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Por que a nova Cúpula do Partido Comunista Chinês assustou os mercados

Presidente recheia elite política com fiéis e reafirma seu poder

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Edward White Andy Lin
Seul e Hong Kong | Financial Times

No último dia do Congresso Nacional do Partido Comunista, realizado a cada cinco anos em Pequim, o presidente chinês, Xi Jinping, apresentou uma nova equipe de líderes que indicou seu domínio crescente sobre a superpotência militar e econômica.

Os investidores esperam que os indicados se concentrem na segurança e no controle estatal, mais que em políticas favoráveis às empresas, o que levou as ações chinesas a despencarem em Hong Kong e Nova York na segunda-feira (24).

Durante décadas, o Comitê Permanente do Politburo, órgão político mais poderoso da China, controlou o poder do líder por meio de uma convenção que garantia que o grupo fosse composto por políticos de diferentes idades e de todas as facções do partido.

O líder chinês, Xi Jinping, apresenta integrantes do Comitê Permanente do Politburo à imprensa após o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, em Pequim
O líder chinês, Xi Jinping, apresenta integrantes do Comitê Permanente do Politburo à imprensa após o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, em Pequim - Tingshu Wang/Reuters

Agora, pela primeira vez desde a saída do ex-líder Deng Xiaoping dos principais cargos do partido em 1989, o grupo de elite de sete membros foi formado por pessoas próximas ao líder.

Christopher Beddor, especialista em China no grupo de pesquisas Gavekal Dragonomics, sediado em Pequim, acredita que agora Xi está a caminho de permanecer no poder por pelo menos um quarto mandato de cinco anos a partir de 2027. O novo comitê permanente é a "vitória mais marcante" de Xi, disse ele.

Repleto de fiéis que devem suas carreiras ao líder, o grupo que subiu ao palco no domingo mostrou que não havia mais uma "facção plausível de altos funcionários representando diferentes interesses ou ideias". Tampouco há um sucessor óbvio para Xi, disse Beddor.

A consolidação do poder de Xi também provocou alertas de que o país mais populoso do mundo está cada vez mais se encaixando na definição de autocracia.

"Isso é um domínio completo e total", disse Taisu Zhang, especialista em China e professor da Universidade Yale, no Twitter. "Por favor, nunca mais me digam que a política chinesa é uma meritocracia."

O aperto de pulso de Xi ocorre quando seu país enfrenta um momento crítico no cenário internacional. As relações com os Estados Unidos e muitos países ocidentais caíram a níveis historicamente baixos, enquanto crescem os temores sobre uma administração cada vez mais militarista que se recusa a descartar a tomada de Taiwan pela força.

"Xi gostaria que os legalistas segurassem todas as alavancas do poder no governo chinês. O cumprimento rápido e completo parece ser um objetivo importante com essas nomeações", disse Victor Shih, professor de economia política chinesa na Universidade da Califórnia em San Diego.

Shih apontou que Xi enfrentou o risco político interno de ser considerado responsável pelas falhas políticas de seus acólitos. "Sempre ajuda ter um ou dois funcionários para culpar se as coisas derem errado."

Cercado por sua equipe de partidários, Xi provavelmente aumentará os esforços para que a China se concentre menos no crescimento e mais na redistribuição e no controle estatal, disse Andrew Gilholm, chefe de análise da China na consultoria Control Risks.

Há sinais de desconforto dos investidores à medida que as tendências cada vez mais autoritárias da China se espalham pelo cenário corporativo.

A WisdomTree Asset Management, com sede nos EUA, disse na segunda que removeu o conglomerado de tecnologia Tencent, a operadora de mecanismos de busca Baidu e a gigante de rede social Weibo de seu índice na China. O movimento resultou em rotatividade de mais de um quarto do índice.

As empresas de tecnologia, há muito criticadas por suprimirem a dissidência e favorecerem a censura no país, foram criticadas neste ano por promover conteúdo que apoiava a invasão da Ucrânia pela Rússia.

"Devido ao seu envolvimento em graves violações da liberdade de expressão na China, essas empresas foram rebaixadas de uma lista de vigilância para descumpridoras dos princípios da ONU", disse Liqian Ren, diretor da WisdomTree.

Ainda assim, olhando para o histórico de Xi nos últimos dez anos no poder, o líder de 69 anos é conhecido por assumir riscos calculados.

"É duvidoso dizer que Xi agora de repente seguirá alguma campanha radical contra o crescimento de empresas privadas e dos ricos, apenas porque os resultados do Congresso permitem isso", disse Gilholm. "Não está claro para mim que Xi foi apenas constrangido por outros e agora entrará no modo de demolição total."

Enquanto Xi embarca em um novo mandato, quebrando o limite chinês de dois mandatos para seu líder, estes são os seis membros abaixo do líder supremo:

Li Qiang, 63

Chefe do partido em Xangai, Li é um dos aliados próximos de Xi há duas décadas. Serviu diretamente sob Xi quando o presidente governou a província de Zhejiang de 2004 a 2007.

