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Saiba quem é Colleen Hoover, que lança agora 'É Assim que Começa' no Brasil

Com uma legião de fãs e talento para criar dramas emotivos, escritora já vendeu mais de 20 milhões de livros

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Nova York | The New York Times

Colleen Hoover vendeu mais livros neste ano do que o Dr. Seuss. Vendeu mais livros do que James Patterson e John Grisham, somados.

Dizer que ela é hoje a escritora mais vendida nos Estados Unidos ou tentar comparar a autora a outros escritores de sucesso que puseram vários livros nas listas de mais vendidos não basta para capturar o tamanho e a lealdade de seu público.

A escritora Collen Hoover
A escritora americana Colleen Hoover, fenômeno de vendas nos Estados Unidos e no Brasil - Divulgação

Hoover ocupa seis dos dez primeiros lugares na lista de mais vendidos de ficção do The New York Times, um número de best-sellers simultâneos que seria assombroso para qualquer autor. Nos Estados Unidos, ela vendeu 8,6 milhões de livros em papel só este ano —mais cópias do que a Bíblia, de acordo com o NPD BookScan.

E o seu sucesso, do qual Hoover diz se espantar, derrubou preceitos firmemente enraizados do mercado editorial sobre o que transforma um livro em sucesso de vendas.

Quando publicou de forma independente seu primeiro romance para jovens adultos, "Métrica", em janeiro de 2012, Hoover trabalhava como assistente social, com um salário de US$ 9 por hora, e morava em um pequeno trailer com o marido, caminhoneiro, e os três filhos do casal. Ela ficou muito feliz por receber US$ 30 em royalties. Pôde pagar a conta de água.

Hoover, de 42 anos, não tinha editora, agente ou qualquer dos apetrechos de marketing que ajudam a engendrar um best-seller: campanhas de divulgação ao custo de centenas de milhares de dólares, visitas agendadas a talk shows e podcasts, palestras e prêmios literários, resenhas lisonjeiras de críticos literários famosos.

Mas, sete meses mais tarde, "Métrica" chegou à lista de best-sellers do The New York Times. Em maio do ano seguinte, ela já tinha recebido US$ 50 mil em royalties, dinheiro que usou para pagar o empréstimo de seu padrasto que tinha usado para comprar o trailer. Na metade do ano, com dois livros na lista de best-sellers —"Métrica" e sua continuação, "Pausa"— Hoover pôde deixar o emprego para escrever em tempo integral.

O sucesso da escritora veio, em boa medida, nos termos ditados por ela, puxado por leitores que atuam como divulgadores e geram vendas com resenhas entusiasmadas online e vídeos com reações ao livro que se tornam sucesso viral.

Os fãs da escritora, que são em sua maioria mulheres, adotaram o nome "CoHorts", e postam respostas altamente positivas aos finais devastadores de seus livros. Um exemplo típico é uma fã que fez o seguinte apelo no TikTok —"quero que Colleen Hoover me dê um soco na cara, doeria menos do que seus livros".

Até agora, em 2022, cinco dos dez livros em papel mais vendidos nos Estados Unidos, em todos os gêneros literários, são de Hoover, de acordo com o NPD BookScan, e muitos de seus best-sellers atuais foram lançados há anos, um fenômeno quase inédito no mundo editorial.

"Ela está desafiando as leis de como o mercado funciona", disse Peter Hildick-Smith, um analista do setor editorial.

A maioria dos autores que chegam aos topos das listas de best-sellers encontram o sucesso por causa de uma série altamente popular, como "Crepúsculo" ou "Harry Potter", ou estabelecem sua marca escrevendo em um gênero reconhecível. Hoover é eclética.

Ela escreveu histórias de amor, um thriller psicológico sensual, uma história de fantasmas e romances perturbadores sobre violência doméstica, abuso de drogas, desabrigados e pobreza. Embora seus livros sejam difíceis de categorizar, a maioria deles traz uma combinação viciante de sexo, drama e reviravoltas extremas de enredo.

"As pessoas sempre me diziam que escritores precisavam adotar uma coisa específica como marca, e eu pensava comigo mesma que queria adotar todas as coisas", disse Hoover. "Por que minha marca não pode ser simplesmente Colleen Hoover?"

A base de fãs devotos do trabalho de Hoover deu a ela um grau de controle sobre seu trabalho que é incomum no mundo editorial.

Ela começou a publicar seus livros de forma independente, e continua a fazer isso ocasionalmente, mas também assinou contratos com diversas editoras, às vezes vendendo os direitos de impressão e mantendo os direitos sobre as versões eletrônicas dos títulos.

