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transição de governo

'Mercado' não veta Haddad e problema maior é o plano econômico de Lula 3

Discursos recentes de Lula é que têm causado má impressão entre os donos do dinheiro

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Vinicius Torres Freire

Colunista da Folha

"O mercado" não "veta" a ideia de Fernando Haddad no ministério da Fazenda, mesmo que "mercado" signifique figuras graúdas da finança. Se por mais não fosse, não há posições unânimes ou imutáveis entre essas figuras ou, desculpem a obviedade da caricatura ridícula, um comitê da burguesia financeira.

Além do mais, a ideia de que tal ou qual nome vai ou não deve ir para a Fazenda é um lobby no vazio: ninguém parece ter mesmo ideia do que Luiz Inácio Lula da Silva pretende fazer a respeito.

Para completar, o nome do indicado pode não dizer grande coisa se não se souber que tipo de equipe vai levar para o governo e qual o programa econômico. Por ora, nem mesmo a equipe de transição na economia começou a trabalhar.

Lula, de camisa azul, levanta com sua mão esquerda a mão de direita de Haddad, de camisa branca, em frente a um fundo vermelho
O presidente eleito, Luiz Inacio Lula da Silva, e o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, na av. Paulista, após a vitória de Lula nas eleições de 2022 - Caio Guatelli - 30.out.2022/AFP

Como a colunista Monica Bergamo escreveu nesta Folha, há, sim, rejeições à indicação de Haddad para a Fazenda. O ex-prefeito de São Paulo é tido por alguns como "duro", "não tem jogo de cintura política", "difícil", "opinionado", "pouco aberto a sugestões" e até "vaidoso", "arrogante" e "mal-humorado", indo mais longe na fofoca. Um outro político, um governador, bom negociador no Congresso, tal como o perfil supostamente desejado por Lula, seria mais conveniente.

Isso posto, o nome de Haddad é bem aceito por alguns "banqueiros" (altos executivos de bancos), por administradores de dinheiro grosso (gestores de fundos) e por dirigentes de empresas grandes, "empresários", que costumam estar nesses jantares de gente rica com políticos e debatem o assunto de modo mais intenso em grupos de mensagens. Além disso, algumas dessas pessoas têm até tentado mandar sinais, para o PT e para Lula, de que Haddad seria um bom nome, embora talvez isso não tenha lá grande relevância prática, no final das contas.

Algumas dessas pessoas dizem que Haddad até pode ser "difícil", mas tem qualidades. Haddad teria noção mais precisa do tamanho da dificuldade econômica que Lula vai enfrentar. Foi alguém que ajudou a levar Geraldo Alckmin para Lula. Conhece parte da comunidade de economistas ditos "ortodoxos", "liberais", esses apelidos, em particular a de São Paulo. Dialoga com essas pessoas. Teria credibilidade, dadas certas condições programáticas, de levar tais quadros para o governo. Muito importante, seria um político do PT mais capaz de dizer certas verdades a Lula. Outros, no que diz respeito à economia, seriam mais submissos.

O fato é que há, sim, quem defenda Haddad na Fazenda e venha fazendo a campanha possível (pequena, pois Lula está fechado) para levantar o seu nome. Isso é, se Lula decidiu de fato colocar um "político" na Fazenda. O pessoal prefere mesmo é um economista dito liberal ou algo similar, desnecessário dizer. Se a opção fosse um Henrique Meirelles ou outro do gênero, a preferência unânime seria Meirelles.

Uma ressalva desse grupo é também que Haddad não parece habilidoso o bastante para lidar com o Congresso. Há quem afirme até que ele é "paulista demais". De mais sério, dizem que ele simplesmente não tem essa experiência com parlamentares. Neste caso, gente do PT e de fora que dá palpite acredita que um nome como Alexandre Padilha poderia ser o negociador do governo.

Padilha foi ministro da Secretaria de Relações Institucionais de Lula (2009-2010), tratando de articulação política, ministro da Saúde de Dilma Rousseff (2011-2014) e secretário da Saúde na prefeitura Haddad, em São Paulo (2015-2016). Gente do PT quer algum cargo de relevo para Padilha, seja qual for.

É um nome na lista de especulações, pois conversou bem com gente do dinheiro durante a campanha, muita vez como emissário de Lula. É um nome que também passaria bem para a Fazenda, embora essa gente do dinheiro diga não ter ideia do que ele pensa. Mas essas pessoas também não sabem o que pensam os governadores de esquerda cogitados para o comando da economia, embora tenham ficado animados com o caráter jeitoso e diplomático de alguns deles, quando visitaram o dinheiristão paulista.

Por fim, os discursos recentes de Lula têm causado má impressão entre os donos do dinheiro, credores do governo em geral (quem vende ou compra reais e quem financia a enorme dívida pública) e quem decide se vai expandir negócios. Se for essa a linha que vai implementar, qualquer indicado para ministro da Fazenda terá problemas (ou nem vai querer assumir o rolo).

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