Embora Li seja considerado uma estrela em ascensão há muito tempo, o tratamento caótico de seu governo com o surto de Covid no início deste ano em Xangai alimentou alguma incerteza sobre seu futuro político.

Agora ele está pronto para ser promovido a primeiro-ministro, substituindo Li Keqiang. Embora Li Qiang não tenha experiência no governo central, ele tem um histórico de apoio ao desenvolvimento do setor privado.

A rápida ascensão de Li –de um cargo provincial a primeiro-ministro com responsabilidades importantes para a economia chinesa– é vista como um sinal claro de que Xi priorizou a lealdade à experiência.

Zhao Leji, 65

Ao lado de Wang Huning, Zhao Leji sobrevive às mudanças radicais de Xi nos altos escalões do partido. Um aliado confiável e chefe de gabinete de Xi desde 2012, ele é visto como um burocrata eficaz e leal para lidar com as principais nomeações do partido-estado.

Ele assumiu o lugar de Wang Qishan como chefe anticorrupção de Xi em 2018, alertando na época que sua prioridade era reprimir as pessoas "desleais e desonestas" com o partido e "impedir que grupos de interesse formassem e usurpassem o poder político", observaram os pesquisadores da Gavekal.

As funções de chefe do principal órgão consultivo político da China, a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, e de chefe da legislatura da China, o Congresso Nacional do Povo, provavelmente irão para Zhao ou Wang.

Wang Huning, 67

Guru ideológico de Xi, apoia a ambição do líder de aprofundar o controle do partido e a autoconfiança do país.

Uma raridade na nova liderança, Wang também foi um influente conselheiro político dos antecessores de Xi. O ex-professor de política foi nomeado para o mais alto órgão político da China em 2017. Ele possui vasta experiência entre os líderes chineses, tendo sido nomeado pelo então líder Jiang Zemin como assistente especial do grupo central de pesquisas políticas em 1995.

De acordo com Cheng Li, da Brookings Institution, acredita-se que Wang seja uma fonte importante das ideias políticas típicas de Xi e de uma política externa mais assertiva. Wang argumenta que a reforma da China não deve ser perseguida às custas da estabilidade e que uma liderança central forte e unificada é crucial para o desenvolvimento do país.

Cai Qi, 66

É o chefe do partido em Pequim desde 2017. Ele também é considerado um dos aliados mais próximos de Xi. Os dois trabalharam juntos em vários pontos durante as décadas de 1980, 1990 e 2000, quando Xi era um líder provincial em ascensão em Fujian e Zhejiang.

Cai ingressou no Politburo em 2017, entre um grupo de acólitos de Xi.

A liderança dele em Pequim foi marcada pelas duras expulsões dos trabalhadores migrantes da capital. Suas credenciais melhoraram depois de lidar com os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim e os surtos de Covid este ano.

Cheng Li, do Brookings, diz que Cai é conhecido por demonstrar energicamente sua lealdade a Xi e pode estar na disputa para liderar a Comissão Central de Inspeção Disciplinar, o Secretariado do Partido Comunista Chinês, órgão sob o Politburo liderado por Xi, ou possivelmente a CCPPC, um órgão consultivo político.

Ding Xuexian, 60

Avançou na carreira em Xangai, onde foi promovido a chefe de gabinete de sucessivos secretários do partido, inclusive Xi, por um período em 2017.

Apesar do fato de Ding nunca ter servido como chefe do partido em uma das cidades ou províncias da China, ele ainda é visto como um dos protegidos favoritos de Xi.

Desde que Xi ascendeu à liderança do partido, há uma década, Ding atuou como diretor do gabinete do líder, essencialmente um assistente pessoal de Xi. Em 2017, foi selecionado para o Politburo de 25 membros e posicionado para promoção.

Apesar de também não ter histórico no governo de uma província, espera-se que ele se torne vice-primeiro-ministro, o que significa que teria a responsabilidade de ajudar Li Qiang na gestão econômica da China.

Li Xi, 66

Os laços de Li Xi com Xi Jinping duram quatro décadas, através do ex-patrono de Li, Li Ziqi, e do pai de Xi, em Gansu, noroeste da China. Nos últimos cinco anos, ele foi chefe do partido em Guangdong, uma plataforma de lançamento para cargos mais altos.

Antes de liderar o centro tecnológico no sul da China, ele atuou como chefe do partido em Liaoning, no norte, onde construiu a reputação de adotar uma postura rígida em relação à corrupção e à disciplina partidária, muito de acordo com a política de Xi.

Também é um dos principais candidatos a se tornar o chefe anticorrupção de Xi. Como chefe da CCDI, o órgão de fiscalização interno muito temido do partido, ele assumiria a responsabilidade pela campanha anticorrupção de Xi, que em uma década investigou 4 milhões de membros do partido e expurgou centenas de altos funcionários.

(Colaborou Cheng Leng)

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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