Hoover tem contratos com três editoras para lançar seis livros nos próximos cinco anos. Três thrillers, pela Grand Central, divisão do grupo Hachette; dois livros românticos pela Atria, divisão da Simon & Schuster; e um romance pela Montlake, selo de histórias românticas da Amazon Publishing.

"Se você pensa em John Grisham, Lee Child ou James Patterson, esses caras são criaturas do mercado editorial tradicional. Foram feitos por grandes editoras, trabalham com as mesmas editoras há muitos anos, têm uma fórmula forte —é como uma máquina", disse Kristen McLean, a principal analista do setor no NPD BookScan. "Já o caso de Hoover é completamente diferente. É ela que está no comando."

Livros de Hoover dominam as listas de best-sellers atuais anos depois de terem sido lançados pela primeira vez. Seu livro mais vendido, "É Assim que Acaba", um drama sobre uma florista que se apaixona por um neurocirurgião ríspido e abusivo, saiu há seis anos, mas reapareceu na lista de best-sellers em 2021, e continua firme em sua posição.

O título está no primeiro lugar na lista dos livros em brochura do The New York Times e já vendeu 4 milhões de cópias. Depois que os leitores imploraram por uma continuação, Hoover escreveu "É Assim que Começa", lançado pela Atria nos Estados Unidos nesta quinta-feira —e pela Galera Record no Brasil—, com uma primeira tiragem de 2,5 milhões de cópias.

O uso habilidoso das mídias sociais, onde Hoover tem 3,9 milhões de seguidores e posta vídeos leves, de humor autodepreciativo, ajudou a aumentar sua audiência. O momento também ajudou. Embora ela tenha construído uma base forte de fãs no início de sua carreira, as vendas dispararam durante a pandemia, quando os livros de Hoover se tornaram uma sensação no TikTok. O #colleenhoover já acumula mais de 2,4 bilhões de visualizações.

Libby McGuire, diretora da Atria, principal editora de Hoover, classifica o fenômeno como o reverso do clube do livro de Oprah. Em vez de termos Oprah Winfrey fazendo uma recomendação que pode gerar 2 milhões de vendas, agora temos cem pessoas fazendo recomendações —e vendendo 4 milhões de livros, disse McGuire.

"Nós nos limitamos a esperar para ver o que os leitores vão escolher a seguir", afirma.

Hoover, que diz que sofre do "caso mais grave de síndrome do impostor" que o mundo já viu, parece perplexa diante de tudo isso.

"Leio os livros de outras pessoas e fico com inveja. Penso que os outros livros são tão melhores, por que será que os meus vendem tanto?", diz. "Não sou eu", ela prossegue. "São os leitores que controlam o que está vendendo agora."

Em Dallas, nos Estados Unidos, em um dia escaldante de verão, Hoover estava sentada em uma sala de reunião corporativa e parecia ansiosa; um maquiador trabalhava em seu rosto. Quando o estilista perguntou, alegremente, que tipo de visual ela estava procurando, Hoover pareceu perplexa.

"O que quer que você ache que possa ajudar", disse Hoover. "Isto é muito embaraçoso para mim."

Mais tarde, com o cabelo arranjado em longas ondas e cílios postiços aplicados, Hoover chegou a um imenso salão de convenções no subsolo de um edifício. Ela encontrou seu lugar em uma mesinha dobrável, pronta para atender à entusiástica audiência da Book Bonanza, um evento literário de caridade anual que ela organiza para o ramo de literatura romântica.

As sessões de autógrafos de Hoover são operações bem azeitadas que transcorrem com a precisão de uma linha de montagem. Uma equipe de assistentes mantém a fila em movimento. Um recebe os fãs e anota seus nomes em post-its. Um segundo distribui brindes. Um terceiro usa os celulares dos leitores para fotografar todos ao lado de Hoover, que sorri para a câmera.

Cada encontro dura menos de um minuto, muitas vezes, mas para os "CoHorts" conhecer a autora é como fazer uma peregrinação religiosa.

"Vou chorar", disse uma leitora, Angie LePine, de Denton, Texas, a Hoover. "Você é parte da minha vida."

A escritora Collen Hoover
A escritora americana Collen Hoover, fenômeno de vendas nos EUA e no Brasil - Divulgação

Hoover cresceu em Saltillo, uma cidadezinha cerca de 140 quilômetros a leste de Dallas. Sua recordação mais antiga é de quando tinha dois anos de idade —ela acordou certa noite com os gritos de seu pai, e o viu jogar um televisor contra a mãe de Hoover, que a derrubou.

