Descrição de chapéu Vida Pós-Vírus

Passeadores de cães vivem pico de demanda com volta ao trabalho presencial

Serviço custa em média R$ 480 mensais por bicho e pode ser aprendido em curso de 1 dia

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São Paulo

Com a volta ao trabalho presencial, os passeadores de cães têm tido mais trabalho. Segundo eles, os pedidos para levar os bichos para darem uma volta têm crescido muito neste ano.

"Tive bastante procura de quatro meses para cá. Outubro começou cheio. Só nesta semana tive mais de dez contatos pedindo serviços", conta Erick Roque, 32, codinome Erickão. Morador da zona leste de São Paulo, ele entrou neste ramo em 2018. Na época, cobrava R$ 240 mensais por passeios duas vezes por semana. Hoje, o mesmo pacote custa R$ 400.

"Conforme foi tendo procura grande, separei algumas regiões para atender, para não ter de me deslocar muito entre um cliente e outro. Hoje, me concentro em Tatuapé, Penha e Anália Franco", conta ele, que atende 30 bichos por dia e contratou uma ajudante.

Fernando Lopes, passeador de cães, atua na região da av. Pacaembu, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Fernando Lopes, 63, da Red Dog Walker, que atua em Higienópolis e Pacaembu, também tem visto demanda crescente. "A população de cães aumentou muito na pandemia. O cão virou um Rivotril."

No entanto, no auge da crise sanitária, o serviço de passeio teve queda de mais de 70%, contam os profissionais. Muita gente que estava em casa passou a sair mais com seu bicho, ou ficou sem dinheiro para pagar. "Muitas pessoas veem como algo supérfluo, e a primeira coisa a ser cortada era o passeador. Foi um momento terrível", lembra Lopes.

Com a volta ao trabalho presencial, o jogo virou para os passeadores, uma vez que ficou inviável para os tutores darem ao pet a mesma atenção da pandemia. A vendedora Samara Semidi, 29, por exemplo, voltou a visitar clientes ao longo da semana, e recontratou neste ano o serviço de passeador para a cadela Mel.

"Ela nâo faz xixi dentro de casa, então precisamos sempre pensar quanto tempo ela vai ficar sem sair", comenta Samara. "Quando eu ou meu marido saímos com ela, damos uma volta de 10, 15 minutos e voltamos. Mas o passeio contratado dura 40 minutos. Ela gasta muito mais energia e volta melhor", considera. "Não é um gasto muito barato, mas vale a pena."

Apesar da alta na demanda, passeadores ouvidos pela Folha disseram que os preços andam relativamente estáveis e que subir o valor é difícil, dada a incerteza na economia e o caráter informal dos acertos com os clientes. Geralmente, o serviço é pago mês a mês e pode ser cancelado facilmente.

"A gente tem um termômetro de como vão as coisas, mas não dá para usar um índice como IGP-M. Estou com a mesma tabela faz três anos", diz Lopes. "Eleição e Copa do Mundo mexem tanto com o país que tive alguns cancelamentos de passeios. Não é hora para aumentar. Mas mais para frente vou precisar rever isso."

"Antes da pandemia, a média de preço era de R$ 450 mensais. Agora vemos uma média de R$ 480", diz Fernando Baiardi, presidente da ABDW (Associação Brasileira de Dog Walkers) e da CãoAtivo, que dá treinamento na área. O valor varia de acordo com número de passeios por semana e a região da cidade.

Com a alta procura, passeadores veteranos acabam indicando e treinando novos profissionais. A preparação geralmente dura um dia inteiro e traz lições de como interpretar os sinais dados pelos cães, evitar perrengues na rua e táticas para conquistar os primeiros clientes.

Baiardi diz que a procura pelo curso de formação vem subindo, mas ainda está um pouco abaixo do nível pré-pandemia. Há uma média de 30 alunos por mês.

"Formamos condutores de matilha, não só acompanhantes de cães", diz ele. "O simples fato de colocar o cão do lado, em vez de sair do apartamento com ele na frente, já faz o cachorro sair como seguidor", ensina. Dependendo do caso, os passeadores também acabam adestrando um pouco os cães, ou oferecem esse serviço à parte.

Baiardi diz que não há números precisos sobre quantas pessoas atuam neste serviço no país, mas que só o curso dele formou mais de 7.000 desde 2010. Muitas vestiram a camiseta depois de anos trabalhando em escritórios.

André de Campos, 59, se tornou passeador há quatro anos, depois de fazer carreira como executivo do setor aéreo. "Ganho uns 20% do que eu ganhava cinco anos atrás, mas meu nível de vida é muito melhor. O animal mostra alegria de estar na sua companhia. Quando eu trabalhava em multinacionais era o contrário. Lugar carregado. Um querendo puxar o tapete do outro. Hoje é muito melhor", reflete.

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