Citi vê crescimento fraco, mais tributos e Brasil como 'peça bonitinha' para capital especulativo

Instituição não espera explosão de gastos, mas diz que uso de bancos públicos é tema sensível

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São Paulo

Uma economia global no limiar da recessão, preços de commodities em queda e taxa de juros doméstica elevada são três ventos contrários que vão levar a economia brasileira a crescer apenas 0,3% no próximo ano, segundo projeções do Citibank.

A instituição também avalia que o efeito da reabertura da economia sobre o consumo das famílias, fator responsável pelo crescimento acima do esperado em 2022, não se repetirá em 2023. Principalmente diante do alto endividamento dos consumidores.

O banco afirma ainda que os fatores responsáveis por uma desaceleração da economia brasileira que já está em curso desde o terceiro trimestre continuarão a contribuir para uma inflação menor, de 4,5% no próximo ano, com um câmbio relativamente estável.

Imagem de Leonardo Porto, economista-chefe do Citi
Leonardo Porto, economista-chefe do Citi no Brasil - Divulgação

O Citi não espera alta de juros no próximo ano, e estima que o BC brasileiro poderá começar a reduzir a taxa básica em agosto, dos atuais 13,75% para 10,5% ao ano em dezembro.

Apenas uma pressão inflacionária trazida por uma nova disparada no preço do petróleo ou uma desvalorização cambial expressiva, por exemplo, poderiam mudar o plano do Banco Central de reduzir a Selic no próximo ano, segundo a instituição.

"Se o BC tiver de fazer algum ajuste na política monetária, é um ajuste mais de ‘timing’ do corte e menos de mudança de plano", afirma Leonardo Porto, economista-chefe do Citi Brasil.

PEC da Transição

O risco fiscal é visto como o principal ponto de fragilidade para o país, em um período em que os investidores estão menos tolerantes com essa questão.

Porto avalia, no entanto, que o governo Lula deve promover um gasto total de R$ 300 bilhões nos próximos quatro anos que não serão financiados por aumento de carga tributária.

O banco trabalha com a volta dos tributos federais sobre combustíveis em janeiro. Cita ainda a possibilidade de alta do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), de uma reforma tributária com aumento de carga e cortes de benefícios fiscais.

Para ele, um patamar de gastos não financiados por tributos decrescente no próximo mandato presidencial pode ser suficiente para manter os preços de ativos, como câmbio, próximos do patamar atual. Ele projeta essa despesa extra em R$ 150 bilhões no próximo ano, R$ 100 bilhões em 2024, R$ 50 bilhões em 2025 e zero em 2026.

"O que importa para a dívida é o que não está financiado. Os outros [gastos] só vão acontecer se tiver receita extraordinária. Não impacta na dívida", afirma o economista.

A dívida bruta do governo deve passar de 76% do PIB neste ano para 81% em 2023 e continuar subindo até quase 90% ao final do próximo mandato, na projeção do banco.

Os riscos de mais gastos via empresas públicas podem mudar esse cenário. "A atuação de bancos públicos provendo crédito de forma subsidiada é um tema bem sensível do ponto de vista dos mercados. Está todo mundo monitorando."

‘Peça bonitinha’

Eduardo Miszputen, chefe de Global Markets do Citi no Brasil, afirma que o mercado financeiro deve continuar volátil no próximo ano, mas que o país pode se beneficiar temporariamente da entrada de capital estrangeiro no começo de 2023.

"A gente vai virar o ano e começar a ver um cenário local um pouco mais estável, com menos imprevisibilidade. Talvez isso traga uma onda positiva. As pessoas vão começar a olhar para ver se não tem uma oportunidade de ganho pontual. Talvez seja um mercado mais de ‘trade’ de curto prazo", diz o executivo.

"Nesse ambiente, o Brasil pode se tornar a peça bonitinha da equação, e a gente ter um período de atração de capital internacional, principalmente especulativo."

Miszputen diz também que, no ano que vem, a renda fixa continuará a atrair muitos investidores e que não vê um movimento de migração de volta para a renda variável.

O Citi prevê uma desaceleração do crescimento global de 3% neste ano para 1,9% em 2022. Sem o efeito China, o avanço fica próximo de 1%. Os dois patamares são considerados o limiar de uma recessão global não sincronizada, que atingirá primeiro a Europa e, depois, os EUA.

A inflação global deverá alcançar um pico de 7,2% neste ano e recuar em 2023 para 5,6%, com os países desenvolvidos ainda subindo suas taxas de juros.

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