Seus pais se divorciaram pouco depois. A escritora descobriu mais tarde que seu pai, morto quando ela tinha 25 anos, era alcoólatra e tinha abusado fisicamente de sua mãe.

Quando ela tinha quatro anos, sua mãe voltou a se casar. O dinheiro era escasso. A família tinha uma pequena fazenda leiteira com cerca de 50 vacas, onde Hoover e sua irmã mais velha, Lin, trabalhavam, pela manhã e nos finais de semana.

Quando Hoover solicitou ajuda financeira para frequentar uma faculdade comunitária, em 1997, descobriu que a renda de sua família tinha sido de US$ 13 mil naquele ano. Ela se formou em assistência social e passou anos trabalhando com isso, em um centro de defesa da criança, em uma casa de recuperação de pacientes e, mais tarde, em uma agência estadual que oferece aconselhamento nutricional.

Em 2011, quando seu filho mais novo tinha sete anos, ele foi escolhido para o elenco de uma peça de teatro local. Hoover pediu emprestado o laptop de sua mãe para se entreter durante os ensaios. Ver vídeos de slam, as conhecidas batalhas de poesia, no YouTube deu a ela uma ideia para um romance sobre uma adolescente solitária que descobre as competições de poesia falada.

Ela mostrou capítulos do livro a pessoas de sua família e amigos. Sua chefe no centro de nutrição, Stephanie Cohen, adorou a história e, por isso, ajudou a amiga assumindo uma carga maior de trabalho, o que permitia que Hoover escrevesse durante o dia. Em janeiro de 2012, Hoover subiu "Métrica" para a plataforma de publicação independente da Amazon.

"Ela me ligou um dia e disse que seis pessoas que não conhecia tinham comprado o livro", disse Vannoy Fite, a mãe de Hoover. "No dia seguinte, já eram 60 pessoas."

Quando as vendas engrossaram, as editoras começaram a procurar a autora. Depois de "Métrica", Hoover escreveu mais de 20 livros, saltando dos romances dirigidos a jovens adultos para o erotismo e thrillers. Mas foi em 2020, com a pandemia, que as vendas da Hoover realmente dispararam. No segundo trimestre daquele ano, Hoover liberou o acesso gratuito a cinco de seus ebooks.

Os leitores devoraram os romances —e começaram a comprar toda a sua lista de livros. Hoover pensou que o momento seria fugaz, mas ele perdurou. Romances lançados anos antes voltaram às listas dos mais vendidos.

A fama chegou como um choque para Hoover, que é quase dolorosamente introvertida e não gosta de ser o centro das atenções. "Isso me deixa muito nervosa", ela disse, sobre a participação neste artigo. "Não me dou bem com entrevistas."

Ela continua a fazer compras no Walmart, de pijama, e vive no terreno de 250 hectares que abrigava a fazenda de sua família. O tio de Hoover ainda colhe feno para o gado em sua propriedade.

Em 2015, com os lucros dos livros, a família demoliu o antigo celeiro de laticínios e construiu uma casa de fazenda, espaçosa mas simples, de piso único. Hoover se permitiu alguns luxos. A sala de estar tem espaços de exposição embutidos para pedras preciosas e cristais. Em seu escritório caseiro, uma estante oculta o acesso a um segundo escritório onde ela às vezes se refugia para escrever.

A mãe dela mora na propriedade. As duas são muito próximas e têm tatuagens combinadas, a imagem de um coração, no pulso. Hoover escreve sobre sua admiração pela mãe nas notas de autor de "É Assim que Acaba", seu livro sobre abuso doméstico. Ela conhece quase todo mundo em sua cidadezinha e ainda mantém contato com seus colegas de escola. "Não somos pessoas pretensiosas", disse a escritora.

Com o crescimento de seu público, Hoover às vezes enfrenta dificuldades para manter uma conexão estreita com seus leitores. Após a convenção de literatura romântica, Hoover ouviu reclamações de alguns voluntários e amigos, que se sentiram desdenhados. Hoover chorou na viagem de volta para casa e ligou para a mãe.

"Ela disse ‘sabe de uma coisa, Colleen? Esse é o preço que se paga’", disse Hoover. "E eu respondi que ela estava certa. Sou muito grata por tudo que está acontecendo em minha carreira. Mas também é assustador."

Da mesma forma que nunca esperou ser uma autora best-seller, disse Hoover, ela não espera que seu sucesso dure.

"Na minha cabeça, continuo a dizer que isso vai acabar amanhã", ela afirmou. "E por isso preciso aproveitar."

Tradução de Paulo Migliacci

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