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Demissões na Meta, dona do Facebook, mostram a realidade pós-pandemia

Mark Zuckerberg se curva às exigências dos investidores quanto aos gastos da empresa com metaverso

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Hannah Murphy Ian Johnston Cristina Criddle
San Francisco e Londres | Financial Times

Depois de 18 anos de crescimento, uma nova realidade surgiu na Meta na quarta-feira (9), quando o presidente-executivo Mark Zuckerberg anunciou um corte drástico da força de trabalho de sua empresa.

O corte profundo de pessoal —equivalente a cerca de 13% da força de trabalho da companhia, ou 11 mil empregados– revela as ameaças competitivas que a Meta, controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, vem enfrentando da parte do rival chinês TikTok, dotado de grandes recursos financeiros.

Também representa o primeiro sinal de que Zuckerberg foi forçado a moderar, pelo menos em parte, sua dispendiosa aposta na construção de um metaverso digital povoado por avatares, em meio a um escrutínio mais intenso da parte dos investidores sobre seus gastos.

"A bolha estourou", disse um ex-funcionário da Meta.

Sede da Meta em Menlo Park, Califórnia, nos EUA - Josh Edelson - 9.nov.2022/AFP

Os cortes de empregos são parte de uma onda mais ampla de redução de pessoal no setor de tecnologia. Empresas que dependem fortemente da receita publicitária estão sofrendo, à medida que os anunciantes reduzem seus orçamentos publicitários em um cenário de inflação elevada e alto custo de capital. De acordo com o Layoffs.fyi, um site que rastreia os cortes de empregos das empresas de tecnologia, houve mais cortes nos primeiros nove dias de novembro do que em qualquer outro mês em 2022.

Mesmo com a correção no número de funcionários, a Meta ainda tem mais funcionários do que no ano passado, observaram os analistas, um sinal da rapidez com que a empresa expandiu seu quadro durante o boom que viveu na pandemia. No final de dezembro de 2021, a empresa tinha quase 72 mil funcionários; na quarta-feira, os cortes reduziram sua força de trabalho de mais de 85 mil pessoas para cerca de 74 mil.

"A demissão de 11 mil trabalhadores pela Meta a leva de volta aos níveis de dezembro de 2011. Calma lá, não –dezembro de 2021", escreveu Benedict Evans, um analista de tecnologia independente que também já trabalhou no ramo de capital para empreendimentos.

Muitos investidores e até mesmo alguns funcionários da empresa têm criticado o que percebem como contratações excessivas realizadas por Zuckerberg, em um esforço para tirar vantagem das tendências surgidas na pandemia, incluindo o avanço na comunicação e nas compras online.

"Eles cresceram muito rápido e foram muito pródigos com seus benefícios", disse Zaven Nahapetyan, antigo gerente sênior de engenharia do Facebook, que deixou a empresa em 2021 para fundar a plataforma de mídia social descentralizada Niche. "Há tantas equipes que não precisavam estar lá e tantos produtos que ninguém conhece. Não me surpreende que agora a realidade esteja se fazendo sentir."

Mas outros acreditam que Zuckerberg agiu racionalmente em termos de contratar pessoal o mais rápido possível, e sempre teve em mente que mais tarde teria de corrigir quaisquer problemas causados por isso.

"Ele tentou monopolizar o mercado de engenheiros. Todos sabiam que isso significava desperdício", disse Kevin Landis, investidor em tecnologia da Firsthand Funds. "Eles com certeza sabiam que estavam esbanjando, mas tinham certeza de que essa era a coisa a fazer naquele momento".

Zuckerberg falou em tom sóbrio durante uma reunião com todo o pessoal que continuaria na empresa, quarta-feira. "Sei que deve haver uma vasta gama de emoções. Quero dizer desde já que assumo total responsabilidade por essa decisão", ele disse, de acordo com um vídeo da reunião que foi encaminhado à NBC News. "E foi uma das decisões mais difíceis que já tive de tomar."

De qualquer forma, o ajuste causou um forte abalo a muitos dos atuais e ex-trabalhadores da Meta.

Um ex-empregado descreveu o clima interno como "um grande caos". Estagiários da empresa que receberam ofertas de futura contratação estavam preocupados por não saber se suas vagas ainda estariam garantidas, disse um deles.

Em alguns casos, os cortes parecem ter sido baseados mais na eliminação de determinadas funções e equipes do que na demissão do pessoal de baixo desempenho, de acordo com duas outras pessoas informadas sobre a situação.

Das áreas visadas, a de recrutamento foi atingida fortemente. Empresas como a Stripe e Twitter concentraram seus cortes de pessoal na área de recrutamento, por terem congelado as contratações, o que significa que o pessoal de recrutamento da Meta estava preparado para perdas.

"Acho que a maioria de nós da equipe de recrutamento teve a ideia de que seríamos dispensados nesta manhã", escreveu Ryan Anderson, um recrutador baseado em Boston que foi demitido pela Meta na quarta-feira, em uma postagem no LinkedIn.

Zuckerberg reconheceu que o recrutamento foi "desproporcionalmente afetado", e disse que a Meta estava "reestruturando nossas equipes de negócios de maneira mais substancial". Mesmo o Reality Labs, a divisão de realidade aumentada e virtual que sustenta a visão de Zuckerberg sobre o metaverso, sofreu cortes.

Para aqueles que permanecem, reina a confusão. "Não está muito claro quem assumirá quais projetos e relacionamentos", disse um funcionário que continua na empresa, acrescentando que mesmo aqueles que ficaram foram prejudicados. "É totalmente brutal."

Havia sinais de que os cortes apaziguaram os investidores, que causaram queda de mais de US$ 89 bilhões no valor de mercado da Meta no final de outubro, depois que a companhia anunciou um declínio de receita. As ações da Meta fecharam em alta de mais de 5% na quarta-feira.

Jim Tierney, vice-presidente de investimento da AllianceBernstein, que é acionista da Meta, disse que o corte foi "definitivamente um passo na direção certa". Mas ele questionou por que a empresa ainda projetava um crescimento de entre 10% e 15% nas despesas em 2023, independentemente dos cortes, acrescentando que "eu acho que eles precisam apertar ainda mais os gastos".

Brent Thill, analista do banco de investimento Jefferies, afirmou em uma nota de pesquisa que não esperava que os cortes de empregos prejudicassem a trajetória de crescimento de receita da Meta e que se sentia "encorajado pelo potencial de ganhos positivos, por revisão de ações, pela primeira vez em 15 meses".

Outros apontaram que as perspectivas para a Meta continuavam desfavoráveis. Dan Ives, analista da Wedbush Securities, disse que "Zuckerberg finalmente decidiu considerar a opinião do mercado e fazer alguma coisa", o que foi um "passo na direção certa".

Mas ele acrescentou que "as demissões na Meta [são] um sinal ameaçador dos dias sombrios que estão por vir para Zuckerberg & companhia. A estratégia do metaverso continua a causar sérias dúvidas e os ventos adversos estão ganhando força, na mídia social".

Tradução de Paulo Migliacci

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