Robôs fazem o trabalho pesado em fábrica de motores para caminhões elétricos

FPT, que faz parte do Iveco Group, quer se mostrar apta a uma nova era com fábricas e produtos "carbono zero"

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Turim (Itália)

Antes das máquinas, o jardim. A visita à primeira fábrica italiana dedicada à produção de motores para veículos comerciais elétricos começa em um espaço anexo à linha de montagem, em que um pé de romã se destaca. Há banquetas feitas de pallets reciclados, arbustos e sombras, parece uma área de piquenique.

No galpão ao lado, braços robóticos erguem eixos e baterias que pesam centenas de quilos. Os operários que comandam as operações foram recrutados pela FPT Industrial ePowertrain em universidades e cursos técnicos e são mão de obra altamente especializada. A maioria dos 200 trabalhadores aparenta ter não mais que 30 anos de idade.

Instalações da nova fábrica da FPT, em Turim (Itália)
Linha de produção da FPT, que inaugura fábrica de motores e baterias para veículos comerciais elétricos - Eduardo Sodré/Folhapress

A relação entre jardim, juventude e maquinário é direta: a empresa, que faz parte do Iveco Group, quer se mostrar apta a uma nova era, em que tanto as fábricas como seus produtos são "carbono zero".

O discurso de promoção da qualidade de vida de funcionários e clientes torna-se mais importante quando o público-alvo tem CNPJ e se preocupa em reduzir suas emissões.

O resultado do trabalho aparece em componentes que farão parte de veículos comerciais leves e pesados de diferentes montadoras. Todos movidos a eletricidade.

São itens como o eixo incorporado ao motor elétrico do Nikola Tre Class 8, um dos primeiros componentes a sair da nova fábrica, localizada em Turim, na Itália. Parece algo simples quando comparado aos conjuntos tradicionais movidos a diesel, mas é um sinal dos tempos.

A potência pode ultrapassar os 1.000 cv, mas o veículo pesado que é produzido em Coolidge (Arizona, EUA) tem aproximadamente 650 cv. A depender do pacote de baterias utilizado, a autonomia pode passar de 500 quilômetros com uma carga.

Essas baterias também cruzam o oceano rumo aos Estados Unidos: parte da fábrica italiana se dedica à montagem e aos testes de acumuladores. Ao todo, são 15 mil m² divididos em duas linhas para produção de sistemas para comerciais leves, e mais a linha de componentes elétricos para os caminhões.

Há capacidade para produzir 20 mil eixos elétricos e igual número de pacotes de baterias por ano. A realidade virtual é combinada a vídeos com instruções de montagem dos componentes, redundância necessária para minimizar os riscos de erros e consequente retrabalho.

Uma das diferenças para as fábricas convencionais está na iluminação. As instalações aproveitam melhor a luz solar, além de usar LEDs para maior eficiência energética. É uma característica de plantas modernas, que contrastam com os galpões vetustos do século 20.

Carrinhos autônomos transportam peças e ferramentas pelos corredores, poupando esforços dos funcionários. Alguns braços robóticos são comandados por joysticks e se movem com delicadeza; peças que pesam mais de 100 quilos são acopladas a outras sem que o encaixe emita ruído.

FPT apresenta fábrica de motores e baterias para carros elétricos
Jardim com pomar e área de descanso faz parte das instalações da nova fábrica da FPT, em Turim (Itália) - Eduardo Sodré/Folhapress

O silêncio é mais uma característica da fábrica de Turim, tanto pela natureza do trabalho –não há as barulhentas alas com prensas de estamparia das fábricas de automóveis– como pela modernidade dos equipamentos.

Sylvain Blaise, presidente da unidade de negócios de powertrain do Iveco Group, acompanhou toda a visita. Pouco antes do tour pela linha de montagem, ele destacou a meta da empresa: neutralizar o carbono emitido nas operações até 2040, o que significa antecipar em dez anos a meta estipulada pelo Acordo de Paris.

Essa ambição é passada aos funcionários, muitos em seu primeiro emprego. Nota-se o engajamento desses trabalhadores, que passaram por treinamento não só para aprender a lidar com robôs, mas também para entender como funciona a agenda ESG nessa nova revolução industrial.

Após algumas horas na linha de produção de componentes para veículos elétricos, tem-se a impressão de estar diante do único caminho. Mas a própria FPT Industrial mostra que não é bem assim ao apresentar sua área de testes e desenvolvimento de motores a combustão.

O diesel segue presente e dominante, mas acompanhado de biometano e outras alternativas de menor impacto ambiental. Há produtos impressionantes, como o motor V8 de 20 litros que equipa máquinas agrícolas.

No momento, contudo, a preocupação não é apenas com emissões. "É um momento difícil, temos a Guerra da Ucrânia e a elevação dos custos dos componentes", disse Stefano Lo Russo, prefeito de Turim, durante o encontro que antecedeu a visita. "É um sinal de coragem investir dessa forma em um cenário que está mudando rapidamente."

O jornalista viajou a convite do Iveco Group

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