes eram observados por agentes em viaturas da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da PM (Polícia Militar).

Pelo menos uma ambulância estava no local. Por volta das 16h, uma gestante precisou de atendimento.

A estudante Maria Eduarda Andrade, 21, também viu o sonho de passeio no Rio de Janeiro virar frustração.

Ao lado de três primos, a jovem deixou de ônibus o município de Colorado, no interior do Paraná, no domingo, e ficou presa em Barra Mansa.

"É um pesadelo", disse a jovem, no seu primeiro dia de férias.

Pessoas que ficaram trancadas no bloqueio também reclamaram da falta de auxílio de autoridades para a resolução do impasse.

"Isso não é uma democracia? Fizemos nosso papel ontem [domingo]. Votamos e ganhamos isso em troca?", questionou uma turista idosa que também ficou parada no bloqueio e preferiu não ser identificada.

Por volta das 17h, a passagem de alguns ônibus foi autorizada no km 276. Não havia, porém, uma definição sobre quando a Dutra seria totalmente liberada.

O ato dos caminhoneiros também teve relatos de ânimos exaltados e confusão em Barra Mansa.

Segundo a PRF, às 7h foi registrado um caso de vandalismo contra um carro de uma mulher. A corporação não deu mais detalhes sobre o episódio. Houve ainda registro de pessoas que passaram mal em ônibus retidos no congestionamento.

O bloqueio provocou reflexos até para quem estava distante das manifestações. É o caso da servidora pública Maria Luiza Cruz, 34.

Ela passou o fim de semana no Rio, onde trabalhou como mesária nas eleições, e tentava retornar pela manhã de ônibus para São Paulo, onde mora.

A passagem já estava comprada para uma viagem às 7h30, mas acabou cancelada em razão da manifestação dos caminhoneiros.

"Acabei de cancelar minha passagem e estou vendo quanto está custando o bilhete de avião", relatou.

Empresas de ônibus cancelam viagens entre São Paulo e Rio de Janeiro

Empresas de ônibus que realizam o trajeto entre São Paulo e Rio de Janeiro suspenderam as viagens na manhã desta segunda.

Segundo a Socicam, empresa gestora da Rodoviária do Tietê, em São Paulo, o cancelamento foi necessário devido ao bloqueio na Dutra, que impedia a passagem de veículos.

A venda de passagens para o estado do Rio também foi interrompida por tempo indeterminado. O comércio de passagens para outros destinos segue normalmente.

Grupo de caminhoneiros fecha a Rodovia Presidente Dutra nesta segunda-feira (31). O bloqueio é na altura e Barra Mansa, nos dois sentidos - Reprodução/TV Globo

Fábrica da Citröen e Peugeot no RJ suspende produção

O polo automotivo da Stellantis em Porto Real, no Rio de Janeiro, suspendeu a produção na manhã desta segunda, em decorrência das manifestações que interromperam o tráfego na rodovia que dá acesso ao complexo industrial, impedindo a chegada de funcionários e peças.

A fábrica, que fica perto da Dutra, na região de Resende (RJ), produz motores e automóveis das marcas Citroën e Peugeot e emprega cerca de 1.800 pessoas.

A empresa diz estar pronta para retomar as atividades quando as condições logísticas permitirem.

A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) monitora os impactos da paralisação nas estradas. A entidade ainda não se manifestou sobre os reflexos na indústria local.

Bloqueios não afetam chegada de alimentos a São Paulo

A Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) disse que os bloqueios nas estradas não afetaram a chegada de frutas, legumes e outros alimentos ao entreposto de São Paulo, na Vila Leopoldina.

"Na manhã desta segunda-feira, não houve impactos ou reflexos dos bloqueios nas rodovias. A movimentação e o abastecimento continuam normais", afirmou a companhia em nota.

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