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Aeroportos e postos têm dificuldades para renovar estoques de combustível

Há relatos de falta de produtos cinco estados e no DF na véspera do feriado de Finados; setor pede liberação rápida das estradas

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Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília

Os atos bolsonaristas antidemocráticos que bloqueiam estradas brasileiras desde domingo (30) já começam a provocar dificuldades para o abastecimento de combustíveis a aeroportos e postos pelo país. Os manifestantes não aceitam a derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pessoas do setor disseram à Folha, sob anonimato, que os aeroportos de Viracopos, em Campinas (SP), e de Congonhas, em São Paulo, têm estoque para operar apenas até o final desta terça-feira (1º), mas que, se não receberem mais combustível, não terão condições de operar normalmente no feriado de Finados, nesta quarta (2).

Imagem aérea de va´rios carros parados em pedágio
Caminhoneiros boloqueiam parcialmente a rodovia Castelo Branco na altura do primeiro pedagio (Osasco) - Eduardo Knapp/Folhapress

Eles dependem da refinaria de Paulínia (SP), que não está conseguindo enviar caminhões devido aos bloqueios em estradas. Em Viracopos, o terminal de cargas, de onde saem itens gerais para todo o país, também está inoperante desde a madrugada desta terça, em razão dos bloqueios.

"Estimativa das empresas aéreas mostra que, caso o cenário atual se mantenha, ao longo do feriado o setor poderá sofrer com desabastecimento de combustível", afirmou em nota a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).

A associação diz que se colocou à disposição para ajudar e alertou as autoridades para os prejuízos também para o transporte de cargas, inclusive órgãos para transplante, por exemplo.

O setor de combustíveis, por sua vez, reclama de falta de coordenação do governo para resolver o problema, que afeta também postos de gasolina pelo país. Há relatos de postos sem produtos ao menos em cinco estados e no Distrito Federal.

Em outros, postos relatam restrições para adquirir produtos com as distribuidoras, que estariam limitando volumes para tentar preservar seus estoques. A principal dificuldade está na logística de etanol anidro, que é misturado à gasolina e transportado majoritariamente por via rodoviária.

"Esperamos que estas manifestações de cunho político provocadas por uma minoria, possam terminar com brevidade para evitar transtornos para toda a população", disse, em nota, o presidente do sindicato dos postos do Distrito Federal, Paulo Tavares.

Além do Distrito Federal, sindicatos dos três estados da região Sul, de Minas Gerais e do Pará informaram que já há postos sem combustíveis.

O Rio de Janeiro também vê dificuldades com a entrega de etanol anidro e restrições a entregas por distribuidoras. A entrega do biocombustível depende da Rodovia Presidente Dutra, uma das primeiras a ser bloqueada.

O presidente do sindicato local, Manuel Fonseca, diz, porém, que ainda não há relatos de falta de produtos em postos do estado.

No Mato Grosso, o sindicato local de postos também acusa recebimento de quantidades menores do que as pedidas às distribuidoras, pela questão da manutenção de estoques de segurança.

O sindicato que representa os postos do Rio Grande do Sul, o Sulpetro, diz que não há um problema sistêmico, mas que há relatos de postos sem produtos. A entidade vê risco na renovação dos estoques quando as rodovias forem totalmente liberadas, já que os postos precisarão comprar grandes volumes.

O presidente da entidade, João Carlos Dal’Aqua, diz que a corrida aos postos gerada pelo temor de falta ajudou a ampliar o problema. "Os postos, de maneira geral, já têm estoques baixos e isso ocasionou uma dificuldade", diz ele, alertando para dificuldades mesmo com a reabertura das estradas.

"Não tem como um posto abastecer imediatamente seus tanques, tanto por uma questão de tancagem quanto por questão financeira", afirma. "Se ele vende muito, vai precisar de mais capital de giro, porque compra combustível a vista e vende a prazo".

Em São Paulo, o Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo) diz que ainda não recebeu "volume significativo" de reclamações sobre falta de produtos, mas que acompanha a situação com "muita preocupação".

