Lula diz que responsabilidade fiscal é importante, mas que é preciso investir para melhorar o país

Petista responde a críticas após defender furar o teto de gastos para financiar programas sociais

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Lisboa | Reuters

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse neste sábado (19) que responsabilidade fiscal é importante, mas que o investimento para melhorar a economia e o bem-estar no país também é.

"Nós sabemos que temos de ter responsabilidade fiscal. Não podemos gastar mais do que a gente ganha. Mas nós sabemos também que a gente pode gastar para fazer alguma coisa que tenha rentabilidade, para fazer o país crescer, melhorar", disse, em evento em Lisboa.

A declaração ocorre num momento em que o petista é alvo de críticas por defender furar o teto de gastos para conseguir financiar programas sociais, e questionar as reações do mercado diante da discussão econômica envolvendo a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição.

O presidente eleito Luiz Inacio Lula da Silva, em encontro nesta sexta (18) com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, em Lisboa - Rodrigo Antunes - 18.nov.22/Reuters

Na quarta-feira (16), o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), apresentou a minuta do texto, que propõe retirar o programa Bolsa Família do teto de gastos de forma permanente, assim como parte dos investimentos.

Em reação, os mercados financeiros despencaram nos últimos dias. O índice Ibovespa da Bolsa brasileira acumulou uma queda de 3% na semana.

O temor é em relação aos gastos envolvidos na PEC, que não vai fixar um valor máximo para a fatura extrateto, mas estimativas apontam a necessidade de R$ 175 bilhões para o programa social no ano que vem. A proposta ainda inclui autorização para que parte de receitas extraordinárias fique fora da regra de gastos e possa ser redirecionada para investimentos, em um limite de R$ 23 bilhões em 2023.

Após minimizar a reação de parte do setor financeiro, Lula fez acenos ao mercado. Na sexta (18), o petista repetiu que cumpriu as regras de responsabilidade fiscal quando esteve no governo, entre 2003 e 2010.

Na ocasião, o presidente eleito comentava sobre a carta publicada na Folha pelos economistas Arminio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan endereçada a ele. Intitulado "Vai cair a Bolsa? Aumentar o dólar? Paciência?", o texto questiona Lula sobre as declarações recentes.

"Ainda não li a carta, mas fiquei feliz ao saber de uma carta de pessoas importantes me alertando sobre problemas econômicos e dando sugestões. Eu sei ouvir conselhos e, se fizer sentido, seguir", afirmou.

Ao lado do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, o presidente eleito ainda disse ficar chateado quando o questionam sobre qual será sua política fiscal, repetindo que agiu de modo responsável quando era presidente, e que conseguiu baixar inflação, desemprego e o percentual da dívida interna do país.

"Ninguém tem autoridade para falar em política fiscal comigo, porque durante todo o meu período de governo fui o único país do G20 que fez superávit primário durante os oito anos de mandato", disse, acrescentando que vai voltar a ser responsável do ponto de vista fiscal, sem precisar atender tudo que o sistema financeiro quer.

O evento deste sábado em Lisboa também teve a presença do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que é um dos principais cotados para assumir o Ministério da Fazenda de Lula.

"Vamos colocar como prioridade o desenvolvimento e a justiça social", disse Haddad. "Temos um desafio interno no Brasil: fazer mais e melhor do que pudemos fazer em outras ocasiões."

Lula também afirmou que quer formar um governo com "mais gente da sociedade, de outros partidos" e com os que não têm filiação partidária.

O presidente eleito disse que, embora seu partido tenha derrotado Jair Bolsonaro (PL) na eleição de outubro, as correntes de extrema direita seguem ainda muito ativas no Brasil.

"A gente derrotou o Bolsonaro...Mas o bolsonarismo ainda está vivo e nós precisamos derrotar. Vamos derrotar sem utilizar os métodos que eles utilizaram contra nós. Nós não queremos perseguição, violência. Queremos um país que viva em paz", disse.

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