Prateleiras de supermercados começam a ficar vazias em SP

Embora não tenham provocado uma corrida às lojas, bloqueios nas estradas fazem com que reposição seja falha

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São Paulo

"Tomara que estes bloqueios acabem logo, porque nossos caminhões não conseguem vir do centro de distribuição para a loja", dizia a atendente no caixa do Assaí, na avenida Marquês de São Vicente, zona oeste de São Paulo.

Como resultado dos protestos antidemocráticos que vêm impedindo a circulação nas estradas do país desde a segunda-feira (31), por parte de apoiadores do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições, as gôndolas dos supermercados começam a ficar vazias na maior cidade do país.

A reportagem visitou lojas do Assaí, Makro, Mambo, Pão de Açúcar, Extra e Chama Supermercados nas zonas leste, oeste e no centro de São Paulo nesta quarta-feira (2) de feriado nacional. A falta de produtos é pontual, mas na maioria das lojas os balcões de alimentos refrigerados e de carnes, frangos e peixes começam a ficar desabastecidos.

Movimento em supermercado da zona leste; feriado, dia de ofertas e medo de desabastecimento levam consumidores a buscarem alimentos - Cristiane Gercina/Folhapress

"É lastimável [o bloqueio das estradas]", disse à Folha o diretor da Chama, Fabio Iwamoto. "Os produtos de hortifrúti demoraram a chegar às lojas, mas chegaram. O problema é a carne, nosso principal fornecedor não conseguiu seguir viagem", afirmou o executivo que espera, no entanto, que a situação seja normalizada até o fim da semana.

A Apas (Associação Paulista de Supermercados) afirmou não ter registrado nesta quarta relatos de corrida às lojas. "Reiteramos aos consumidores que não há necessidade de alterarem os seus hábitos de compras", informou a associação em nota. "O setor opera dentro da normalidade. Eventuais faltas são situações pontuais e momentâneas."

Também a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) informou ter entrado em contato com vários estados e não identificar lojas cheias nesta quarta.

De fato, a reportagem da Folha não observou lojas com movimento acima do normal. Mas a própria Abras afirmou, na terça-feira (1º), que mais de 70% dos supermercados nas regiões mais afetadas pelos bloqueios enfrentavam problemas de abastecimento e que, até esta sexta-feira (4), consumidores de todo o país podem ter dificuldade para comprar frutas, verduras e legumes.

A reportagem encontrou, em todas as lojas, balcões refrigerados para armazenar carnes e derivados mais vazios. Também há falta pontual, dependendo da loja, de pães industrializados, massas, farinha, óleo, produtos de limpeza, papel toalha, refrigerantes, leite e alimentos refrigerados.

Nesta quarta-feira, a Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) informou que ao menos 500 mil litros de leite podem ser perdidos ao dia, a partir desta quinta-feira (3), se as manifestações nas estradas não cessarem imediatamente.

De acordo com a entidade, 30 linhas de produção, de diversos alimentos, estão paradas neste momento por conta dos protestos.

balcão refrigerado com alguns pedaços de carne
Balcão refrigerado para carnes em loja do Assaí - Folhapress

Já a Abipla (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional) informou que cinco grandes fabricantes de produtos de limpeza nos estados de São Paulo, Rio e Santa Catarina estavam com a produção paralisada por conta das manifestações antidemocráticas nas estradas.

"Caminhões carregados de hipoclorito de sódio e sulfato, dois dos principais insumos usados pela indústria de produtos de limpeza, não chegaram às fábricas", disse à Folha Paulo Engler, diretor-executivo da Abipla. Segundo ele, no entanto, uma das fábricas, no Rio, vai conseguir retomar a produção nesta quinta-feira (3), por conta do desbloqueio nas estradas do estado.

A reportagem apurou que, em lojas do Assaí, dos mesmos acionistas do GPA, a falta de produto é mais evidente. A rede é uma das maiores de atacarejo do país, atendendo tanto consumidores, quanto transformadores (dogueiros, confeiteiras, pizzarias, restaurantes e pequenos negócios de alimentação fora do lar).

Na loja da zona oeste, havia falta de produtos refrigerados de maneira geral, além de carnes e farinha. Em uma loja da zona leste, o mais reclamado pelos consumidores era o papel toalha: havia apenas embalagens com opção de três rolos, a um custo maior, o que gerava queixas. Uma funcionária avisava que, apesar de mais caro, o item também poderia acabar.

balcão de refrigerados com poucos produtos
Balcão de refrigerados em loja do Assaí, na zona oeste de São Paulo - Folhapress

Procurado, o Assaí não atendeu a reportagem, até o fechamento deste texto. Já o GPA (Grupo Pão de Açúcar) afirmou que continua registrando apenas um atraso pontual no recebimento de algumas mercadorias, mas ainda não tinha uma atualização sobre o movimento das lojas.

A reportagem da Folha conferiu um grande movimento em lojas da rede Chama, na zona leste da capital. Segundo funcionários ouvidos em condição de anonimato, a alta na procura por produtos deve-se a uma combinação de três fatores: feriado, medo de desabastecimento e o fato de quarta-feira ser um dia tradicional de ofertas na rede.

Em uma das unidades onde a reportagem esteve, famílias lotavam carrinhos, especialmente com itens básicos. As manifestações antidemocráticas eram um dos assuntos mais comentados por quem estava nas filas ou buscava produtos nas gôndolas.

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