Descrição de chapéu The New York Times

Colapso de uma grande fusão rompe o padrão de consolidação no mercado editorial dos EUA

Aquisição da Simon & Schuster pelo grupo Penguin Random House teria reduzido a quatro as grandes editoras nos Estados Unidos

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Elizabeth A. Harris Alexandra Alter Benjamin Mullin
Nova York | The New York Times

Depois de dois anos de análise regulatória e especulações acaloradas no mundo editorial, de uma acirrada batalha judicial e de centenas de milhões de dólares em despesas, o acordo para a aquisição da editora Simon & Schuster pelo grupo Penguin Random House foi oficialmente cancelado na segunda-feira (21).

O desmonte da transação impediu que a maior editora dos Estados Unidos se tornasse substancialmente maior. Também interrompeu o processo de consolidação em um setor que foi profundamente remodelado por fusões e aquisições, com pouca intervenção das autoridades regulatórias.

A implosão do acordo veio três semanas depois que um juiz federal decidiu contra a Penguin Random House em um processo antitruste, impedindo a transação de ir adiante sob o argumento de que a fusão reduziria a competição no mercado e prejudicaria os escritores.

Livros da Penguin em sebo em Londres, no Reino Unido - Stefan Wermuth - 29.out.2012/Reuters

Se desejasse recorrer da decisão anunciada em 31 de outubro, a Penguin Random House precisaria que a Paramount Global, controladora da Simon & Schuster, estendesse o prazo do acordo de aquisição, que expira na terça-feira. Em lugar disso, a Paramount decidiu cancelar a transação, o que priva a Penguin Random House de opções legais e a obriga a pagar US$ 200 milhões em multa rescisória.

"A Penguin Random House continua convencida de que é o melhor lar para os empregados e autores da Simon & Schuster", afirmou a empresa em comunicado. "Acreditamos que a decisão do juiz é um erro e planejávamos recorrer, confiando em que temos argumentos convincentes e persuasivos a apresentar para reverter a decisão do tribunal de primeira instância. No entanto, temos de aceitar a decisão da Paramount de não seguir em frente."

O resultado do julgamento foi um choque para muita gente no mundo editorial, onde o número de grandes editoras caiu para cinco —Penguin Random House, HarperCollins, Macmillan, Hachette e Simon & Schuster—, depois que as grandes empresas adquiriram numerosas editoras pequenas e de médio porte. Muita gente temia que uma redução maior no número de grandes editoras, para apenas quatro, reduziria o número de compradores a que os autores e agentes literários podem recorrer, e tornaria ainda mais difícil competir, para as editoras menores.

Muita gente temia especialmente que a Penguin Random House —já a maior editora dos Estados Unidos por larga margem— crescesse ainda mais ao absorver um rival. A Penguin Random House controla cerca de cem selos editoriais; juntos, eles publicam mais de 2.000 títulos por ano. A fusão teria acrescentado a ela os cerca de 50 selos editoriais da Simon & Schuster, assim como a vasta e valiosa lista de títulos mais antigos do acervo da empresa.

No final, o Departamento de Justiça e o juiz que presidiu ao caso tiveram preocupações semelhantes e bloquearam o negócio, um resultado que alguns autores e organizações setoriais comemoraram porque representa um freio necessário à consolidação.

"O mercado já está consolidado demais", disse Mary Rasenberger, presidente da The Authors Guild, uma organização de defesa de escritores que se opunha à aquisição. "Um ecossistema editorial saudável necessita ter muitas editoras com gostos e interesses diferentes, e diferentes graus de risco que estejam dispostas a assumir."

A decisão vai prolongar o período de incerteza na Simon & Schuster, mas a editora está em boa posição para passar por isso. O desempenho recente da empresa vem sendo forte, mesmo que os resultados de outras grandes editoras tenham piorado. Seus lucros nos primeiros nove meses do ano subiram em 29% em comparação com o mesmo período no ano passado, o que a coloca a caminho de um ano recorde.

Entre seus sucessos estão vários romances de Colleen Hoover, que vem dominando as listas de best-sellers de ficção, e um best-seller que chegou de surpresa, "I'm Glad My Mom Died", de Jennette McCurdy, que vendeu um milhão de exemplares desde que foi publicado em agosto, anunciou a empresa.

"A Simon & Schuster nunca foi tão lucrativa e valiosa quanto hoje", disse Jonathan Karp, presidente-executivo da editora, em uma carta aos funcionários na segunda-feira. "Como já apontei antes, celebraremos nosso centésimo aniversário em abril de 2024 não importa quem seja nosso proprietário —e teremos muito a comemorar".

Em uma declaração divulgada na tarde de segunda-feira, a Paramount indicou que não considera que a Simon & Schuster se encaixe bem à sua estratégia mais ampla. "A Simon & Schuster é um negócio altamente valioso com um histórico recente de desempenho forte, mas a base de suas operações não é o vídeo e, portanto, ela não se encaixa estrategicamente no portfólio mais amplo da Paramount", disse a empresa.

Até que o acordo com a Penguin Random House expire, na terça-feira, a Paramount está proibida de discutir a venda da Simon & Schuster para outros pretendentes. Mas é provável que a Paramount estude uma possível venda da Simon & Schuster assim que o ano acabar, de acordo com uma pessoa informada sobre o assunto, que disse que a empresa vai esperar uma oferta que reflita a melhora no desempenho financeiro da editora; a pessoa falou em "off" por não estar autorizada a se pronunciar sobre assuntos confidenciais.

A lista de pretendentes poderia incluir empresas que expressaram interesse na Simon & Schuster quando esta foi colocada à venda, entre as quais o conglomerado de mídia francês Vivendi e a News Corp, controladora da HarperCollins, de acordo com duas pessoas informadas sobre o assunto, que não permitiram que seus nomes fossem citados por estarem discutindo assuntos confidenciais. É provável que a Simon & Schuster também atraia interesse de potenciais compradores do ramo financeiro, de acordo com o executivo de uma empresa de capital privado que pediu que seu nome não fosse revelado para falar sobre a estratégia de negociação.

Não se sabe, no entanto, se os problemas e as despesas legais do julgamento poderiam arrefecer o interesse de outras editoras. Durante o julgamento, os executivos de duas outras grandes editoras, Hachette e HarperCollins, depuseram afirmando que gostariam que suas empresas adquirissem a Simon & Schuster. Também não está claro como o Departamento de Justiça encararia uma aquisição dentro do setor. As preocupações quanto à participação de mercado seriam menos pronunciadas —particularmente no caso da Hachette, que é significativamente menor que a Penguin Random House—, mas o número de editoras grandes o bastante para competir pelos livros mais dispendiosos ainda assim cairia de cinco para quatro.

Alguns especialistas em questões antitruste disseram que qualquer transação para vender a Simon & Schuster a outra das cinco grandes editoras provavelmente enfrentaria escrutínio intenso por parte das autoridades regulatórias.

"Se alguém mais quiser fazer um lance, precisa considerar em seus cálculos o custo de um litígio contra o governo", disse Erik Gordon, professor de administração de empresas na Universidade de Michigan.

O cancelamento da transação também sinaliza um período de incerteza para a Penguin Random House. A editora revelou durante o julgamento que sua participação de mercado vem caindo nos últimos anos. A companhia esperava que a compra da Simon & Schuster compensasse esse declínio. Agora, ela terá que encontrar outra maneira.

Tradução de Paulo Migliacci

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