"O risco de desabastecimento está atrelado à falta de circulação dos caminhões que fazem a entrega dos produtos nos postos. Se houver o desbloqueio, não deveremos ter problemas mais sérios de desabastecimento", afirma, em nota.

Federação que reúne os sindicatos de revendedores, a Fecombustíveis não fez ainda um balanço da situação. Mas, em nota divulgada nesta terça (1º), pede a liberação das estradas "o mais rápido possível" para que o abastecimento seja normalizado.

"A Fecombustíveis entende que o direito à manifestação não pode estar à frente do bom-senso, podendo causar prejuízos à economia do país e à liberdade de ir e vir dos cidadãos que estão em trânsito", afirma a entidade.

Executivos de distribuidoras de combustíveis ouvidos pela Folha reclamam que falta de atuação do governo, tanto na liberação das estradas como na definição de um plano para acelerar a retomada do abastecimento.

Diferentemente da greve dos caminhoneiros de 2018, por exemplo, nenhum grupo de crise foi criado para discutir alternativas para acelerar ou priorizar as entregas.

Interlocutores do setor veem a situação como especialmente preocupante, porque os atos, que não têm liderança clara e envolvem também a população no entorno das rodovias, podem se intensificar no feriado.

A avaliação é de que só uma fala de Bolsonaro, reconhecendo sua derrota e pedindo o desbloqueio das vias, daria fim às paralisações.

Segundo relatos, emissários do setor já procuraram governadores dos estados mais críticos e no Executivo federal.

Segundo pessoas do setor disseram à Folha, o risco de desabastecimento é maior nos estados de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul —sendo que, neste primeiro, já há relatos de falta de combustíveis em algumas cidades do interior.

Nas redes sociais, também circulam vídeos de filas em postos em diversas partes do Brasil, em especial nesses dois estados. Há ao menos 300 caminhões de combustíveis parados por bloqueios em todo o país, calculam pessoas que atuam na área.

Também há preocupação com o Centro-Oeste, e, em menor escala, com São Paulo.

O IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás), que reúne as maiores distribuidoras de combustíveis do país, ainda não se manifestou oficialmente sobre o tema.

O Minaspetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais) divulgou nota nesta segunda (1) afirmando que postos de algumas regiões apresentam falta de combustível por causa da paralisação de rodovias.

Ao mesmo tempo, no entanto, a entidade pede para que a população não faça uma "corrida aos postos", porque, conforme o sindicato, é isto o que pode agravar o desabastecimento de estoques.

ANP toma medidas para facilitar fluxo de combustível

A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) aprovou nesta terça-feira (1º) uma série de medidas para garantir que os postos de gasolina do país sigam abastecidos, num momento em que bolsonaristas golpistas bloqueiam estradas pelo país por não aceitar os resultados da eleição de domingo (30), quando Bolsonaro (PL) perdeu as eleições presidenciais para Lula (PT).

Na ponta dos estoques, a agência suspendeu as obrigações de manutenção de estoques semanais médios mínimos pelas distribuidoras, já que o produto pode ficar parado nas estradas aguardando a liberação das pistas por mais tempo que o usual.

Visando dar fluxo ao comércio, liberou os revendedores de GLP (gás liquefeito de petróleo, ou gás de cozinha) para vender seus produtos em botijões de outras marcas além das que estão autorizados a comercializar e liberou os Transportadores-Revendedores-Retalhistas (TRRs), companhias que adquirem grandes quantidades de combustível para revenda, a comercializar gasolina comum e óleo diesel diretamente com postos de combustível. Usualmente, só a venda de etanol hidratado é permitida entre as duas partes.

Ainda, quanto à armazenagem, a ANP liberou a cessão de espaço para estocagem dos produtos entre diferentes empresas. Isso permitirá na prática que distribuidoras com muito produto armazenado possam guardar uma parte deles em instalações de outras distribuidoras ou de TRRs.

O objetivo da ANP, segundo nota da entidade, é "facilitar, dentro de suas atribuições legais, o fluxo de produtos entre os locais de armazenamento e o consumidor final."

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